Preso e livre
As providências que Lula e o PT passaram a tomar nos últimos dias devem assegurar ao ex-presidente as condições para manter o nome em evidência e na corrida ao Planalto, mesmo após a sua eventual prisão. Lula está gravando vídeos, lança hoje um livro; até ser preso ele já terá preparado farto material para alimentar a campanha sem sua presença física. E não haverá como impedi-lo na cadeia de se manifestar através de outras pessoas e correspondência, gerando novas mensagens eleitorais. Concretamente, o ex-presidente pode ser preso em corpo. Mas a sua voz e ideias continuarão a circular livremente na sociedade, dentro das regras atuais no país.
Ônus e bônus
A campanha de Lula ficará mais difícil operacionalmente e exigirá muita criatividade do partido e do marketing se ele for preso e perder a condição de se mover. Mas, por outro lado, as atenções do eleitorado estarão garantidas: um candidato prisioneiro é inusitado demais para ser ignorado.
Troca de palanque
A partir de semana que vem haverá dissidências no DEM. Com a chegada de Pacheco ao partido para se lançar ao governo, a deputada Ione Pinheiro vai se mudar para o SD e para o palanque do irmão Dinis. Ela deve levar junto vários prefeitos. Esse tipo de rearranjo será intenso nas próximas semanas com a ‘janela’ para troca de partidos até o dia 7 de abril.
Partido-peneira
Dissidência não é um problema só no DEM. A filiação de Rodrigo Pacheco ao partido resulta de uma defecção no MDB e na base aliada do governo Pimentel. No PSB de Marcio Lacerda é visível a oposição interna de Júlio Delgado. Olhando de perto, veem-se rachaduras por toda parte. O partido-peneira, cheio de furos e dissensos, virou uma regra no sistema.
Tubos x trilhos
Um engenheiro escreveu lembrando que no início da obra do mineroduto da Anglo American foram apontados em debates os inconvenientes do projeto: a grande distância da mina até o porto no Rio, exigindo vários recalques no percurso; o alto poder abrasivo das partículas de minério resultante do atrito na tubulação, processo agravado pela pressão do bombeamento, comprometendo a durabilidade e segurança da estrutura; e o grande consumo de água, um recurso escasso, para mistura ao minério. Por outro lado, “a ferrovia é o meio universal mais adequado para o transporte de minério”, acrescentou o leitor.
Eike e Carroll
A coluna respondeu ao leitor que nunca se explicou a opção por mineroduto, quando a ferrovia seria mais útil ao Estado e ambientalmente correta. A opção foi do idealizador Eike Batista, um megalomaníaco envolvente que enganou muita gente, incluindo a ex-presidente da Anglo, Cynthia Carroll. Ela bancou a compra da operação Minas-Rio por preço acima do mercado e depois foi enxotada pelos acionistas – tudo noticiado aqui. Lá de Londres, comprou-se o projeto tal como concebido pelo alucinado Eike. Na época da queda de Carroll, quando os acionistas se deram conta do mau negócio, e dos erros do projeto, não quiseram voltar atrás; fizeram as contas e perceberam que teriam mais perda recuando do que seguindo em frente.
Rebecca Macedo, Carina Oliveira e Jacqueline Andrade.
Sinal vermelho
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, defendeu enfaticamente a candidatura de Marcio Lacerda ao governo de Minas, que chamou de uma “prioridade” do partido, durante conversa na terça-feira com colaborador da coluna em Brasília. O cacique não falou sobre as tratativas entre o PT e o PSB em Pernambuco. Mas indicou não ser favorável à exigência petista de que o seu partido deixe de lançar Lacerda para apoiar Pimentel em Minas em troca do apoio do PT ao pernambucano Paulo Câmara.
Nova heroína
A execução cruel de Marielle Franco no Rio deu ao PSOL e seus candidatos, entre eles o presidenciável Boulos, um inesperado e poderoso trunfo eleitoral: uma vítima negra e mulher para simbolizar suas bandeiras. Agora o partido se identifica com uma vereadora que está sendo transformada pelas circunstâncias trágicas de sua morte em uma nova heroína social.