A noite já tinha caído, e o calor ainda estava de matar. O dia seguinte era de trabalho, mas quem iria conseguir ficar bem em casa sem ar-condicionado? O jeito era tomar uma cerveja gelada para relaxar e tentar espantar a alta temperatura. O amigo da firma convidou. Sempre saíam juntos quando podiam. Trabalhavam na mesma empresa havia oito anos. E, no período, nunca ocorreu um dia de discórdia de fato. Ao contrário, os dois se entendiam bem sobre os relatórios e projetos profissionais. E também trocavam confidencias familiares vez ou outra. Na maior parte das conversas preferiam falar de trabalho, da economia, de amenidades e do “sagrado” futebol.
Só torceram a cara um para o outro, pelo que se lembram, na ocasião em que o Atlético foi campeão da Libertadores. Aí também já era demais. O colega atleticano exagerou nas brincadeiras. O cruzeirense relevou. Zangado, achou melhor deixar as piadas passarem batido para não perder a amizade. A diferença entre os dois era de quase dez anos. O mais velho estava no segundo casamento. O mais novo começou há pouco a vida a dois. Têm muitas afinidades, mas, como todos os meros mortais, divergiam nos mais variados temas. Sempre souberam que não combinavam muito quando o assunto era política, mas o fato nunca tinha sido um problema até esta eleição chegar...
Na última terça-feira, a cerveja – aquela que teoricamente ajudaria a espantar o calor – terminou ajudando a ferver os ânimos. Naquele dia, nem se lembraram de que haveria debate entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na televisão. No fundo, quando foram para o bar, na Savassi, também não pretendiam ficar até tarde. Mas, diante do telão, foram ficando e reunindo munição para atacarem um ao outro. Ao longo da noite, os bons amigos chegaram a sentar-se em mesas distintas diante de tantas provocações.
O mais velho não tem dúvidas de que Aécio saiu-se melhor, enquanto o mais novo dá Dilma como a vencedora do embate. Em meio ao conflito, o pró-PT revelou que já não acompanhava os posts do colega aecista a quem tinha bloqueado havia alguns dias: “Não suporto sua visão política”, vomitou. Aí vieram ofensas de todo tipo. De um lado e do outro. Dedos para o alto, tapas sobre a mesa e até palavrões... Enfim, uma cena lamentável. Aliás, assim está a situação. Pessoas que se gostam estão brigando. Nos bares, nas festas de família, nos encontros de amigos.
Há tensão para todo lado. Mas propostas mesmo, ainda estamos aguardando. No primeiro debate, realizado na última terça-feira, foram apenas 7 minutos de projetos para o futuro. Isso mesmo, num total de 1 hora e 20 minutos, apenas 7 minutos. Dilma usou 3 minutos e 35 segundos falando do que quer para o país. Aécio usou 3 minutos e 25 segundos discutindo o que considera ideal para a nação. O blog Olho Neles, do portal O Tempo, cronometrou cada pergunta e resposta de Dilma e Aécio. Doze minutos foram do apresentador. Os candidatos tiveram a sua disposição 34 minutos cada para apresentar suas ideias. Mas o que vimos? Ataques e mais ataques. Verdades e mentiras que, atualmente, dividem um país.
Para os que fazem parte de um dos times, os conceitos já estão determinados, e nada do que for dito vai mudar o rumo dos pensamentos. Sofrem mais, portanto, os indecisos, que pouco têm onde se apegar. Sofrem também os apartidários, que desejam mais perspectivas.
Ah, a quem possa interessar, os colegas da firma terminaram a semana sem se falar e se olhando torto. Acho que vai ser assim pelo menos até a eleição acabar. Em breve, vão dar risada disso tudo. Novas cervejas virão. E quem vencer será cobrado.
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