Então os tiros perturbadores cessaram. Mas depois vieram os gritos, o desespero. Uma agitação incrédula na alma. Em seguida, chegou a dor. Arrebatadora. Cruel. De novo, para quem viveu para contar, mais tiros, acompanhados de explosões e mortes. Intolerância. O ódio refaz um clico de vingança de um homem que nem sabe mais ao certo quem é. Está perdido dentro de si mesmo, superando seu próprio abandono. De longe, ele vê a paz que tanto deseja. Mas se sente sem força para buscá-la. O rancor está mais perto e ainda está cercado de atrativos. Envolvente e manipulador. Então, o homem só almeja a paz. E, distante, sofre.
Chora quem teve a paz arrancada, levada abruptamente pela lama. Escorrem, agora, até o mar, a vida calma no vale entre as montanhas, as conversas serenas, as noites tranquilas, a simplicidade das relações... Também de longe, porém do alto, alguns viram quando a paz afundou. Veio à tona, tornou a sumir. Foi obrigada a ir, seguiu o fluxo do desastre. Não sabem se vai voltar. Mas a almejam. Sofrem por pensarem onde ela está agora. E a incerteza trouxe a dor. Outra dor. A dor do descaso, que levou embora a calmaria. Trouxe a revolta e também o medo. Dúvidas rodam agitadas. E já instalou-se uma saudade enorme, dessas que podem não mais sair do peito.
O mundo anda “escuro”. Cresceram as penumbras. Aumentaram os abismos e as controvérsias de como se encontrar a cobiçada paz. Instalou-se uma grande confusão. E também os ataques. As pessoas discutem qual o tamanho de cada dor, argumentam sobre o peso de cada tipo de violência. Como se dor e violência pudessem ser medidas ou pesadas... É triste ver gente que busca a paz e defende a solidariedade cada vez mais afastado de ambas. Muitos dos que se dizem defensores da harmonia usam argumentos antidemocráticos e meias verdades.
Mas qual é a paz que cada um quer? Ela está dentro de nos mesmos? Tão perto e tão perdida? Não há respostas precisas. Elas são individuais e abstratas. No entanto, extremamente necessárias para traçarmos novos caminhos. Sequências ou até recomeços. Talvez o encontro com a paz esteja nas próprias escolhas. De quem deseja ser, sobre quais valores irá colocar em prática. Opte, então, pelo mais leve, pelo que acalma sua alma. Quem sabe possa transformar a si mesmo e aos outros pela energia do amor, pela simplicidade e pelos atos de gentileza.
Hoje buscar a paz é ato corajoso em meio a tantas tormentas. Até porque paz não é singular. Há uma pluralidade de pazes. Importante mesmo é disposição para buscar, para escutar, para aceitar as diferenças, embora, às vezes, elas sejam como abismos e despertem tanta repulsa. Pode demorar mais tempo para uns do que para outros, mas é necessário redescobrir a vida longe da ganância, distante da maldade, além da violência.
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