Aécio Neves não foi “o primeiro”, como disse em tom jocoso certa vez Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, em áudio bisonho com Romero Jucá em que conspiravam contra a Lava Jato. O tucano, porém, é sem dúvida uma das maiores vítimas da Lava Jato e um dos cadáveres políticos gerados pela maior operação de combate à corrupção da história do Brasil. Ao seu lado, nesse patamar dos esmagados pela investigação, talvez só estejam os emedebistas fluminenses Eduardo Cunha e Sergio Cabral, ambos presos e multidenunciados por falcatruas de toda espécie.
Outro grande troféu da Lava Jato, Lula, igualmente acusado, mas já condenado e detido em Curitiba, resiste vitaminado por uma militância fanática e um discurso construído com base em dois mandatos presidenciais. Continua ao menos dando cartas em parte da esquerda, ainda que inviabilizado eleitoralmente.
Assim, tem-se a surreal situação em que Aécio solto está infinitamente mais fraco que Lula preso. Isso se dá porque os caminhões de denúncias conseguiram afastar praticamente todos os seus aliados, envergonhados até mesmo com uma foto ao lado do antigo correligionário. Denúncias geram falta de perspectiva de poder e, consequentemente, isolamento político. Enquanto Lula percorreu metade desse caminho, Aécio já parece ter chegado ao fim dele.
Aécio tem todo o direito de se defender e dar suas versões para cada uma das acusações que são feitas. Só ontem foram quatro: Joesley Batista citou uma mesada mensal de R$ 50 mil, e doações eleitorais irregulares na casa de R$ 110 milhões; Sérgio Andrade apontou propina de R$ 35 milhões e Osmar Serraglio relatou a tentativa de interferir em investigações da Lava Jato, por meio da pressão para indicar um delegado para seu caso. Os dois primeiros são delatores, mas o terceiro não é.
Há indícios bem mais difíceis de explicar que as provas testemunhais. Um áudio pedindo R$ 2 milhões, uma foto da mala de dinheiro que seu primo recebeu, uma declaração de que “mataria antes de fazer delação”, e um papel escrito “cx2” em sua casa, para ficar nas mais importantes. Ainda que consiga desqualificar esse arsenal de provas que tem o Ministério Público Federal e a Polícia Federal nos tribunais, onde muitas vezes questões técnicas costumam garantir tábuas de salvação aos quase afogados, muito mais difícil será fazê-lo junto à opinião pública.
Se vaidade ou erro de avaliação o fizerem insistir na disputa por uma vaga no Senado, Aécio tende a perder a eleição, o foro e a liberdade muito rapidamente. Se o juízo lhe der um caminho mais modesto, como o sonho de um lugar na Câmara dos Deputados, a tendência é a de que ele tenha alguma chance.
Mas parece óbvio imaginar que se equivoca quem pensa que, uma vez eleito, ele poderá reconstruir sua carreira política. Aécio deputado passaria longe de metas audaciosas, como a Presidência da Câmara, como alguns de seus correligionários chegaram a aventar. Se conseguir driblar o massacre de delações, depoimentos espontâneos, inquéritos, denúncias e processos, tende mais a se tornar um desses parlamentares famosos por usar o cargo apenas para evitar uma condenação mais rápida nos tribunais. Paulo Maluf sempre foi exemplo disso, mas até para ele o momento de acertar as contas com a Justiça chegou. Aécio tem motivos para se preocupar.