Ontem, a Associação Paulista de Magistrados (Apamagis) declarou apoio ao juiz José Eugênio do Amaral Souza Neto, que não viu estupro, violência ou constrangimento e soltou um cidadão que ejaculou em uma passageira de ônibus em São Paulo. O agressor tem outras 16 passagens na polícia pelo mesmo crime. Para a entidade, o magistrado tem sido “atacado de maneira vil e covarde na imprensa e em redes sociais”. A postura chocante da Apamagis, porém, já era esperada, tendo em vista o corporativismo que impera hoje no Brasil e que tem destruído nossa democracia.
Todos os dias temos visto demonstrações de valores distorcidos pela sina do corporativismo. Não fosse assim, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconhecem abusos na atuação de Gilmar Mendes já teriam vindo a público condená-lo. Não fosse assim, a presidente da Corte já teria pautado o pedido de suspeição do colega, e os outros integrantes do plenário já o teriam tirado dos casos relacionados a seus amigos.
Por espírito de corpo também, nossa classe política evita jogar às cobras deputados e senadores envolvidos em escândalos de corrupção. Os Conselhos de Ética não funcionam, e o cidadão só perde o cargo quando já está preso ou sem qualquer prestígio político. E, mesmo assim, apenas no voto aberto, pois no fechado todos preferem salvar a pele do semelhante para defender a classe.
Não é diferente do que fazem associações do Ministério Público e da Polícia Federal, que se engalfinham não por buscarem maior eficiência no combate à corrupção, mas por mais poder na estrutura de investigações hoje no Brasil. De um lado, as polícias têm lutado sistematicamente para tirar dos procuradores o poder de investigar. Em contrapartida, é intransigente a postura do MP ao tentar impedir que delegados federais firmem acordos de delação premiada com acusados. Tudo em nome do corporativismo.
Se o desejo de um país melhor falasse mais alto, advogados estariam unidos não em torno de ataques à operação Lava Jato, mas em debates sobre mudanças em nossa legislação penal e em nosso sistema de Justiça, que garantissem processos mais ágeis e efetivos.
No serviço público, qualquer medida que vise economizar recursos com impacto nos benefícios dos servidores esbarra na pressão dos sindicatos. Em alguns setores, a união e a força com que se articulam em defesa de interesses de classe são tão amplas que inviabilizam qualquer mudança, ainda que seja evidentemente necessária.
Assim é, por exemplo, com os militares, que se aposentam mais cedo e com melhores condições que a maioria dos trabalhadores. É por força do corporativismo militar que Michel Temer não mexeu na aposentadoria das Forças Armadas e, também por isso, a reforma da Previdência apresentada ao Congresso penalizou muito mais o contribuinte comum. Para compensar o rombo gerado por benefícios mantidos a uma classe, todas as outras terão que trabalhar muito mais.
Quando se fala da necessidade de alguém que una o Brasil e não se enxerga um candidato a esta altura para 2018, não é apenas pela má qualidade dos nomes até agora colocados para a disputa. É também pelo fato de que nossa sociedade está longe de se unir por qualquer coisa que não seja um interesse de pequenos grupos. Assim, não há eleição que resolva.
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