Em 1992, quanto tinha apenas 11 anos, fui às ruas para participar de manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Com uma faixa preta em que se lia a expressão "Passando Brasília a limpo", feita por meu irmão mais velho, eu e um amigo de escola saíamos mais cedo da aula no Instituto Estadual de Educação de Juiz de Fora para percorrer as ruas da cidade em manifestações diárias e espontâneas que ocorriam naquele momento. Ali, eu tinha a certeza de que minha luta de criança serviria para moralizar o país. Eu seguia política como adulto, lendo e acompanhando noticiários do tema com os olhos arregalados, mas tinha a ingenuidade de uma criança de 11 anos.
Hoje, quando vejo que milhões de pessoas foram às ruas apostando que a queda da presidente Dilma Rousseff (PT) mudaria o quadro de corrupção sistemática vigente no país, enxergo ali um pouco daquela crença inabalável de que era possível mudar, mas também a ingenuidade da criança que eu era em 1992. Para elas, por vários motivos e, acima de tudo, pela velocidade como as informações são reveladas, a desilusão deve ter vindo mais rápido.
Não há como não imaginar que tinham ficado profundamente frustrados e constrangidos com a divulgação de áudios em que políticos tramam escapar da Lava Jato utilizando o impeachment como tábua de salvação. Ainda que a estratégia tenha sido frustrada e que o governo anterior, igualmente, tivesse integrantes dispostos a idêntica obstrução da Justiça, como outros áudios já demonstraram, a mudança de governo era uma esperança de tempos melhores para muita gente.
Acontece que, de lá para cá, ao contrário do que foi o período de Itamar Franco, o governo Michel Temer deu muito mais motivo para vergonha do que para orgulho. Nomeou sete investigados na Laja Jato para ministérios, ignorou a diversidade social na composição de seus quadros, recebeu como conselheiro na educação um ator que gargalhou na televisão revelando ter praticado estupro e, principalmente, passou a mão na cabeça de um aliado que conspirou contra as investigações hoje realizadas no país.
Romero Jucá disse a Sérgio machado que Michel Temer assumiria o poder para ajudar os políticos a se livrarem da Lava Jato. Disse que, com o peemedebista, ocorreria um acordo para que todos escapassem e que a troca de governo era fundamental para isso. Alguém pode dizer que Jucá não fala por Temer e que os fatos ocorridos na sequência comprovam que não houve sucesso de uma operação abafa. Mas preocupa que a reação do presidente não tenha sido de indignação. Temer parece legitimar o que Jucá diz ao não reagir de forma enfática, ao preferir protegê-lo, ao dar-lhe uma saída honrosa e ao sair por aí elogiando seus serviços. Como pode um presidente enfatizar a "dedicação" e o "trabalho competente" de ministro que disse o que todos ouviram? Temer disse contar com Jucá auxiliando o governo no Congresso "de forma decisiva, com sua imensa capacidade política". Se isso não é uma confissão velada, não sei o que seria...
Após a revelação do ex-deputado Pedro Corrêa, que citou mais de 120 políticos supostamente envolvidos em maracutaias, confessou receber propinas desde a década de 70, de mais de 20 órgãos de governo, fica claro que só a Lava Jato salva..