Comandar um governo atolado em denúncias de corrupção e com dificuldades para sair de uma crise de arrecadação, gerada por uma persistente estagnação da atividade econômica no Brasil, já não é tarefa fácil. Mas Michel Temer e sua trupe não fazem nenhum esforço para tornar a tarefa ao menos possível. Episódio após episódio, a atuação dos responsáveis por gerir a estratégia do governo desvenda trapalhadas cada vez maiores.
A decisão de ampliar os impostos da gasolina, gerando um aumento de R$ 0,41 por litro, já é, por si só, intragável para o já demasiadamente esfolado contribuinte brasileiro. Da forma como foi anunciada, porém, prolongou o desgaste do governo. Primeiro, houve o vazamento da notícia. Depois, uma expectativa de aumento menor para, ao fim da agonia, ser anunciado que a mordida seria mais dolorida do que se esperava.
O timing para o anúncio do aumento não poderia ser pior. Às vésperas da votação da denúncia por corrupção passiva, e em meio à polêmica da liberação generosa de emendas parlamentares e de cargos diversos na máquina pública, empurrar goela abaixo do cidadão um aumento de cerca de 10% no preço do combustível é, ironicamente, como jogar gasolina no fogo.
A decisão deixa também a base aliada de Temer com o constrangimento de ter de explicar a incoerência de votar a reforma trabalhista e defender a reforma da Previdência com a justificativa de que eram alternativas a um aumento de impostos para, agora, ver que uma coisa não estava exatamente ligada à outra. Ainda que no silêncio do recesso não tenha havido chiadeira entre aliados, Temer pode dar como certo que perderá votos na sessão de 2 de agosto. Se havia de fato parlamentares em dúvida, já devem agora estar pensando em como será difícil defender ao microfone um governo que desagrada a toda a sociedade, à exceção do ministro da Fazenda.
Temer, que nunca teve apoio popular, contava ainda com a boa vontade da elite empresarial brasileira, que, a despeito de todas as denúncias contra o presidente, enxergava a estratégia das reformas como um caminho correto para destravar investimentos e fazer a economia andar para a frente. Parte desse caminho já havia sido trilhada, com a redução da inflação e uma trajetória decrescente das taxas de juros. Mas a volta do pato amarelo à frente da sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que esse apoio começou a se esfarelar com a medida anunciada nesta semana. A menos de dez dias de uma votação que decidirá o futuro do governo, não é pouca coisa.
Dito isso, é bom reconhecer que grande parcela da oposição, que hoje surfa na onda da insatisfação geral com o tarifaço de Temer, defendia até há pouco tempo a volta da CPMF, quando o governo ainda era ocupado por Dilma Rousseff. Evidentemente, a gestão petista teve enorme responsabilidade pelo rombo que obrigou um aumento de impostos, mas já sabemos que não é possível pedir coerência de nenhuma das tradicionais correntes políticas no Brasil atual.
Sendo assim, o aumento nos impostos da gasolina, além de não resolver o problema das contas do governo e ampliar a pressão pela saída do presidente, ainda tende a dar energia para qualquer candidato que, em 2018, represente o oposto do governo atual. Isso, é claro, se o presidente já não for outro até lá.
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