Muito ainda se vai discutir, até o início da campanha presidencial de 2018, sobre qual o potencial de votos que o deputado federal Jair Bolsonaro pode alcançar, quando for conhecido por uma parcela mais considerável da população. Hoje, segundo o Ibope, mais de 40% não o conhece o suficiente. Apenas 17% do total dos eleitores pesquisados (menos de 30% do total dos que o conhece) cogita votar nele. Se os que não o conhecem, quando passarem a ter mais informações sobre ele, fizerem uma escolha na mesma proporção dos que já o conhecem, ele pode alcançar algo próximo de 28% a 30% dos votos. Um índice expressivo e capaz de, em uma eleição pulverizada, levá-lo ao segundo turno.
O problema de Bolsonaro é que, em uma campanha, seus adversários devem explorar mais fortemente fatores que seu eleitorado não deve conhecer tão profundamente. Para efeito de análise, pego a estratificação da pesquisa feita pelo instituto Paraná entre os dias 31 de março e 5 de abril. Os dados foram coletados apenas em Minas Gerais, mas, considerando-se que o Estado costuma ser, eleitoralmente, um resumo do Brasil em todas as eleições presidenciais, trata-se de um bom parâmetro.
Os dados mostram onde estão os eleitores de Bolsonaro. No geral, ele alcança 16% (contra 20,2% de Lula e 18,4% de Aécio). Porém, entre os pesquisados de 16 a 24 anos, Bolsonaro alcança 30,2% dos votos. Quase dez pontos a mais que Lula (20,5%) e quase o dobro de Aécio (16,5%). Tais eleitores fazem parte da geração pós-impeachment de Collor. Nasceram entre 1993 e 2001 e, portanto, vivenciaram apenas a era petista no poder, iniciada em 2003. Mesmo os mais velhos dessa geração tinham no máximo 10 anos quando Lula assumiu o poder.
Tal geração, portanto, não conheceu uma alternativa de poder na Presidência que não a esquerda desbotada representada por Lula e Dilma. Buscam na extrema-direita algo mais distante possível do que viveram. Soma-se a isso o fato de não terem vivido nem o período ditatorial, nem mesmo os ecos daqueles tempos, fortemente lembrados nas décadas de 1980 e 1990, quando o sentimento de repulsa a um período negro da história brasileira era quase unânime. Tal geração nasceu em outros tempos, quando já há gente com coragem suficiente para ir para a rua defender uma intervenção militar. Um devaneio é fruto de forte desilusão e descontentamento com governos democráticos corruptos e ineficientes.
Bolsonaro, portanto, fortemente identificado com esse tipo de pensamento, beneficia-se do fato de esse eleitorado mais jovem não ter vivido as agruras de outros tempos. Além disso, ninguém melhor que um eleitor entre 16 e 24 anos para comprar um discurso radical como o do deputado federal. Jovem mede pouco as consequências, é extremista e pondera pouco. O discurso de Bolsonaro se encaixa perfeitamente em uma cabeça assim.
A experiência, a vivência de diferentes momentos da história brasileira e a percepção de que as crises são intercaladas por momento de razoável êxito jogam contra Bolsonaro. Quanto mais velho é o eleitor, menos votos tem o deputado: 21,5% entre os eleitores de 25 a 34 anos; 13,4%, entre os de 35 e 44 anos; 11,8% entre os de 45 e 59 anos; e 6,8% para quem têm 60 anos ou mais. Não é por acaso.