A França redescobriu Bordeaux. A cidade tem passado por constantes revitalizações, que culminarão com a inauguração do enorme e arrojado museu do Mar e da Marinha, em 2016, celebrando a antiga vocação da cidade de ser um porto aberto para o mar pelo rio Garonne.
Com destaque em todo o país (capa do “Le Figaro”), a Fête le Fleuve aconteceu entre o fim de maio e o começo de junho. A cidade realizou um grande evento com competições náuticas, desfile de barcos – que virão para as Olimpíadas no Rio –, travessia a nado no rio Garonne e uma degustação, no último dia 30 de maio, de 120 vinhos grand crus classés.
O evento foi histórico. Aberto ao público (normalmente é para compradores), permitia a degustação com os produtores de cada château, além da comparação entre os vários terroir de regiões de norte a sul, das margens esquerda e direita dos rios Garonne, Dordogne e Gironde.
Para quem gosta ou estuda vinho, a degustação permitiu comparar as sutis diferenças entre o estilo elegante de um margaux, o grafite e a estrutura de um pauillac, o meio-termo entre estes dois estilos de um saint-julien e os estilos mais aveludados de pomerol e saint-émillion.
Bordeaux vive das divisas geradas pelos seus vinhos. Visitas a vinícolas e as pequenas cidades que as sediam são fáceis de serem feitas, com exceção das que não recebem visitantes, como os Château d’Yquem e o Château Haut-Brion, ambos no topo da famosa lista demandada por Napoleão III para a classificação dos vinhos da região em 1855.
Uma das melhores visitas está no Château Mouton-Rothschild, administrado até o ano passado pela baronesa e ex-atriz Philippine de Rothschild, falecida recentemente. Uma visita ao château vai além da experiência da degustação. A família Rothschild tem tradição na relação com a arte e a cultura, exibindo, além de um museu com objetos seculares originais de povos diversos, itens relacionados ao vinho, como uma mostra do original de seus rótulos anualmente desenhados por artistas plásticos, como Picasso, Chagall, Andy Warhol, Francis Bacon, Keith Haring e até o príncipe Charles.
Gastronomia
Os restaurantes em Bordeaux celebram a cozinha do sudoeste francês, seja de uma forma mais tradicional, como no La Tupina (na pequena rua Gourmande Porte de La Monnaie, onde há também os Kuzina, Le Bar Cave, Le Comestible e Maison Fredon), ou de forma elegante e inventiva, como no ótimo L’oiseau Bleu do chef Fréderic Lafon, e, ainda, de forma simples e bem-feita, como no Fred, do chef Fredéric Coiffé, que depois de passar por cozinhas estreladas em toda a França decidiu voltar às raizes de “comida de vó” num ambiente descontraído.
O recém-aberto bar de vinhos Millésime é o mais descolado da cidade, com os locais que se cumprimentam quando chegam –Bordeaux é uma cidade do interior, embora sofisticada e relativamente grande – , com ótimas opções de tapas (o sudoeste termina na fronteira com a Espanha) e vinhos em taça, inclusive dois dos premiers grands crus classés o château Margaux e o haut-brion, o cheval blanc (€ 60 por 90 ml) e o château d’yquem(60 ml). Animado por um DJ com música de bom gosto, é a casa que fecha mais tarde na cidade, chegado às 2h.
O Lavinal é o célebre restaurante em Bages; Pauillac só é acessível com reservas para quem está na rota da degustação, mas um lanche rápido na Boulangerie Le Comptoir D’Andréa faz a alegria de quem não tem muito tempo para almoçar. Imbatível mesmo é o restaurante da vinícola Troplong Mondot, um premier grand cru classé de Saint-Émillion com comida de primeira e serviço impecável num ambiente sofisticado, além de um terraço com vista para o vale e os vinhedos que convida à celebração no estilo de Bordeaux: com refinamento, austeridade e prazer.