Confesso não ter assistido ao debate entre os presidenciáveis na quinta-feira da semana passada: não aprecio as lutas marciais. Sempre preferi o bailado dos jogos de futebol. E, pelo que pude ler, fiz muito bem. Quem assistiu parece ter apenas presenciado cenas de luta livre entre os candidatos, cada um trazendo na manga do paletó, ou do casaco, a carta escondida com a qual pretendia demolir o adversário.
Um réu confesso – refiro-me ao ex-diretor da área de Abastecimento da Petrobras – acaba de ser agora transformado em herói, a cada momento para um dos lados da contenda, com suas revelações sobre os meandros do desvio de dinheiro público praticado no Brasil, envolvendo distintos cavalheiros ou damas do palco pouco recomendável da arena pública brasileira.
Nada de importante parece ter sido tema para uma discussão de ideias e ideais, capaz minimamente de lançar luzes sobre o que os contendores pretendem realizar para enfrentar os desafios dos próximos anos, que se anunciam sombrios.
Fiquei refletindo sobre meu assunto de sempre: o que a história já nos ensinou e que pode ser por nós aproveitado neste momento?
Infelizmente, à minha memória só acorreram episódios que precederam, sobretudo, a Segunda Guerra Mundial: sem dramatizar, hordas de vândalos, cada um se supondo detentor da verdade eterna, massacrando-se uns aos outros nas ruas de Roma e de Berlim. O final – pouco feliz – todos conhecem quando a carnificina deixou de ser localizada aqui ou ali e arrastou todo o mundo aos confrontos nas batalhas que ceifaram tantas vidas, criaram campos de trabalho forçado e chuveiros que despejavam gás sobre pessoas indefesas.
Penso que, nesse ambiente que vai se consolidando entre PT e PSDB (e que não vem da disputa atual, mas há anos está sendo alimentado nos breus das tocas, nas esquinas da vida), ninguém sairá ganhando.
O Brasil não vai crescer um milímetro em qualidade de vida, em mesa farta para todos, em educação aprimorada, em saúde adequadamente cuidada, a tempo e a hora, se tudo não for revisto entre esses partidos que a história acabou trazendo para a ribalta a esta altura do século XXI. Quem anda preocupado com a sustentabilidade de um desenvolvimento que não repita a triste e trágica cena do campo dividido em duas partes irreconciliáveis? Quem vai cuidar de que os ricos não sejam os únicos herdeiros da Terra, mas dos que sofrem na pele a miséria das epidemias de ebola, malária, febre amarela – seja qual for a desgraça que visita diariamente a casa dos pobres neste mundo –; quem vai cuidar de quem?
Fica-me na boca o desgosto de não poder conviver com o diferente, com o que me causa espécie à primeira vista, em não poder apertar as mãos de tantos bons e honrados petistas ou peessedebistas e junto com eles tentar construir dias melhores.
Esta é a última semana da disputa: ainda é tempo de construir um final menos infeliz.
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