As últimas décadas foram o tempo do enorme aumento dos megaeventos e das transações nebulosas ligadas ao futebol e também das propinas e da corrupção. O esquema é muito parecido com o descoberto pela operação Lava Jato. A investigação vai se aprofundar e chegar às perniciosas relações comerciais no futebol brasileiro, protegidas, durante esse longo tempo, pelo álibi de que são entidades particulares.
O empresário J. Hawilla, antigo parceiro da CBF, que era repórter na época em que eu jogava, confessou a culpa e já está pagando quase R$ 500 milhões, para diminuir a pena. Já imaginou o quanto deve ter faturado?
Em 1999, quando trabalhava na TV, cheguei ao Paraguai, junto com os companheiros, para fazer a cobertura da final da Copa América, entre Brasil e Uruguai. O Brasil foi campeão, e Luxemburgo era o técnico. Havia um enorme tumulto no hotel que hospedava o time brasileiro, dirigentes, empresários, imprensa e torcedores. Não dava nem para chegar à recepção. Apareceu J. Hawilla e disse que qualquer problema ele resolveria, com o jeito de era dono da competição, do hotel, do futebol e do mundo. Por causa da globalização e da frequente associação de empresas, pensei, na época: “Será que ele é meu patrão, e eu não sei”?
Enquanto isso, a bola rola. Em minha tentativa de entender a queda do futebol brasileiro, lembro que o Brasil sempre teve, desde os anos 1950, excepcionais laterais, que se destacaram pelo talento e pelo apoio ao ataque, como Nilton Santos, Carlos Alberto, Roberto Carlos, Júnior, Jorginho, Leandro e tantos outros. Os adversários estudavam como marcá-los. Tornaram-se uma marca de qualidade do nosso futebol.
Como há sempre outro lado, por causa dos laterais, os times passaram a ter um volante de cada lado, para fazer a cobertura, além de um terceiro, à frente ou entre os zagueiros. Criou-se uma grande dependência ofensiva do avanço dos laterais e de um único meia-de-ligação. Além disso, proliferaram os volantes brucutus, que só desarmavam, e os laterais medíocres, que só corriam e cruzavam a bola na área.
Desapareceram a troca de passes, as triangulações, os dribles e as tabelas. A saída de bola da defesa passou a ser feita por chutões. Com isso, aumentou muito o número de meias e atacantes velozes, mas sem técnica e lucidez. Predominavam os lances individuais, isolados, esporádicos. O excesso de passes errados não é apenas por falta de técnica, mas também pela pressa de jogar a bola para frente, na área, para o companheiro marcado. A bola ia e voltava.
Nos últimos anos, vários treinadores, com novas ideias, tentam mudar, mas encontram grandes dificuldades, por causa dos vícios acumulados ao longo do tempo. Além disso, muitos sabem o que fazer, mas não sabem como fazer.
As atuações das equipes na Libertadores mostram o equilíbrio e o baixo nível técnico, com exceção do baile que o River Plate deu no Cruzeiro, após tantos jogos ruins do time argentino. O mediano Rafael Sóbis é o grande destaque do Tigres, do México, um dos quatro semifinalistas. Como diria José Trajano, parei!
Fracasso
O principal motivo da derrota acachapante do Cruzeiro foi a falta de qualidade técnica, além da ótima atuação do River Plate. O Cruzeiro se limitou a dar chutões e a fazer lançamentos longos. A bola ia e voltava. Já o River agrupava os jogadores, trocava passes e envolvia o adversário. Mais uma vez, ficou evidente a falta de um armador no Cruzeiro. O time joga com dois volantes que marcam e quatro meias ou atacantes que correm à frente.
Interessante que alguns atletas, após o jogo, como Marquinhos, disseram que faltou raça. Eles mesmos se culpam por uma coisa que não existiu. Deve ser para encobrir a deficiência técnica ou para agradar a muitos torcedores, que colocam sempre a culpa na falta de vontade.