O velho abade disse: “O homem é a sombra de um Deus no corpo de um animal; há os que são amigos do anjo e os que se comprazem com o animal”. O anjo é o lampejo de consciência, porém é a besta que nos arrasta.
Os dois extremos vivem em conflito no campo da personalidade humana. O bom e o mau, o altruísta e o egoísta, o solidário e o aproveitador, o sublime e o perverso ficam permanentemente de vigia. Quanto maior for a bondade inspirada pelo anjo, maiores serão a dedicação e a ferocidade da besta para acorrentá-lo à matéria. Montará tocaia no deserto, no tabernáculo da alma, nos momentos de inspiração, na hora do enlevo; lhe oferecerá de imediato todas as benesses, os ouros, as glórias, os prazeres, sem lhe mostrar o preço de suor, de lágrimas e de sangue.
As leis da vida material fazem com que o indivíduo nasça, em sua natureza animal, escravo da fatalidade, joguete de forças que o dominam, contumaz devedor do destino. Como a folha arrancada da árvore, vai aonde a tempestade decidir levá-lo. Mas é lutando contra os instintos animais que ele poderá vencer a besta, alcançar a liberdade moral, conquistar seu destino, sua liberdade.
Dono de si, não temerá os eventos nem será vítima da fatalidade. Quando as forças se chocam, sabe que a mais forte vence a mais fraca. Não temerá os enfeitiçamentos, nem os deslumbres, nem as influências misteriosas. Encontrando Caim, saberá encarnar a figura de Abel, compreenderá que “a fatalidade da morte é uma felicidade para a pura e santa vítima e uma infelicidade para o assassino”. Ele, pelo martírio, impulsionará sua ascensão divina; o homicida cairá mais ainda nas profundezas. Ninguém herda daqueles a quem assassina; eventualmente assassinando-os, os reabilita.
Ser justo é sofrer por todos; ser mau é sofrer por si mesmo. É chegar ao fim e perder tudo num único instante. Enquanto o justo será eterno em seu esplendor, levantará admiração e devoção, a besta amargará a solidão, a frieza dos homens e o calor do inferno.
Mas piores entre todos não são os bons nem os maus. Segundo o abade, são os indiferentes, os mornos. Totalmente inúteis à vida. “Covardes” que não poderão aspirar à vitória nem servirão de halteres para os bons se exercitarem na santidade.
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