Os partidos geralmente deixam de apresentar e fundamentar programas, ficam nas promessas mirabolantes e, como mágicos, tiram coelhos da cartola.
Mais que mostrar como darão meios de emancipação ao indivíduo, deixando-o soberano de seu destino, enfiam-lhe na cabeça que poderá ficar abrigado debaixo de um paternal sistema público, com pés de barro e cabeça de chumbo.
Promete-se acesso a uma boa educação e ao emprego, sem explicar como se realizarão as façanhas, entregando a obra a pessoas desqualificadas e incompetentes.
Realidade é que o “mágico”, ao alcançar o comando, adota a fórmula de Nero, “panis et circenses”. Quer dizer, “cestas” para matar a fome e “festas no circo”. Copas, Olimpíadas, turnê em palanques. Isso antes de Roma pegar fogo.
Cestas e festas servem unicamente à manutenção de um curral eleitoral para dele cobrar fidelidade a fim de continuar nos palácios.
Para tanto, precisa do confinamento intelectual e social e, mais ainda, de acentuar o sentimento de divisões de toda ordem e de injustiças que o demagogo saberá evitar.
“Nós contra eles”, “bem contra o mal”, sem entender ao certo quem é esse “nós” ou onde reside o “bem”.
Na dança da desinformação, os indivíduos viram presas do populismo, de direita ou de esquerda, em nada muda o quadro.
O “projeto de poder” dura até cair por sua fragilidade e defeitos estruturais.
Provavelmente, o novo governo de Temer não é moralmente mais qualificado que outros, tem elementos que ocupam as mesmas cadeiras que Dilma lhe deu e sérias denúncias de maltrato da coisa pública.
Mas, ao contrário de governos legitimados pelas urnas, este não vai poder se dedicar caninamente ao “projeto de poder” de um grupo. Deverá olhar mais para o bem da pátria do que para seu projeto.
A precariedade e a indefinição da autoridade de Temer levam a usar cada minuto que lhe foi dado pelo destino para procurar avanços e soluções reais.
“Condenado” está a dar resultados, depois poderá pensar o resto.
Como Itamar Franco, que subiu pelo elevador dos fundos com a queda do então presidente Fernando Collor, Michel Temer tem “uma” oportunidade. Esta, ainda mais frágil que a de 1993, sob ameaça de Dilma voltar.
Certamente, Michel está com pouca margem de ação e uma confiança dramaticamente perecível.
Ou provoca uma retomada econômica consistente, e mais empregos, ou dará possibilidade de retornar à “afastada”. Bem por conta dessa ameaça sofrerá a mais determinada oposição e uma onda desta para, quanto pior, ótimo será para Dilma.
A missão quase impossível é dar resultado palpável antes de 18 de agosto, início da campanha eleitoral, quando os candidatos em palanques se apresentarão associando-se a sucessos ou malhando os fracos resultados de Temer.
O rombo herdado exige necessariamente um enorme esforço para preencher a cratera e nela plantar boas sementes de ciclo rápido, quase imediato.
Temer, como afirmou em seu primeiro discurso, deverá trabalhar dia e noite, sábados e domingos, e afinar uma equipe que, além de competente, tenha disposição ao sacrifício de uma missão em terreno revolto.
Torcer contra Temer seria torcer para que a desgraça que desabou sobre o Brasil se ampliasse. Certamente, não é o sentimento que prevalece na nação que espera e torce por uma saída da crise.
Esse é o sentimento do momento. Apoio ao timoneiro que tem a tarefa de tirar o barco da tempestade.
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