A Gabinetona BH iniciou os trabalhos no mês de abril com foco total nas ações de combate à fome, tão urgentes, diante da catástrofe social para a qual nos empurrou a desfaçatez de um governo medíocre, associado a um vírus mortal. É muita dor. Dor pelos que sofrem pela falta de leitos nos hospitais, pela peregrinação de famílias inteiras em busca de ajuda, pelo luto coletivo que tomou conta do nosso país. E agora, para muitos, dói o estômago.
“Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos”, disse Carolina Maria de Jesus, uma mulher preta, favelada, catadora de papéis, que escreveu sobre a miséria e a fome que matou tantos brasileiros há não muito tempo. “O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer”, denunciava.
Avançamos: nas duas últimas décadas, dezenas de milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e conseguiram garantir a segurança alimentar de suas famílias. Comemoramos: por fim, o Brasil finalmente havia saído do mapa da fome! Era a melhor notícia do século!
Eis que veio 2020 e nos trouxe uma pandemia. O auxílio emergencial aprovado pelo Congresso Nacional no começo do ano, embora importante, acabou cedo demais. E a crise sanitária, somada à chamada necropolítica instaurada no poder, nos levou de volta àquele passado não muito distante.
Para piorar, a política econômica desastrosa do mal chamado “superministro” Paulo Guedes fez o custo da vida disparar nesse período. Os alimentos chegaram a ter uma média de alta de mais de 14% em 2020. O preço do arroz, item básico de alimentação dos brasileiros, subiu mais de 76%. Já o desemprego bateu recorde histórico, atingindo mais de 14,3 milhões de pessoas.
Os efeitos desses números na vida das pessoas pobres são devastadores. Segundo dados da Fundação Getulio Vargas, 12,8% dos brasileiros passaram a viver com menos de R$ 246 ao mês, ou R$ 8,20 ao dia, somente em janeiro de 2021. Isso significa que hoje mais de 27 milhões de brasileiras e brasileiros estão abaixo da linha da pobreza ou que 27 milhões de cidadãos vão dormir com fome esta noite.
Em Belo Horizonte, embora a prefeitura tenha tomado medidas como a distribuição de cestas básicas, elas não foram suficientes para evitar que houvesse um aumento de 3% no número de pessoas em extrema pobreza, saltando de 59.891 em março de 2020 para 61.734 em dezembro do mesmo ano. Algo precisa ser feito.
Nós, da Gabinetona BH, defendemos que seja implementado um auxílio emergencial municipal para as famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, e já estamos estudando o melhor caminho para propor uma renda básica emergencial para Belo Horizonte. Vale lembrar que a cidade já possui uma política de segurança alimentar, o Programa de Assistência Alimentar e Nutricional Emergencial (Paan), que prevê o pagamento de um vale-alimentação às famílias em situação de extrema pobreza. O programa foi regulamentado em 14 de outubro de 2019, por meio do Decreto 17.189, mas ainda não foi efetivamente implementado.
Além disso, é fundamental que sejam valorizadas as experiências de cozinhas comunitárias e centros populares de produção de alimentos espalhados pela nossa cidade, e com disposição de se somar na luta pela segurança alimentar.
O tempo da fome é outro, e quem tem fome tem pressa! Além de superar a necropolítica que governa o nosso país, é preciso avançar no processo de imunização, tornando universal o acesso à vacina, para que finalmente possamos reconstruir nossas vidas com segurança e panela cheia. Auxílio para não morrer de fome, vacina para viver!