Cadu Doné

Surpresa azul

Não sei se surpresa seria a palavra adequada. Confesso que não possuía expectativas claras: não acompanhei a longeva carreira de Rômulo na Europa.

Por Cadu Doné
Publicado em 16 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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Surpresa azul

Não sei se surpresa seria a palavra adequada. Confesso que não possuía expectativas claras: não acompanhei a longeva carreira de Rômulo na Europa. Não por um critério cristalinamente objetivo, bem delineado, por uma espécie de feeling, creio que a impressão geral era de que, cerca de 10 anos após sua saída da Toca, o volante campeão italiano pela Juventus agregaria por um combo que reuniria boa marcação, consistência, experiência e valências táticas; não predominava, no imaginário popular, uma esperança de que o Cruzeiro estaria contratando uma peça que fosse agregar contundentemente na construção. É justamente aí que reside o possível caráter de ganho inesperado: Rômulo tem desfilado em campo com louvável destreza, com notável classe na fase ofensiva. O gesto técnico de sua finalização na trave no cotejo da última quarta foi um primor.


Útil ao agradável

Pelos méritos que Rômulo vem demonstrando em todos os jogos, e pelo fato de Marcinho permanecer numa média, na melhor das hipóteses, definida pela discrição, vale escalar o primeiro como titular formando o meio-campo ao lado de Matheus Barbosa – e à frente de Adriano. Não nos deixemos levar pelo clichê de que o mencionado câmbio configuraria uma ação defensivista do treinador – afinal, deixaria a equipe um “camisa 10”; entraria um volante. Noves fora os atributos criativos de Rômulo exaltados nesta coluna, sublinhemos o anacronismo no dogma de que todo esquadrão carece de um armador que opere, de modo escancarado, descolado dos marcadores. 


Dúvida

Se no meio vigora um quadro que vai se desvelando de maneira sólida, com Rômulo atingindo amostragem considerável dentro de uma regularidade positiva – e Marcinho padecendo por um caminho diametralmente oposto –, nas pontas, a oscilação segue maluca. Bruno José, após duas ótimas partidas, caiu de produção no clássico e na vitória sobre o América-RN; Airton, que vinha devendo antes de decidir no triunfo sobre o Atlético, voltou a sumir; Felipe Augusto, outrora condenado, entrou bem em Natal.


Coletivo x individual

Ecoa irresistível uma daquelas “lógicas” prontas que o jornalismo esportivo ama: o embate entre City e PSG demarcará o duelo do coletivo – os ingleses passeiam pelos gramados com o conjunto mais afinado do mundo – contra o talento individual – nenhuma equipe apresenta dupla tão decisiva quanto Neymar e Mbappé. Pode ter um fundo de verdade. Por outro lado, não sei quem mais De Bruyne precisa destruir para figurar, de uma vez por todas, nas listas de craques capazes de “ganharem sozinhos”.


Injustiça

Por ser extremamente solidário, rei das assistências, dono de uma inteligência ímpar para ler o jogo, praticar um futebol associativo na mais genuína acepção do termo, De Bruyne vira e mexe acaba rotulado “apenas” como um tipo de “craque coletivo”. Não se dá ao belga o crédito merecido por várias aptidões que ele esbanja: pressiona sem a bola com eficiência incrível, dribla, finaliza... Abnegação para se doar ao todo não contraindica brilho pessoal da parte.


Dinheiro

Do jeito que a mídia fala em dinheiro a cada classificação, parece que a glória esportiva não basta; necessitam do tangível...


Vacina

Eleger futebolistas como prioridade revela bastante da sociedade que nos tornamos. E o contorcionismo retórico dos cartolas...

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