O presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, ministrou palestra nesta quarta-feira (13), no estádio da Luz, em Lisboa, durante o Global Football Management, evento internacional que reúne executivos e personalidades ligadas ao futebol de Brasil e Portugal.
"Os desafios da gestão moderna de futebol no Brasil": esse foi o tema proposto ao dirigente celeste e conduzido por ele. O Chuteiras e Gravatas acompanhou a apresentação de forma online e mostra detalhes do conteúdo exposto.
Antes de mais nada, é preciso contextualizar que a presença do mandatário da Raposa na Europa provocou fortes críticas da torcida cruzeirense por causa da situação do time na Série B, praticamente sem chance de acesso, e do anúncio de greve dos jogadores no início da tarde desta quarta, em Belo Horizonte.
Sérgio Rodrigues subiu ao palco logo depois do senador Carlos Portinho, relator do projeto da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), assunto de grande interesse do Cruzeiro. O dirigente cruzeirense falou por cerca de 40 minutos. A notícia da greve na Toca II eclodiria pouco depois do presidente encerrar sua apresentação em Portugal.
Na introdução, Sérgio Rodrigues contou aos participantes sua trajetória no clube até chegar à presidência do Cruzeiro, em 2020. E, depois, tratou de separar as coisas: a grave crise do clube (e o consequente reflexo em campo) e o fato dele estar falando para executivos num evento além-mar.
"É um desafio também estar nesse momento do Cruzeiro. Não falta quem critique sempre. 'Nossa, o Cruzeiro está na 10ª posição e o presidente está em Portugal'. Como se isso fosse a pior das coisas e por isso que o Cruzeiro está na 10ª posição. Críticas a isso também não faltaram. É mais um de", afirmou.
Os slides de Sérgio Rodrigues eram parte de uma apresentação que ele fez para sua própria diretoria. Durante a fala, citou trechos de livros e falas de personalidades mundiais – como Alex Ferguson, John Kennedy, Michael Jordan e Steve Jobs – para introduzir os assuntos.
De antemão, o presidente do Cruzeiro deixou claro que sua primeira preocupação era colocar o clube em ordem, antes mesmo de montar um bom time."Hoje a gente precisa se preocupar com a organização do Cruzeiro e não só com o clube de futebol Cruzeiro. O que nos trouxe até aqui foi exatamente a preocupação com o clube de futebol, de não pagar, de salários de jogadores e comissão técnica excessivos, juntamente com as ilegalidades. Não é pensar só nas quatro linhas. E isso já foi uma ruptura de parâmetros quando entramos lá. Vamos colocar organização e fazer um planejamento estratégico. Antes de montar um grande time é preciso montar uma grande organização", afirmou.
Sérgio Rodrigues criou um conceito para descrever as relações do futebol baseado em três P's: política, paixão e palpite e, depois, detalhou cada um deles segundo suas impressões. Passando às conclusões do assunto proposto, a pergunta posta era: "dá para ter calma e buscar o crescimento sustentável no futebol brasileiro?"
O presidente do Cruzeiro acha que sim. "Mas a gente tem que ter três elementos principais: comprometimento, loucura e coragem", listou.
Veja o que Sérgio Rodrigues pensa sobre cada um desses pontos e como ele os aplica no dia a dia do Cruzeiro:
Comprometimento
"Nós temos um plano, nosso plano é um crescimento sustentável. Pode ser que ele não seja agora, mas estamos trabalhando para que ele aconteça.
"A SAF vai ser a saída definitiva. É a forma segura de eu falar para uma pessoa que pode colocar dinheiro no Cruzeiro. Esse era o plano. Estamos na frente de todos os clubes do Brasil porque lá atrás a gente contratou a EY para desenhar nosso modelo de governança. Depois, contratamos a Alvarez & Marsal para montar nossa estrutura de gestão para padrões internacionais e, por fim, fomos pioneiros em fazer uma parceria com a XP para captar investidor."
"Temos a convicção que estamos no caminho certo, embora os resultados não sejam o que a gente quer no momento. O comprometimento é fundamental. Não é chegar no meio do caminho e cancelar."
Loucura
"O segundo elemento é ter uma pitadinha de loucura. Não que eu ou que alguém aqui vai mudar o mundo. tomara que mude, mas pelo menos tem que ter parâmetros. Temos vários tipos de loucos que ajudam a quebrar paradigmas. São essas coisas que fazem a gente dar um passo a mais."
Coragem
"O último elemento tem que casar. Meu número de celular já foi vazado várias vezes. Eu bloqueio na maior paciência. Tenho praticamente 4.000 contatos bloqueados e vou bloqueando tranquilo. Durmo tranquilo. Por que? Porque durmo sabendo que estou fazendo o melhor. E isso se alia ao elemento coragem."
"O que mais tem é gente na arquibancada querendo dar palpite, mas pouca gente com peito para assumir as coisas que precisam fazer. O que mais tem é gente que não tem peito, não tem audácia, não tem coragem, não tem preparo, não tem inteligência, mas acha que pode falar demais. A coragem é uma habilidade de você ser vulnerável ou não."
"Com uma dose de comprometimento, loucura e coragem, espero que todos os gestores e presidentes consigam trabalhar, para que a gente tenha um futebol com um crescimento sustentável dos nosso clubes."