'Foi demais pro meu coração'

Falta de tênis para alunos impacta Manoel Honorato, com quase 40 anos de vôlei

Gestor de projeto de Uberlândia teve situação marcante ao se deparar com jovens que nunca tinham visto uma bola de vôlei na vida

Por Daniel Ottoni
Publicado em 03 de dezembro de 2021 | 16:38
 
 
 
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Depois de quase 40 anos de vôlei, a modalidade que lhe deu tanta coisa na vida mostrou a Manoel Honorato que ele ainda não havia visto de tudo. O agora gestor do projeto Academia do Vôlei, de Uberlândia, esteve nesta semana em Celso Bueno, distrito de Monte Carmelo, onde cerca de 3.000 residem. 

A ideia era apresentar o vôlei para algumas crianças em uma situação que, na teoria, seria corriqueira. Manoel não demorou a perceber que estava diante de uma cena marcante quando boa parte dos jovens se recusou a entrar em quadra, por vergonha e timidez.

Um chegou, depois outro, e assim se reuniram os 57 jovens, muitos filhos de nordestinos, assim como Manoel, que saíram de suas cidades para buscar uma melhor condição de vida. A surpresa de Manoel foi grande quando se deparou com 56 dos novos alunos descalços. Dois não tinha sequer camisa. 

Enquanto dava aula, a cena se 'remoeu' na cabeça de Manoel, que seguia tentando assimilar a situação. 

"Parecia que eles nunca tinham visto uma bola de vôlei, foi algo impactante demais pro meu coração, fiquei emocionado. Fiquei refletindo com meus dois auxiliares, pensei muito sobre minha vida e este projeto que chegou até a elite do vôlei brasileiro. A gente, às vezes, reclama demais, é feliz e não sabe", pondera. 

Em 2021, o projeto chegou a 25 anos de existência, atendendo 250 alunos e somando mais de 50 títulos

"Se um atleta de vôlei se deparar com aquilo, tem boas chances de também ficar sensibilizado", projeta. 

Tomei conhecimento do caso pelo Facebook do professor e aproveitei a conversa que tive com ele para perguntar se existia alguma ideia para presentear as crianças. Ele admitiu que ainda não tinha pensado nisso e ficou de levar a ideia adiante. 

Imagino que, com pouco esforço, uma campanha deixará todos mais bem protegidos e confiantes para as próximas aulas, contribuindo no objetivo principal da iniciativa, que é formar cidadãos. Se sair um único profissional dali, a expectativa estará superada. 

Fico na torcida para que o prefeito Paulo Rocha e o secretário da Juventude de Monte Carmelo, Murilo Naves, pensem na ideia para tirá-la do papel e fazer uma grande diferença com um gesto tão pequeno. 

Manoel virou, neste ano, gestor do projeto. Até a última temporada, foi treinador do Azulim Gabarito Uberlândia, na sua estreia na Superliga A masculina, levando o time aos play-offs, em resultado histórico.

O time está jogando, na atual temporada, em Monte Carmelo e pretende fazer as partidas do time em várias cidades do Triângulo Mineiro a partir da próxima temporada, para aumentar o impacto sobre estas comunidades. 
 

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