Entrevista

Pandemia fez nadador do Minas 'criar' sala de musculação na garagem de casa

Fernando Scheffer vai 'matar' a saudade da piscina em breve; ele foi um dos escolhidos para estar na 'Missão Europa', do COB, que terá treinos em Portugal

Por Daniel Ottoni
Publicado em 15 de julho de 2020 | 07:00
 
 
 
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A pandemia do coronavírus pegou os atletas de surpresa, forçando todas as modalidades a se readequarem a uma nova e indigesta realidade. 
A rotina de treinos ao lados dos colegas ficou distante e foi inevitável sentir falta do contato com tudo que envolve o seu esporte. 

Para o nadador Fernando Scheffer, do Minas, uma vantagem foi ter sido um dos escolhidos pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para integrar a 'Missão Europa'. Será seu reencontro com a piscina, distante há quatro meses. O embarque para Portugal acontece na próxima sexta-feira com retorno previsto para a primeira quinzena de agosto. Além de Fernando, foram chamados mais três atletas do Minas (Vinicius Lanza, Marco Júnior e Felipe França, além de dois membros da comissão técnica, o treinador Sérgio Marques e o preparador físico Adriano Barbosa)

Sabendo que pode retornar ao Brasil e reencontrar a dificuldade para treinos novamente, ele prefere não lamentar e tentar fazer o que está ao seu alcance, como montar, na garagem de casa, uma sala de musculação improvisada.  

Confira a conversa que tivemos com o nadador, que ainda precisa garantir vaga olímpica na seletiva marcada para 2021:


Quanto tempo sem entrar em uma piscina?  

Os treinamentos no clube foram interrompidos no final de março. Desde então, já são quase quatro meses longe das piscinas. 

Já tinha ficado tanto tempo sem entrar em uma piscina? 

Nunca fiquei tanto tempo longe das piscinas, o período máximo que tinha ficado sem treinar foi de duas ou três semanas. Mesmo assim, buscava uma forma de cair na água.

Do que sentiu mais falta?

Sentimos falta de muita coisa, foi um período bem estranho, até porque nossa rotina de treinos estava bem pesada, estávamos visando a seletiva olimpica, que seria neste ano. Do nada, tivemos que ficar isolados em casa, foi uma mudança brusca de rotina. Senti falta do convívio com colegas de treino, comissão técnica e staff, além da competição que criamos no dia-a-dia com nós mesmos e os colegas. 

Como foram os treinos neste período? Teve algum tipo de 'simulação' fora da água?

Fizemos treinos de manutenção fora da água, consegui alugar pesos de uma academia e improvisei uma sala de musculação na garagem de casa. Recebemos orientações para realização de treinos aeróbicos, além de atividades preventivas e posturais orientadas pela fisioterapia. Fizemos lives todas as semanas com a equipe da preparação física e fisioterapia. Foi um período mais de manutenção para estar em boas condições quando o clube for reaberto. 

Algum tipo de cuidado com os treinos em Portugal para evitar lesão depois deste período atípico?

No primeiro momento, vamos tentar aproveitar ao máximo os treinos na piscina de Portugal. Precisaremos de um maior cuidado para voltar com calma, aos poucos, ver como o corpo vai se adaptar aos treinos. Será muito importante ter uma grande sinergia com a comissão técnica, saber até onde podemos aliviar ou forçar mais. Este feedback dos treinadores será muito importante neste momento. 

O que dizer da possibilidade de ir para Portugal e retornar para o Brasil sem poder treinar como gostaria?

Ninguém está treinando como gostaria, todos queríamos o clube aberto e ter a rotina de antes retomada. O mais importante, agora, é ter paciência e resiliência, entender o momento, saber que temos que fazer o que está ao nosso alcance e treinar da forma que dá. Precisamos focar bem na alimentação, descanso e prevenção de lesões. Assim, quando chegar o momento do treino de performance, vamos ter uma chance maior de ter um melhor resultado. Temos que focar na gente agora, no que podemos fazer e não ficar pensando no amanhã, no futuro, isso pode nos deixar malucos. 

Algum foco específico para estes treinos, tendo como referência o período inativo? 

O maior foco neste retorno é conseguir retomar a sensibilidade na água e recuperar a parte técnica, que nos acostumados a treinar todos os dias. Essa falta de treinos pode nos dar falta de sensibilidade ou descoordenação. Vai ser importante trabalhar aspectos como posição de braçada, controle do corpo, balanço e postura dentro da água. São pontos importantes para serem trabalhados neste início. Será hora de aproveitar que os treinos serão mais leves para tentar prestar atenções nestes fundamentos. 

Brasil atrás de boa parte dos concorrentes?

Este é um problema do mundo todo, muitos atletas de vários países estão passando por dificuldades para treinar. Muitos lugares estão priviados de treinos, alguns já voltaram, outros não. Temos que cuidar do que está ao nosso alcance, não podemos tomar conta dos treinos dos outros. Temos que focar no que fazemos, na alimentação, descanso e preparo e fazer tudo que for possível dentro do que está de acordo com as nossas possibilidades. Não dá pra ficar pensando se os outros países estão reabrindo ou não. 

Período parado agora pode influenciar em Tóquio?

Difícil mensurar o que este período pode influenciar na Olimpíada. Com certeza, os resultados serão diferentes se comparados se os Jogos fossem agora. Mas todo mundo vai se preparar bem para chegar na melhor forma possível. Independentemente de algum atleta ter vantagem agora, com piscina disponível ou sala de musculação, acredito que isso não vai fazer a diferença na Olimpíada. O mais importante, agora, por mais que seja um período atípico, é conseguir sair desta pandemia e isolamento com a parte emocional e mental bem preparada. Vale mais a pena retornar aos treinos com a cabeça boa e a mente no lugar certo, do que uma situação de treinos sem interrupções, mas que nos deixassem estressados e com a cabeça cansada. Temos que trabalhar bem a parte mental e saber que vamos ter tempo suficiente para voltar à forma de antes. A ideia é chegar para a seletiva, no ano que vem (e, quem sabe, na Olimpíada) da melhor forma possível. 
 

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