Primeiro, a coragem para assumir um relacionamento. Gente morna não tem condições, com cumprimento frouxo, lábios murchos e sem vontade, palavras volúveis, abraços pela metade.
Ter atitude é a base para a sinceridade. Não que você não sinta um pouco de medo de iniciar uma convivência, mas até gosta do medo para ser mais atento. Só que não volta atrás com aquilo que disse ou acredita. Mantém uma coerência entre a voz e o gesto.
Depois, vejo que o grande teste para romance é criar uma amizade com a possibilidade de pensar qualquer coisa, desprovida da censura. Você é capaz de estar com alguém com idêntica espontaneidade de quando está sozinho. Não muda nada. Não deixa de fazer algo para si. É um estar pleno consigo acompanhado.
Desfruta de condições para professar todas as confidências. Não somente é compreendido quando partilha as tristezas – a empatia na dor é previsível, a solidariedade na desgraça é automática –, mas conta com quem suporta o seu sucesso.
Esse é o ponto principal do amor. Dividir a vida com aquele que torce autenticamente por você, mesmo que signifique ficar longe ou permanecer mais ocupado.
A outra pessoa não pensa egoisticamente, que pode perdê-lo para o trabalho ou para o mundo. Não cai na cilada da inveja ou do ciúme, não acha que você extraviou a sua natureza e a sua essência diante dos êxitos. Não entra no modo de competição, querendo ser igual, não remói disputas secretas nas tarefas domésticas, nem diminui a sua importância num papel de coadjuvante ou se vitimiza pelo abandono ou reclama de sua rotina atabalhoada para gerar culpa e insinuar que unicamente você está feliz.
Casais costumam se separar, mais do que nas crises, quando um dos dois encontra triunfo em sua área profissional, quando um dos dois brilha em sua carreira.
E o par, não experimentando igual sortilégio, puxa os dias para baixo, cobrando e reclamando da ausência, pesando a gangorra, amaldiçoando a prosperidade de uma das partes simplesmente porque não aconteceu nada parecido com ele.
Não há como sempre os dois alcançarem êxito juntos. É preciso entender que haverá alternância e troca constante de posições. Num lar sadio, um ajudará mais com as despesas num determinado período.
Eu casei com Beatriz pela sua alegria mineira em acolher o meu contentamento. Ela busca a minha gargalhada, ama as minhas brincadeiras e a minha gana de trabalhar. Ela sabe que me divirto escrevendo e que não é tempo morto quando me isolo para algum texto, que voltarei com novas histórias para o nosso almoço e janta.
Não se restringe a colher as minhas lágrimas, planta leveza no momento que faço planos e me empenho em novos projetos. Nunca boicota os meus sonhos, ainda que não entenda direito aonde pretendo chegar. Além da realidade, é parceira da minha esperança.
Já ouvi, com muito constrangimento, com as faces coradas, ela dizer publicamente que sou o melhor escritor do Brasil. Óbvio que não é verdade. A verdade é que eu sou o melhor escritor para ela. E isso me basta. Assim como ela é para mim a melhor advogada que existe.
Casamento deveria ser sempre assim: admiração para multiplicar a confiança. Ser o melhor um para o outro, exageradamente, cultivando o exemplo em casa.
Nas regras do coração, existe apenas um lugar no pódio.
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