FERNANDO FABBRINI

Estratégia camaleão

Luiz Inácio em fase trans


Publicado em 15 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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Sobram notícias da estranha mudança da fachada do Luiz Inácio tentando passar de condenado à “vítima”. Apoio não falta: parte da imprensa brasileira - abarrotada de revolucionários que moram com os pais e dos dinossauros modelo 68 a álcool - não perde uma chance de transformar qualquer asneira referente ao indivíduo em assunto importantíssimo. Viajou pra Cuba? Que lindo! Casou-se com uma jovem mulher e faz uso regular de Viagra? Já pra coluna de saúde! Malhou na academia? Pauta urgente para variedades! Vale tudo.   
 
Seguindo a tendência, semana passada pipocou outra baboseira criada por assessores com claros fins midiáticos: Luiz Inácio pediu desculpas ao povo italiano por não ter extraditado o terrorista Cesare Battisti. Mamma mia! Usando a clássica cara-de-pau, sacou do bolso seu esfarrapado “eu não sabia”. 
 
Surreal é que um esquerdista anacrônico não soubesse que Battisti fosse membro ativo do grupo Proletários Armados Pelo Comunismo – pelo nome, uma agremiação social-desportiva-beneficente, pacata e inofensiva. Cesare passou anos foragido e alegando inocência até a última escapada rumo ao Brasil. Mantido
confortavelmente numa casa de praia pelos amigos no poder, admitiu ter pessoalmente assassinado dois cidadãos italianos e ajudado a trucidar outros. As vítimas foram o marechal Antonio Santoro, o joalheiro Pierluigi Torregiani, o policial Andrea Campagna e o açougueiro Lino Sabbadin. 
 
Para surpresa dos milhões de descrentes da justiça brasileira, o Supremo autorizou sua extradição em 2009. Quem diria, hein? Porém, como ali não se dá ponto sem nó, os ministros tiraram os seus da reta e disseram que a palavra final deveria vir do presidente da república. Bem à vontade nesse cenário armado, Luiz Inácio então rejeitou a medida no último dia do mandato e, caladinho, saiu correndo pro abraço dos companheiros.  
 
O cerco se fechou em 2019. Cesare acabou preso na Bolívia e finalmente extraditado. O vice-primeiro-ministro italiano da época, Matteo Salvini, agradeceu o trabalho das polícias internacionais e disse que Battisti era “um delinquente que não merece uma vida cômoda na praia, mas sim terminar os dias na cadeia”.
 
Nas suas manobras camaleônicas Luiz Inácio mexe os pauzinhos e outras coisas; banca um exército de advogados e tenta limpar a barra. A mesma corte que libertou o médico tarado estuprador Roger Abdelmassih e o traficante André do Rap; que prendeu um deputado pelo crime de liberdade de expressão - mas manteve em sigilo a tentativa de assassinato do atual presidente - vai lhe concedendo vitórias. Numa deslavada estratégia de busca de sua imagem internacional inflada artificialmente, agora inventou essa pieguice que ninguém engoliu. 
 
Mas tudo tem sua graça. Para conferir a repercussão, acessei mídias italianas que deram fria cobertura ao penitente arrependido. Melhores e mais divertidas foram as postagens dos leitores de lá. A maioria dos comentários resumia-se à abreviatura “v.f.c.”. Para os leitores daqui que não dominam a língua italiana e suas expressões idiomáticas, só posso adiantar que as iniciais não significam, por exemplo, “você foi compreendido” ou “vamos ficar conformados”, ou até “valeu, fraterno camarada!” 
 
Sair da prisão, inventar versões e distorcer fatos é uma coisa. Sair pra rua é outra. A propósito, aquele que ainda se arvora como candidato das massas não pode sequer comer uma pizza sossegado numa esquina de São Bernardo do Campo. E não é por conta do isolamento social. 
 
         

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