CAROL RACHE

Como mudar a cultura de uma organização?

'Cultura é o conjunto de saberes, valores e princípios que dá o tom das dinâmicas dentro de um grupo social'

Por Carol Rache
Publicado em 22 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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A pergunta chegou a mim como solicitação de uma empresa que queria criar um programa de wellness para seus colaboradores. Achei curioso e pensei: “Cabe uma reflexão”. 
 
Cultura é o conjunto de saberes, valores e princípios que dá o tom das dinâmicas dentro de um grupo social. O grupo, por sua vez, é composto de pessoas. E as relações entre esses indivíduos tem o poder de reforçar ou desconstruir os hábitos preestabelecidos naquele contexto. 
 
Relações são sempre trocas. Influenciamos o meio no qual estamos inseridos e somos por ele influenciados. Ou seja: cada pessoa que compõe um grupo deixa nele sua marca e leva consigo as vivências ali experimentadas. O que nos leva à conclusão imediata, e quase óbvia, de que, para se alterar uma cultura, é necessário transformar os indivíduos que a compõem. 
 
 
A forma como agimos e reagimos depende essencialmente de quem somos e de como estamos. Nossas memórias, crenças, traumas, humores e prévias experiências têm um papel determinante na interpretação que fazemos dos fatos que nos envolvem. E, como cada um de nós tem uma história diferente, é natural que, diante de um mesmo fato, tenhamos interpretações divergentes. Daí nasce a diversidade. E daí nascem, também, as intolerâncias. 
 
Insistimos em acreditar que as nossas perspectivas são sempre absolutas e, dessa forma, deixamos de reconhecer que o outro carrega dores e sabores diferentes dos nossos. Nós nos sentimos no direito de acreditar que nossas interpretações e emoções são mais legítimas do que as demais e, dessa forma, tentamos impregnar no outro a nossa visão de mundo – que, no fim do dia, é só nossa, visto que, se ninguém mais viveu as experiências que vivemos, ninguém mais vai enxergar a vida da forma como fazemos. 
 
Quando se fala em diversidade e cultura no meio empresarial, há que se entender que somos diversos não só em raça e gênero, mas principalmente nas ideias, nas pulsões, nas crenças e predileções. Por isso, para desenhar um ambiente organizacional harmônico, é necessário criar habilidades para equilibrar as relações que ele envolve. 
 
Se relações são trocas e se o que manifestamos depende de quem somos, não há, portanto, outra saída a não ser dar aos colaboradores ferramentas para que sejam o melhor que podem ser. A falta de gestão emocional, os hábitos pouco saudáveis, o estresse, a ansiedade e os distúrbios de sono vão impactar a forma como cada indivíduo vive e, claro, a forma como participa da dinâmica social do grupo. E isso tem, seguramente, mais impacto na cultura organizacional do que um banheiro sem gênero. 
 
Só se cria diversidade criando espaço para liberdade. E a liberdade do outro só é respeitada quando a nossa está em dia. Essa construção depende, essencialmente, da dose de autoestima, equilíbrio emocional e resiliência que carregamos do lado de dentro. 
 
Por isso, respondendo à pergunta que me foi feita pela organização em questão, só há uma resposta possível: a cultura é transformada, de verdade, quando a organização se propõe a transformar os indivíduos. Se quiser modificar um ambiente, comece atuando nas pessoas que o compõem.

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