Existem dois tipos de ações: as que trazem prazer imediato com pouco esforço e as que trazem resultados futuros e demandam algum movimento. Comer brigadeiro, por exemplo, é um ato que se encaixa no primeiro cenário. Construir uma carreira, por outro lado, é uma atuação enquadraria no segundo. Até aqui, nada de novo, certo?
Errado. Por mais óbvia que possa parecer a constatação, a reflexão sobre ela ainda é novidade, sim, para a maioria.
Isso porque a minoria tem consciência de que dentro do nosso cérebro existe uma guerra entre dois exércitos: um que nos incita a escolher ações que trazem deleite instantâneo e outro que nos lembra de calcular as consequências nocivas do excesso de brigadeiro.
O grande “problema” é que o exército do prazer imediato conta com milhões de soldadinhos, enquanto seu rival tem um time menor. São milhões de neurônios empenhados em induzir escolhas que tragam contentamento agora e “apenas” alguns milhares fazendo o contraponto.
Do ponto de vista matemático, esta seria uma batalha perdida – uma sentença universal e óbvia que nos condenaria a viver de brigadeiro e Netflix. Por que, então, temos tantos exemplos de pessoas que substituem o açúcar por brócolis e conseguem construir resultados magníficos pautados em disciplina e longo prazo?
Felizmente, os exércitos que ocupam nossa mente podem ser treinados. Isso significa que, com tempo e dedicação, os neurônios que integram o “exército dos milhares” podem ser capacitados para se tornarem nossa tropa de elite. E, quanto mais bem preparados, mais se tornam capazes de vencer a multidão que clama por prazeres instantâneos.
Comer brigadeiro ou escolher a salada? Reinvestir na empresa ou gastar todos os dividendos amanhã? Dormir mais um pouco ou levantar para praticar yoga? São escolhas diárias que nos colocam sempre diante da mesma encruzilhada: desfrutar agora ou semear hoje para colher no futuro?
Todos os dilemas que nos acometem travam, internamente, uma batalha entre os dois exércitos que nos habitam. No piloto automático, o time mais populoso vence. Mas, para aqueles que têm clareza de aonde querem chegar, é mais vantajoso treinar os músculos para a caminhada, mesmo que, para isso, seja necessário empenho.
Engana-se quem acredita que a disciplina é algo inato – ou você tem, ou você procrastina. Disciplina, no fundo, nada mais é do que a nossa capacidade de treinar a equipe que nos levará na direção dos nossos sonhos. Porque, se não tivermos essa disposição, estaremos condenados a viver sob o comando de milhões de soldados destreinados e, portanto, vulneráveis aos ataques sedutores daqueles que querem nos vender prazer instantâneos.
O que nos afasta dos nossos sonhos é o desequilíbrio entre as duas forças que coexistem dentro de nós: uma que nos preenche a partir de construções sólidas e outra que nos distrai com overdoses imediatas.
Qual delas te domina?