Orígenes e a preexistência do espírito

Conforme a tradicional e milenar cultura judaico-cristã, Orígenes nasceu no século II em Alexandria, no Egito, e se tornou, sem dúvida alguma, um grande pensador do cristianismo primitivo. Além disso, Orígenes é considerado, para muitos teólogos contemporâneos, um grande sábio vinculado à patrística, a qual organizou, como sabemos, toda a teologia cristã antiga, medieval, moderna e pós-moderna.

Não obstante algumas divergências doutrinárias e teológicas, Orígenes de Alexandria defendeu com veemência seus argumentos no que tange à preexistência do espírito, bem como no que se refere à palingenesia ou reencarnação. Por conseguinte, esse filósofo egípcio afirma, de forma categórica, que o ser humano, em virtude de suas vidas anteriores, determinaria a sua própria condição na vida atual. De fato, Orígenes sustentava teologicamente que o espírito preexistia à existência do corpo físico ou biológico, de tal maneira que a própria humanidade determinaria, por isso, a sua situação na atual vida terrena.

Parece-nos, de certa forma, que Orígenes está correto no que tange às Escrituras Sagradas, pois, segundo o Velho Testamento, Deus afirma, literalmente, que conhecia o profeta Jeremias antes mesmo de ele ter sido concebido no ventre materno, vejamos: “Antes que te formasse no ventre de tua mãe, te conheci; e antes que tu saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jr 1:5). Nesse mesmo contexto, o apóstolo João também afirma: “João dá testemunho dele. Ele exclama: Este é aquele de quem eu falei: Aquele que vem depois de mim é superior a mim, porque já existia antes de mim” (Jo 1:15).

Fica claro, igualmente, que João Batista, o precursor, afirma que o Cristo é maior do que ele, bem como que o Cristo preexistiu, em espírito, à sua existência. Outras passagens bíblicas, que constam do Novo Testamento, também sugerem, de certa maneira, a preexistência do espírito ou da alma. Assim, e para o apóstolo Paulo, Deus “nos elegeu antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1:4). Repare, portanto, que nós existíamos junto a Deus-Pai antes mesmo da criação do mundo material.

Ressalte-se, por fim, que Orígenes de Alexandria também deixou vários trabalhos filosóficos e teológicos pertinentes, por exemplo, à Santíssima Trindade, à Virgem Maria e ao batismo cristão. Além disso, esse filósofo egípcio também defendeu com convicção a teoria da transmigração das almas, da reencarnação ou da palingenesia.

Entretanto, Orígenes, o cristão, condenou a teoria da metempsicose, isto é, ele não aceitava o regresso do espírito humano a corpos de espécies distintas, como animais, aves, peixes e vegetais (1Co 15: 38,39). Ademais, e segundo alguns historiadores bíblicos, Orígenes era grande simpatizante da filosofia platônica, o que revela, de certa forma, sua visão mais espiritualista no que se refere às revelações trazidas pelo Cristo.