Laura Medioli

Laura Medioli

Laura Medioli é escritora e presidente da Sempre Editora, responsável pela publicação dos jornais Super, O TEMPO e O Tempo Betim, além da rádio FM O TEMPO e do portal O TEMPO. Formada em estudos sociais, Laura já atuou como professora e se dedica de forma intensa hoje à causa da proteção animal.

LAURA MEDIOLI

Coisas de menina

Na minha época, eu só usava batom vermelho e sandália alta para parecer mais velha e poder entrar no cinema. Também para não ser chamada de “pirralha pelo menino que normalmente não me dava a mínima.

Por Laura Medioli
Publicado em 20 de outubro de 2019 | 02:30
 
 
 
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Mal despontamos no mundo, e já nos vestem de cor-de-rosa. Mães, cheias de caprichos, ainda na maternidade pedem para furar nossas orelhas, enfeitando-as com minúsculas bolinhas douradas. Dizem que a cartilagem é fininha e, por isso, não dói. Hum... sei. E quem é que garante?

Minhas filhas fizeram como eu, só furaram quando bem entenderam e por vontade própria. Uma delas teve tanta vontade que furou seis buracos de uma vez, três em cada orelha.

– Filha, você está maluca? Desse jeito a orelha cai!

– Que isso, mãe!

Felizmente, no lugar de penduricalhos, colocou bolinhas e algumas coisinhas miúdas como as de bebês. Confesso que gostei, embora não tenha aprovado de todo.

– Filha, não se fura orelha à revelia. Esse é um lugar onde existem pontos energéticos. Se furar no lugar errado, pode te complicar a vida, sabia? Ao menos vá a um acupunturista para que ele te mostre os locais certos.

– Que isso, mãe!

A outra, ainda menina e influenciada pelas amigas, cismou de fazer tatuagem.

– Não, não e NÃO! – fui radical. – Quando for mais velha e estiver ciente de que realmente é isso o que quer, faça, mas não agora.

E, claro, ela fez. Com 18 anos passou a carregar um símbolo do infinito no corpo. E eu, para bem dizer a verdade, adorei. Discreta, pequena, charmosa... a cara dela!

Hoje, diferentemente do meu tempo de adolescente, muitas garotas andam produzidíssimas: maquiadas, cabelão na cintura, óculos escuros cobrindo metade do rosto, sandálias altas, luzes nos cabelos e caras de adultas. E me pergunto: pra que isso tudo?

Na minha época, eu só usava batom vermelho e sandália alta para parecer mais velha e poder entrar no cinema. Também para não ser chamada de “pirralha” pelo menino que normalmente não me dava a mínima. Para piorar, ainda enfiava um Hollywood na boca e saía com o maço despontando no bolso. Só fui cair na real quando, com 15 anos, após uma aula de balé, resolvi acender meu Hollywood. A primeira a ver a cena foi a professora, escandalizada.

Laura, você fuma??? – dali a pouco se juntaram outras e mais outras ao meu redor.

– Menina, quantos anos você tem?

E eu, com a vozinha mais sumida do mundo:

– Quinze!

E uma delas, para acabar de me acabar, saiu-se com esta:

– Oh! Pensei que você tivesse uns nove!

Depois disso, entendi que não seria o cigarro nem o batom vermelho que me fariam entrar no cinema ou ser olhada pelo bonitão do terceiro ano. Na minha época, fumar era bacana, agora é feio. Ponto para os jovens de hoje, que ganharão saúde e mais alguns anos de vida pela frente.

Há muito deixei de fumar e de usar sandálias que me derrubam. Nada como buscar a simplicidade e o conforto no dia a dia. Procuro mostrar isso às minhas filhas, que, felizmente, de frescura e modismos bobos não têm nada. Tanto faz se a camiseta é da Forum ou da C&A. Marca da etiqueta, para nós, está longe de ser essencial.

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