Laura Medioli

Laura Medioli

Laura Medioli é escritora e presidente da Sempre Editora, responsável pela publicação dos jornais Super, O TEMPO e O Tempo Betim, além da rádio FM O TEMPO e do portal O TEMPO. Formada em estudos sociais, Laura já atuou como professora e se dedica de forma intensa hoje à causa da proteção animal.

LAURA MEDIOLI

Por toda a minha vida

'Acredito em destino, muito do que acontece em nossas vidas já estava predestinado.'

Por Laura Medioli
Publicado em 12 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Quando menina, morava numa espécie de chácara cheia de bichos, árvores e amigos. A casa era grande, bonita, aconchegante, mas sem luxos. Sempre aberta a todos, sequer possuía chaves nas portas.
 
Chegasse quem fosse, no horário que fosse, era bem-vindo. Nos fins de semana, parecia um clube, onde dormiam meus amigos, os amigos dos meus irmãos, primos, intercambistas, amigos de amigos...
 
Uma das pessoas mais especiais que apareceram por lá, há mais de 40 anos, foi um italiano de caráter forte e olhar expressivo. Com uma inteligência e cultura bem acima dos parâmetros normais para um rapaz de 25 anos, muito me impressionou, assim como a meu pai, com quem conversava horas a fio e criou fortes laços de amizade.
 
Foi-nos apresentado por uma prima de minha mãe, que, apiedando-se do jovem empresário recém-chegado ao Brasil, longe da família e ainda sem amigos, não teve dúvidas: levou-o à nossa casa.
 
Na época, eu tinha 14 anos. Magrinha e tímida, ao vê-lo, gostava de me esconder por trás dos cabelos, sentindo aquela estranha e gostosa emoção que acabou acompanhando-me por toda a vida.
 
E ele, com a sensação de que há muito já me conhecia, ao ver-me pela primeira vez, distante e cercada de amigos, no jardim de minha casa, perguntou: “Quem é aquela menina?” 
 
– É a filha da Glorinha!
 
–  Que estranho... Eu sinto que vou me casar com ela...
 
Anos depois, me relatou esse fato, confirmado pela prima de minha mãe a quem, na ocasião, fizera tal comentário.
 
Muitas vezes, eu deixava de sair nos fins de semana na esperança de que ele aparecesse em minha casa. Vestindo sempre a mesma roupa e usando o mesmo perfume, aguardava-o ansiosamente, somente para vê-lo e ouvir, de longe, suas conversas inteligentes.
 
Anotava nas minhas agendas (de vários anos) os dias em que o via e, deixando o inglês de lado, estudei italiano com afinco para compreender melhor a sua língua de origem.
 
Acredito em destino, muito do que acontece em nossas vidas já estava predestinado.
 
Quando adolescente, acompanhei minha mãe à casa de uma senhora, contemplada com o dom da clarividência. Ela nunca havia me visto e, assim que me sentei à sua frente, logo foi perguntando: “Conhece algum estrangeiro?” Por estar ao lado de minha mãe, neguei. Temia que desconfiasse de meu platoníssimo amor pelo amigo de meu pai, 11 anos mais velho que eu. E a senhora, dona Tiná, continuou insistindo: “Tem certeza? Um italiano... talvez?”
 
Deus! Era ele. Só podia ser, pensei comigo, enquanto novamente neguei. E ela, segurando as minhas mãos e olhando em meus olhos, disse com convicção: “Então irá conhecer, pois ele está na sua linha”.
 
Cheguei a pensar que estivesse lendo meus pensamentos; mesmo assim, era tudo muito estranho. Ao chegar em casa, liguei para as amigas.
 
“Pronto! Agora é que não desiste mesmo, só vai pensar nisso”, disseram.
Tinham razão, pensei nisso durante anos, e nada.
 
E passei a ser frequentadora assídua da tal vidente, sempre com a mesma pergunta:
 
– Ô Tiná, cadê meu gringo, Tiná?
 
– Calma, menina, calma que ele está na sua linha! – me respondia, sorrindo. E ela estava certa: dez anos depois, finalmente, sua previsão se concretizou. Para ela, não havia dúvidas, nossos destinos já estavam traçados, pois vinham de longe...
 
Sei que inúmeras sucessões de fatos foram necessárias para que estivéssemos aqui, agora, vivendo a nossa história. História cuja origem se encontra na misteriosa força do amor. O mesmo amor que precisou existir para que unisse meu coração ao do meu companheiro, essa pessoa maravilhosa que surgiu em minha vida (ou em minhas vidas) para que eu pudesse crescer, aprender, amar, doar e ser feliz.
 
No último dia 6, completamos 34 anos de casados. Dessa união, vieram duas filhas maravilhosas. Agradeço todos os dias a Deus pela família tão linda. E agradeço ao Vittorio, por ser parte imprescindível da história da minha vida.

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