Lucas Gonzalez

A hora das reformas

Elementos estruturais para o crescimento do Brasil


Publicado em 18 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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A economia brasileira tem surpreendido positivamente. A retomada da atividade no segundo semestre de 2020 foi muito mais forte do que a esperada, assim como o crescimento no primeiro semestre de 2021.

Por conta da pandemia, com o aumento do número de casos e de mortes no início deste ano e o fim do auxílio emergencial, a expectativa praticamente unânime entre os analistas era de crescimento negativo do PIB no primeiro trimestre. Entretanto, nos meses de janeiro e fevereiro, a produção industrial, as vendas no varejo e o setor de serviços, assim como o mercado de trabalho, mostraram crescimento da atividade, e o IBC-Br, índice de atividade do Banco Central, apresentou forte crescimento.

Em março, mês no qual vivemos diferentes lockdowns em várias grandes cidades e Estados do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, os indicadores apresentaram queda. No entanto, ainda assim, incapazes de compensar os ganhos obtidos nos dois primeiros meses do ano. O resultado foi uma forte melhora das expectativas quanto ao crescimento do PIB do Brasil não apenas no primeiro trimestre, mas no ano de 2021.

Qual é a razão deste cenário? Existem fatores conjunturais e estruturais. Em primeiro lugar, o efeito do auxílio emergencial sobre a demanda extrapolou o ano de 2020. Como era emergencial, a expectativa era que ele seria descontinuado no início de 2021. Com isso, as famílias pouparam parte da renda recebida em 2020 para evitar que, quando o auxílio acabasse, elas tivessem uma queda abrupta no padrão de vida. Essa poupança foi utilizada em 2021 para suavizar o consumo das famílias. Isso evitou o que alguns analistas estavam chamando de “abismo fiscal”.

Agora, elementos estruturais também são de suma importância. Nos últimos anos, o país está passando por um grande conjunto de reformas que começam a apresentar seus efeitos. Foi criado um teto para o crescimento do gasto público e uma boa reforma da Previdência Social. Estas reformas reduziram o risco fiscal. Várias outras reformas importantes foram aprovadas, como a do ensino médio, a trabalhista, a do mercado de capitais, e foram aprovados marcos regulatórios do setor de saneamento, óleo e gás, além de uma nova lei de falências. A independência de fato do Banco Central foi reforçada aumentando sua credibilidade, e a autonomia formal foi aprovada em 2020.

Todas essas reformas tiveram como objetivo aumentar a produtividade e a taxa de investimento privada. O sucesso dos leilões de concessões realizados no primeiro trimestre de 2021 mostra a importância dessas reformas. Foram leiloados 22 aeroportos, três portos, uma ferrovia, uma rodovia e a companhia de água e esgoto do Estado do Rio de Janeiro, a Cedae, além de outros projetos de menor porte. Apesar da pandemia e das incertezas quanto à retomada da atividade, foram arrecadados mais de R$ 50 bilhões em outorgas e estão programados mais de R$ 100 bilhões de investimentos nos próximos dez anos, o que mostra que o Brasil continua atraente para o capital de longo prazo.

As pessoas estão ávidas a sair, participar de eventos, ir a restaurantes, conversar pessoalmente com os amigos, fazer compras, enfim, voltar à vida normal, o que deverá gerar forte crescimento da demanda. A combinação de crescimento da demanda com agentes mais produtivos, em menor número e com mais acesso ao mercado de capitais, indica crescimento do investimento e, portanto, do crescimento de longo prazo. É nisto que acredito e por esta essência movo o meu trabalho. Vamos juntos e vamos em frente.

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