Paulo César de Oliveira

Brasil na contramão do mundo

É preciso evitar que a CPI vire um campo de batalha eleitoral


Publicado em 04 de maio de 2021 | 03:00
 
 
 
normal

Para ficar no ambiente militar, tem a história da mãe do recruta do passo certo. Talvez muitos conheçam a história daquela mãe orgulhosa que foi ao desfile para ver o seu filho recruta. Quando a tropa passou, seu filhinho marchava totalmente fora do passo dos demais. Mesmo assim, orgulhosa e eufórica, ela dizia aos que estavam ao seu lado: “Olha lá, meu filho é o único que está marchando certo. Os outros é que estão com o passo errado”.

Lembra bem o momento que o Brasil vive. Estamos na contramão do mundo na luta contra o coronavírus e insistimos como ineficiente o que o mundo civilizado, e até mesmo o menos, aponta como únicas medidas eficazes para conter o aumento de infectados, como o distanciamento social, o uso de máscara e, nos casos extremos, o lockdown. Receitamos remédios que até mesmo os seus fabricantes reconhecem como ineficazes para um mal explicado tratamento precoce e, no auge do radicalismo, defendemos nas ruas do fim da democracia para garantir o direito dos que querem ser livres para se infectar e infectar os outros.

Nosso passo é diferente dos passos do mundo civilizado que, com as medidas que repudiamos, mais as vacinas que demoramos a adquirir por simples e mesquinhas querelas políticas.

Se estivéssemos no passo certo, talvez evitássemos parte das 400 mil mortes que já registramos. Muitas dessas mortes devem ser atribuídas à má gestão da crise. Definitivamente não podem ser ingenuamente justificadas como consequência natural da vida.

Tanto há erros, por dolo ou ineficiência mesmo, que o desgoverno insiste em combater com todas as armas, inclusive colocando os inocentes úteis nas ruas, a CPI da Covid, numa tentativa de desviar o foco das apurações para investigar ações de prefeitos e governadores, como se esta fosse função de senadores.

Há, sim, muito o que apurar e, por mais que insistam em desqualificar a CPI, é, sim, constitucionalmente, dever do Legislativo investigar atos e omissões do Executivo, e esta é uma das missões mais nobres dos parlamentares. O Legislativo não é apenas para fazer leis e referendar vontades dos outros Poderes.

Agora, é preciso que se impeça que a CPI vire um campo de batalha política eleitoral. É preciso que não se brinque com a desgraça do povo brasileiro e que não se paralisem todos os outros trabalhos para se promover um Carnaval bem ao gosto dos nossos despreparados políticos.

A CPI não pode se ater, como querem alguns, aos desvios de recursos – graves, sim, mas, para estes casos, existem os outros órgãos de fiscalização que alguns querem ver apurando tudo, como os desmandos políticos (estes, sim, os maiores responsáveis pelos nossos dramas na pandemia).

Mas que ninguém acredite que apenas a CPI, mesmo que ela seja séria, o que sua composição não sinaliza, vá resolver nossos problemas. É preciso que cada um de nós faça sua parte, respeite os protocolos e faça ouvidos moucos, não dando atenção aos que pregam o contrário. A crise não apagou e, quanto mais resistirmos ao prudente, mais vamos prolongá-la. Para a crise econômica, precisamos achar saída na economia. A solução não está, com absoluta certeza, no desrespeito às regras sanitárias.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!