Paulo César de Oliveira

Melhor não radicalizar, o pior pode vir

A crise econômica, por si, exige ações coordenadas


Publicado em 11 de maio de 2021 | 03:00
 
 
 
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O enunciado da Terceira Lei de Newton é bem conhecido: “A toda ação há sempre uma reação oposta e igual intensidade”. Sim, é uma lei de física, mas que se aplica em tudo na vida e com muita intensidade na política. Daí o risco que corremos.

Na medida em que radicaliza seu discurso, como aliás sugere o seu filho e guru da comunicação, Bolsonaro apressa a formação de uma oposição mais aguerrida e que, com certeza, vai contrapor-se com um discurso radical, criando uma tensão política que não interessa ao país e, muito menos, aos afores econômicos.

Falo, aqui, oposição, não a esquerda, como os bolsonaristas rotulam aqueles que deles ousam divergir. Acho quase uma piada chamar Lula e Ciro de esquerdistas. Prefiro, então, oposicionistas, embora haja inegável convergência de pensamento e discurso entre eles.

Mas voltemos ao que anda preocupando a parte crítica da sociedade. Quem sustenta o discurso ameaçador do presidente, como essa história de ter voto impresso ou não ter eleição? Claro que Bolsonaro, assim como Trump imaginava nos Estados Unidos, acredita ter um forte grupo de sustentação, seja em forças legais ou não. Trump desafiou a todos com denúncias de corrupção eleitoral – como faz o nosso presidente –, e acabou fragorosamente derrotado, mesmo com a violência de seus apoiadores, que em muito se assemelham aos seguidores de Bolsonaro.

Além da questão eleitoral Bolsonaro, talvez estimulado a radicalizar sua fala como forma de desviar o foco de seu governo que, até aqui, fracassou em suas propostas, tem usado um tom ditatorial em pronunciamentos em ameaças aos outros Poderes e seu adversários, se escudando em “seu Exército”. Mas em qual Exército? E até onde vai este apoio?

Dizia um amigo, que prestou serviços como oficial no Exército, que a unidade da tropa só existe nos exercícios de “ordem unida” no mais, as divergências entre seus membros existem, como em qualquer grupo social. Estas falas não podem acirrar as divergências nas Forças Armadas? Uma sociedade dividida e radicalizada, divisão que se acentua ainda mais pelo componente da religião irresponsavelmente explorado por alguns, é tudo que o Brasil não pode enfrentar neste momento.

A crise econômica que estamos atravessando é preocupante e, por si, já exige ações coordenadas entre governo e sociedade, com o mínimo possível de atritos políticos que possam prejudicar acordos internos e arranhões em nossa imagem externa. Mas nossas dificuldades estão apenas começando. O esforço maior está ainda por vir. A questão é o que seremos no pós-pandemia. Estamos atrás do mundo, exceção para o agronegócio, e precisamos construir tudo.

O pior é que nos falta o principal neste processo de reconstrução: falta-nos liderança e uma sociedade capaz de se mobilizar na busca de consensos, sem radicalismos inúteis. Conseguiremos?

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