Paulo César de Oliveira

Um país à deriva

Uma nova queda de braço entre os Poderes


Publicado em 13 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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A semana que passou foi uma semana de horror, com mais de 20 mil mortes, deixando claro que, por mais que alguns queiram negar, estamos realmente com um problema seriíssimo, sem sabermos como enfrentar a crise da pandemia, que, em um ano, já provocou a morte de 350 mil brasileiros de todas as faixas etárias, de todas as classes sociais, de todas as raças e de todas as crenças religiosas.

Como se não bastassem as dificuldades no enfrentamento de uma doença sobre a qual pouco ou quase nada o mundo conhece, no Brasil ainda conseguimos transformar uma crise sanitária numa crise econômica e, especialmente, numa crise política.

Conseguimos agravar um problema por si ainda insolúvel e transformamos o Brasil num pária internacional e o brasileiro num cidadão malvisto no mundo, pelo risco que carrega de propagação de um vírus indomável, com uma impressionante capacidade de mutação e uma enorme carga de letalidade.

A nova queda de braço, exposta na semana passada, entre o Supremo Tribunal Federal e a Presidência da República, que não gostou da decisão do ministro Luís Roberto Barroso de determinar que o Senado instale a CPI da pandemia, só agravou a instabilidade institucional no país. E não vai levar a lugar algum, mas apenas tumultuar o país.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mineiramente, vinha protelando instalar essa CPI por não ver nela, neste momento, qualquer benefício para o país. Agora, diante do fato consumado, Pacheco já avisou que instalará a comissão e que a presidência do Senado não vai exercer nenhuma influência em seu funcionamento.

Há, porém, entre os mais sensatos, uma discreta torcida para que, na sessão convocada para amanhã, o plenário do STF encontre uma saída jurídica para revogar a decisão do ministro Barroso, desobrigando, assim, o Senado de instalar, imediatamente, a CPI da Covid. Mas de nada adiantará o STF encontrar uma saída estratégica – o que não é incomum na Casa – se não houver a disposição de nossos políticos, em especial do presidente Bolsonaro, de controlar esse estado de beligerância que vige no país.

Provocar crises, acusar adversários transformados, deliberadamente, em inimigos a serem abatidos não vai nos tirar da crise sanitária que vai arrefecendo no mundo e recrudescendo aqui. A hora é de lucidez, não de estupidez. Esqueçam o palanque de 2022 e busquem, todos, um lugar à mesa para debaterem de forma civilizada o problema. Se não têm capacidade para o diálogo, escolham, entre seus grupos, quem a tenha e permitam que a capacidade de pensar no interesse maior do país encontre não uma solução imediata, pois isso não existe, mas um caminho seguro que nos leve para fora da crise. Se não forem racionais, e se continuarem estimulando o radicalismo inconsequente, correm o risco, e nos impõem esse risco, de levar o país para uma situação de ingovernabilidade.

Estamos vivendo um desencontro geral, em que cada um pensa e age mirando apenas seus interesses. Mudem, mudem rapidamente de comportamento. O que se vê à frente é ruim para todos.

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