Os dois principais candidatos à Presidência exibiram suas armas nos últimos dias. Lula declarou apoio à ditadura cubana e menosprezou as manifestações populares na ilha que clamam por liberdade e democracia; com largo sorriso no rosto, Bolsonaro abraçou a líder do partido de extrema direita da Alemanha, deputada Beatrix von Storch, cujo avô foi ministro das Finanças de Hitler. Esses gestos não são fortuitos. Em política não há ato inútil, e o simbolismo tem muito significado. Os dois candidatos provam não ter apreço e tampouco compromisso com a democracia liberal.
Sombrio parece o futuro do Brasil, submetido a paixões radicais, agressividades mútuas e disputas de ambições. Sombrio será o futuro do Brasil a prevalecer a polarização tóxica entre dois candidatos populistas que ambicionam o poder, desprezam a liberdade e não medem os meios para atingir seus objetivos.
Os desdobramentos da política brasileira como ela está atualmente refletem apenas o lado lúgubre das tendências de forças em oposição no mundo, nas últimas décadas.
Essas forças têm, de um lado, o obscurantismo baseado em crenças, na autocracia, na força da dominação, inclusive pelas armas. O poder concentra-se nas mãos de um tirano, quase sempre populista, vaidoso e inculto, que não aceita opiniões contrárias, nem eleições, se os resultados não lhe forem favoráveis. A violência, em todas as suas formas, o culto à personalidade, às ideais nacionalistas e corporativistas e à mentira submetem o povo à opressão e ao medo. O regime soviético, as antigas repúblicas socialistas do Leste Europeu, Cuba, o fascismo e o nazismo são expressões desse tipo de governo.
E, de outro lado, o liberalismo que deu ao mundo a economia de livre mercado e o governo do povo para o povo, com seus mecanismos de freios e contrapesos, respeito ao contraditório, negociações políticas por intermédio de partidos, alternância de poder, liberdade e equidade, onde todos são iguais perante a lei e, acima de tudo, racionalidade, uma conquista do progresso da ciência e do conhecimento.
As manifestações de Bolsonaro e de seu ministro da Defesa ameaçando que poderá não haver eleições sem votos auditáveis, a politização da CPI da Covid e o risco de impeachment são fatores de instabilidade que estimulam a radicalização e ameaçam a democracia.
A disputa pela Presidência no Brasil hoje se resume à agressividade e às ambições de dois candidatos obscurantistas. É preciso que aos eleitores seja dada a oportunidade para escolher se querem democracia ou autocracia, debate fundamental no mundo ocidental.
Ainda há tempo para isso. Sei que é apenas um sonho, mas, como cantou Raul Seixas, “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”.