Em sua magnífica obra de 2000, ao encerrar mais um século de existência, fazendo um balanço da história de seu país, Carlos Fuentes observou que “o México e a América Latina criaram uma fachada legal modernizadora que escondeu um país atrasado, injusto”. “A liberdade foi proclamada, a igualdade foi esquecida”, concluiu. Passados 20 anos, vemos que na região, e no Brasil em particular, a liberdade não se materializou integralmente porque a desigualdade não apenas manteve-se, mas ampliou-se. Desenvolvimento só será duradouro e liberdade só será integral se ambos forem para todos.
O presente é uma passagem entre o passado e o futuro, trazendo daquele a herança e buscando neste a realização do sonho. O Brasil vive atualmente um de seus mais complexos momentos dessa passagem. Sua história acumula acertos e erros que resultaram em uma nação injusta e desigual, embora com abundância de recursos naturais e humanos; nas últimas quatro décadas, sua economia perdeu o vigor; neste século, seu crescimento é pífio e volátil, resultando em estagnação da renda per capita.
Poucos foram os períodos de esperança de retomada da prosperidade, como no caso do Plano Real nos anos 90 ou na expansão nos primeiros anos deste século, seguindo o boom das commodities e o bônus da estabilização monetária, mas o país perdeu as oportunidades para entrar na rota do desenvolvimento com eficiência e equidade. Se não mudar, caminhará para uma longa estagnação.
No próximo ano, o país vai escolher o que pretende para seu futuro. Até agora, os olhares estão fixos no retrovisor da história. As duas alternativas que se apresentam com maior preferência eleitoral carregam vícios e erros do passado. A experiência petista nos legou, no plano econômico, profunda recessão, desequilíbrio fiscal e desemprego e, no plano político, indecente corrupção sistêmica documentada no volume de recursos encontrados em cuecas, malas, apartamentos e contas bancárias no exterior.
A experiência bolsonarista alicerça-se no ódio e na virulência, nas mentiras das fake news e na ausência total de compromisso com o bem comum. O descaso com a pandemia fala por si só. Insiste manter-se no poder um presidente personalista, que terceiriza seus erros e omissões, que cuida apenas dos interesses seus e de seu clã, que promove o conflito com governadores e com os outros Poderes e que ameaça as instituições democráticas.
Essas duas alternativas representam a projeção para o futuro do passado que atravanca o progresso, dilapida as instituições e põe em risco a liberdade conquistada. É hora de sonhar. Que o futuro ilumine o presente e influencie a escolha de novo caminho que não seja a dilacerada disputa do passado, mas a via da prosperidade, da liberdade e da equidade.
Não deixe o futuro repetir o passado.