Imagina ir a um teatro só para ter o prazer de vaiar, criticar, jogar tomate. Foi o que ocorreu em 1922, na Semana da Arte Moderna. Os tradicionalistas, sem perceber, auxiliaram um movimento que poderia ter sido pequeno a se tornar gigante. Dizem que Oswald de Andrade chegou a pagar para que estudantes jogassem tomates nele próprio durante a declamação de um poema, simplesmente pela polêmica. Afinal, o movimento chamou atenção, falaram tão mal que todo mundo quis saber sobre o que era. Começou, assim, o modernismo.
De lá para cá, o tempo passou, mas o ser humano não mudou tanto assim. Amamos uma polêmica! Hoje há um tribunal nas redes sociais, com assuntos que são eleitos semanalmente como controversos; pode ser um vídeo, uma música viral, as tais trends, a gente entra na onda e, sem perceber, faz alguém ganhar com isso.
É realmente interessante o efeito manada que está presente no comportamento humano e que as redes acentuam. De forma muito “en passant”, vou citar Friedrich Nietzsche, que explica que, como animais, nos movimentamos em grupo; se uma parte do grupo vai, os outros vão junto. Não queremos ficar fora, fazemos porque todos fazem, comentamos porque todos comentam.
A questão é que a maioria segue a opinião de outra pessoa ou grupo irracionalmente, sem analisar os fatos ou fundamentos e sem dominar nem mesmo conceitos; a pessoa fala sem estudo na área ou sem lugar de fala. É um comportamento impulsivo que nos permite nos sentir parte do rebanho.
Há também alguns poucos que não entram no jogo e não se prestam a modismos. Estes, se não tiverem grande autoestima, se sentem isolados e ficam deslocados dos assuntos “da moda”, além de gerarem um incômodo ainda maior por não fazerem parte da manada.
A grande reflexão que faço, no entanto, é que, enquanto uns agem por impulso, alguns poucos fazem uso consciente do sistema para engajar. São os que nos dominam, sem que ao menos sintamos que estamos sendo dominados. Isso é perigoso!
Não estou aqui ditando regras e defendendo que devemos entrar ou não nas polêmicas, só gostaria que estivéssemos mais conscientes. O que defendo é que sejamos verdadeiros com o que temos dentro de nós. Se não quero ir com o grupo, simplesmente não vou; se quero, vou; se desejo dar uma opinião, reflito, inclusive, sobre o domínio que tenho a respeito do assunto para saber se é meu lugar de fala.
Lembre-se de que, sempre que um assunto entra em evidência, isso o torna importante – “falem bem ou falem mal, falem de mim” – e, como disse Munzfeld, “quem não é visto não é lembrado”.
Então, vou defender o de sempre: comunique-se de forma consciente. Se quer dar palco para algo, dê; entre no assunto que quiser; mas seja você, não o que o outro quer que você seja; se o assunto não lhe pertence, esqueça, você não tem de ir com a manada. Comunicação tem de ser consciente!