Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

A pandemia chegou

O Brasil nunca viveu guerras, e o DNA nacional não está preparado para uma emergência devastadora

Por Vittorio Medioli
Publicado em 05 de abril de 2020 | 03:00
 
 
 
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Os dias passam, e a gravidade aumenta. A preocupação e a insegurança tomam conta das pessoas. Se, de um lado, agem com alerta e estimulam precauções, do outro crescem o desespero e o desalento, especialmente de pessoas que, de uma hora para outra, se encontraram sem renda e perspectivas. O Brasil nunca viveu guerras, e o DNA nacional não está preparado para uma emergência devastadora.

No vácuo de decisões acordadas em uma mesa de articulação, restou para cada Estado e até município agir de forma própria. Não se estabeleceu ainda um padrão consensual de enfrentamento. Essa situação deixa a Covid-19 de rédeas soltas e sem direção. Parece que as atenções se voltam mais à mídia e à cobertura da pandemia. Existe um tanto de sensacionalismo e, ainda, de viés político nesta situação de sobrevivência.

Isso é triste, e, num ano eleitoral, a situação complica-se sobremaneira. O não adiamento da agenda eleitoral agitou, na última semana, quase 1 milhão de pré-candidatos a vereadores e prefeitos nas ruas, descuidando de mínimas precauções, apertando mãos e dando abraços e tapinhas nas costas. Tanto isolamento quanto distanciamento, máscaras e álcool foram deixados de lado.

Pela regra estatística, já clara depois de tantas matérias veiculadas, o coronavírus teve a seu favor um aliado poderoso. Em breve, teremos mais casos, e, provavelmente, aceleração e agravamento. Se o ambiente eleitoral persistir, podem-se imaginar as consequências, além do desperdício de fundos públicos e recursos privados em pleno furação.

O problema não é apenas do Brasil. Nota-se que, em países que ostentam governos autoritários e centralizados, o combate à pandemia tem um rumo mais alinhado com as reais necessidades. Não há eleição em curso em qualquer país. Todas foram adiadas por tempo indeterminado, para tirar de cena uma tendência de conflitos relacionados à política. O eterno debate entre lados opostos deixa o oportunismo e os interesses subalternos soltos. O TSE deixou a agenda eleitoral sem mudanças, apesar de a pandemia correr solta.

O Brasil tem situações climáticas que ajudam o combate à doença. São poucos aqueles que contraem gripe e resfriados num clima quente e ensolarado. As cidades com grande trânsito em suas vias e indústrias poluidoras apresentam maiores índices de doenças respiratórias. O ar mais puro e o sol estão a favor do Brasil.

Neste momento, a proteção de uma máscara, seja qual for, diminui as possibilidades de contágio e de disseminação do vírus. Registra-se em países do Leste Europeu que adotaram em massa essa precaução um contágio muito menor. Nas ruas e nos locais públicos, todos deveriam ser obrigados a cobrir boca e nariz ao menos com um lenço para evitar que a saliva se propague e contagie outros – o equipamento também protege quem o usa, pois “filtra” o ar que é respirado. Claro que um número maior de camadas de tecido ou o uso de máscaras profissionais proporcionariam uma melhor proteção nos dois sentidos. Essa prática, adotada por todo homem público, pode ser um exemplo. Um bom exemplo.

Resta ver como a pandemia atingirá a população que vive em moradias precárias e em aglomerados e se o sistema público de saúde suportará as piores ondas.

Nestes dias, em Betim, montamos um aparato de enfrentamento, instruindo as portas de entrada da saúde municipal, UBSs e UPAs, a direcionar os casos que se apresentam como suspeitos ao Hospital de Campanha, preparado no Clube da Fiat (cedido prontamente pela FCA ao município). Nesse centro, haverá tratamento e atendimento dos casos que não requerem ventilação dos pulmões. Os casos graves são enviados ao Centro de Terapia Intensiva, numa torre do hospital da cidade, com 170 leitos, que foi dedicada para atender as situações que demandam a intubação de pacientes. A recuperação, depois, de negativados, quando necessária, será num terceiro local, no imenso Clube da Fiat.

Importante é não dividir espaços de contagiados com outras patologias. Essa guerra pode ser vencida. Precisa de foco, união e serenidade para aceitar o desafio, cada um contribuindo como bom soldado neste terrível enfrentamento.

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