Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

O novo surto

É preciso aprender rapidamente a lição e considerar que os efeitos da pandemia são proporcionais aos descuidos que podem ser evitados

Por Vittorio Medioli
Publicado em 10 de janeiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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A Covid-19 recuou e parecia controlada, nas últimas, e mais intensamente, nos últimos dias, ficou evidente que o pior ainda pode estar por vir. 

Alguns fatores contribuíram para essa explosão. Um esperado: as eleições municipais, mesmo quando não havia vacina no horizonte, foram mantidas no calendário de 2020 pelo Congresso, por cálculo de interesse meramente em causa própria. O desrespeito com a população é gritante, porque, enquanto o Congresso está de quarentena, os eleitores devem ir às urnas. Mais: centenas de milhares de candidatos e seus cabos caçando votos em cada esquina. 

Os registros oficiais mostram que a mortalidade em geral (como publicou O TEMPO da última quarta-feira) em Belo Horizonte caiu ao menor número de 2020 em outubro, com 23 óbitos/dia, mais baixo que nos meses de janeiro e fevereiro, antes da chegada da Covid, com médias diárias de 28 e 27, respectivamente. O mês de julho marcou o ápice da mortalidade do ano, com 41 óbitos/dia. Em agosto foram 35; em setembro, 31. De 23 em outubro, o mês de novembro registrou 26/dia, já o mês de dezembro igualou setembro, com 31 óbitos/dia. E neste fim de semana os cemitérios da região metropolitana de BH tiveram muito, muito trabalho. 

A compulsão pelos festejos e comemorações de final de ano colocou em movimento um mecanismo de árduo controle, os jovens num momento de abstinência de atividades que foram reprimidas ao longo dos últimos nove meses. 

Colabora também o sentimento de que a Covid entre jovens é uma “gripezinha”, quando não é totalmente assintomática. Nos pontos de encontro, os points, o uso de máscaras foi minguando, e parece até que quem a usa é tachado de não valente ou de frouxo. Claro que nem todos, mas a maioria que frequenta os encontros, os bares, as praças tradicionais de paquera, os shoppings com seus rolês, pouco se importa. Uma mãe me explicou que as meninas vão a esses locais para mostrar suas beldades. Abraços e beijos voltaram ao pré-pandemia, as bebidas em copos compartilhados, e, ainda, as “alcoólicas” (que a Justiça liberou) promovem com seus efeitos etílicos a propagação. 

Quase um estouro de gente encheu praias no litoral, pontos de recreio e lazer, em especial com uma juventude reprimida tirando o atraso de 2020. 

Pois é, a cada momento recebo mais e mais relatos escabrosos de amigos, parentes e conhecidos. As festas de Escarpas do Lago, do Sul da Bahia, das praias no Espírito Santo, nos sítios, nas praças parecem não ter poupado ninguém. Um amigo me relata que na pousada de Trancoso “todos” os 18 funcionários pegaram Covid, um grupo de 14 festeiros voltou do interior de Minas 100% infectado etc. Filhos de conhecidos e de parentes, não tem um sem um horror para relatar. Se, felizmente, os jovens mostram sintomas brandos, os pais, avós e outros pagam caríssimo, e muitos com a vida. 

Vejo também que as pessoas, devido ao abrandamento de setembro e mais ainda de outubro, calculavam ter escapado, e também a cura está mais eficiente com um coquetel precoce de medicamentos, como ivermectina, Tamiflu, azitromicina, hidroxicloroquina, vitaminas C, D etc. Só que pessoas idosas demoram a se consultar, a sair de casa e tardam a comparecer a Unidades de Pronto-Atendimento (UPA), quando já perderam o momento certo de enfrentar o vírus. 

A letalidade no Brasil, apesar de se alardearem 200 mil óbitos, chegou à média de 96 óbitos/100 mil habitantes, enquanto países como a Bélgica estão com 173/100 mil, e a Inglaterra, com 120/100 mil. 

São dados que deveriam ser colocados constantemente para poder medir o efetivo risco de perdas humanas que temos ainda pela frente. 

O melhor enfrentamento, até a vacina chegar, é a conscientização, especialmente dos jovens. O trabalho, o comércio, o transporte de passageiros, os cultos religiosos e a “vida normal” são atividades imprescindíveis e administráveis, assim como o desempenho do mês de outubro mostrou, com o Brasil de volta à normalidade com responsabilidade. 

É preciso aprender rapidamente a lição e considerar que os efeitos da pandemia são proporcionais aos descuidos que podem ser evitados. 

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