Perfil

Direto de Curvelo 

Engenheiro chefe da multinacional em BH, Berthier Ribeiro-Neto é referência na área

Por Priscila Brito
Publicado em 25 de abril de 2015 | 03:00
 
 
 
normal

Quando era pequeno lá em Curvelo, Berthier Ribeiro-Neto não tinha ideia do que iria ser quando crescesse. Mas hoje, olhando para trás, ele nota que os sinais inconscientes que o levariam até o curso de engenharia elétrica da UFMG já se manifestavam. “O engenheiro não se contenta em observar aparatos. Ele tem que abrir e olhar o que tem lá dentro. Quando ainda namorávamos, minha esposa chegava lá em casa, via minha bicicleta toda desmontada no passeio e perguntava: por que você faz isso? É porque eu queria entender”, recorda.

O que nem seu inconsciente poderia antecipar é que ele se especializaria em “desmontar” e entender um dos ativos mais preciosos do século XXI: o algoritmo de busca do Google. Engenheiro chefe do escritório da multinacional em Belo Horizonte, o principal centro de engenharia da empresa fora da sede norte-americana, Berthier é também uma das poucas pessoas dentro do Google que domina a complexa série de processos e fórmulas que fazem o site de pesquisa funcionar.

Pular da engenharia para a computação foi uma questão de senso de oportunidade – e também de falta de oportunidade. “Me formei em 1982. Era a década perdida no país e não tinha emprego. Decidi continuar estudando e computação começava a aparecer no horizonte. Decidi fazer pós-graduação em algo que era novidade”, conta. Do mestrado no Brasil e doutorado na Califórnia viriam a especialização na área de sistemas de recuperação da informação, tecnologia central para todo mecanismo de busca.

Foi o domínio dessa área que levou Berthier, juntamente com o chileno Ricardo Baeza-Yates, a ser o autor do que é considerado hoje um dos livros de ciência da computação mais citados da história, “Modern Information Retrieval” (1999) – que, a propósito, serviu de referência até para os fundadores do Google. “O livro estava bem na fronteira do que era conhecido e saiu no momento de ascensão da web. Existia uma carência enorme nessa área. O livro era ‘a’ referência”, diz o engenheiro, com a proeza de sublinhar a relevância do próprio trabalho sem soar convencido.

Com a expertise veio também a fundação, em 2000, da Akwan, empresa detentora de um serviço de busca que, à época, estava à frente do Google em determinados aspectos, o que obrigou a multinacional a comprar a pequena empresa e se instalar em Belo Horizonte. Hoje, dedica quase dez horas do seu dia para chefiar o centro de engenharia do Google na cidade, mas mantém uma rotina sagrada de preservar as manhãs para si próprio. “Meu dia (no escritório) raramente começa antes das 9h”, enfatiza. Os algoritmos têm que esperar o engenheiro correr – ele mantém um grupo de corrida há 20 anos –, pedalar e arriscar jogadas de tênis.

Mais que isso ele não revela. Reservado, de fala calma, guarda características daquilo que alguns identificam como o estereótipo do mineiro, mas ele próprio tem suas mineirices bem particulares, herdadas de seus avós. “Eu fui criado numa família em que as pessoas só fazem o que é direito. Homem anda na linha, anda reto. A gente precisa mais disso no Brasil. Pra mim, a marca de ser mineiro é isso”, define.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!