Artes Cênicas

Louca por musicais

Com 30 anos de musicais, Claudia Raia estrela e produz adaptação da Broadway

Por Priscila Brito
Publicado em 04 de abril de 2014 | 12:33
 
 
 
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Capricorniana de 23 de dezembro, Claudia Raia, 47, leva a sério o que a astrologia diz sobre as características de seu signo. “Quando eu gosto de uma coisa, eu mantenho isso no meu coração e na minha cabeça com muita força”, descreve-se. Foi assim com o musical “Crazy For You”, baseado no livro de Ken Ludwig. A atriz assistiu o espetáculo da Broadway ‘in loco’, em 1992, e desde então alimentava a ideia de montar uma versão brasileira da comédia romântica que opõe Polly, sua personagem, uma mocinha com jeito de durona, às investidas do rico e delicado Bobby, vivido por Jarbas Homem de Mello. Mais de duas décadas depois, Claudia transformou sonho em realidade e o público mineiro vai poder conferir a versão brasileira de “Crazy For You”, de 10 (quinta) a 13 (domingo), no Sesc Palladium. 
 
A cena do teatro musical no país, ainda incipiente nos início dos anos 90, impediu a atriz de levar o projeto adiante. Seria preciso formar um elenco de 26 pessoas que atuassem, cantassem, dançassem e sapateassem – segundo ela, o garimpo de bons artistas é difícil ainda hoje, mesmo com a crescente montagem de musicais no eixo Rio-SP, em uma história que ela própria, também bailarina e cantora, ajudou a construir. Como capricorniana assumida, ela persistiu na ideia motivada pela qualidade que acredita ter o espetáculo. “É difícil encontrar um musical que seja tão completo como ‘Crazy for You’. É uma comédia rasgada, uma história de amor linda, e um espetáculo inteiro de sapateado”, detalha Claudia, ressaltando que este é o primeiro musical de sapateado da Broadway produzido no Brasil – os números acontecem até “em cima de lata de lixo e no telhado”, brinca a atriz, que convidou Miguel Falabella e José Possi Neto para assinarem a adaptação e direção, respectivamente.
 
Sapateado
 
A realização do sonho de mais de duas décadas, porém, veio com duas tarefas árduas. A primeira foi retomar os laços com o sapateado, técnica de dança que ela não praticava há quase nove anos. “Me deu uma louca, porque eu tinha um ano para me preparar. O pé fica duro, mais lento. Tive que fazer aulas novamente”, conta. O musical, inclusive, é dedicado ao professor que formou Claudia no sapateado, o coreógrafo Flávio Salles, morto em 2011. “Era o musical dos sonhos pra ele”, conta. O segundo desafio foi adaptar sua voz a uma natureza diferente. “Foi uma loucura. Quase que dei a volta ao mundo três vezes porque o maestro me colocou para cantar uma partitura de soprano e eu sou uma contralto. Mas acabou sendo maravilhoso. Nunca tive um desafio tão grande como cantora e acho que tive um crescimento vocal impressionante nesse espetáculo”, avalia.
Claudia canta oito dos 24 números musicais, todos eles de autoria dos irmãos George e Ira Gershwin, dupla fundamental para a formação do cancioneiro norte-americano. “Someone To Watch Over Me”, “Embracable You”, “I Got Rhythm”, dentre outras, são cantadas pelo elenco em bom português, resultado de um trabalho de tradução feito por Miguel Falabella. “Traduzir Gershwin é uma tarefa difícil e só um cara como ele, que fez Letras na faculdade, com ênfase em inglês, conseguiria. Ele conhece a palavra profundamente e é também um dramaturgo poético”, elogia. 
Na pele de Polly, a atriz ora faz solos, ora divide os vocais com seu par nos palcos e também namorado, Jarbas Homem de Mello, intérprete de Bobby. Criada somente por homens em um pequeno vilarejo distante da dinâmica Nova York, a moça com trejeitos masculinos tenta resistir o quanto pode às tentativas de aproximação do playboy Bobby, rapaz rico, bem educado e criado na dinâmica Nova York pela mãe, uma banqueira. Quem for detalhista, vai notar que a paixão latente do casal não é expressa só pelas famosas love songs de Gershwin ou pelo texto. Em “Crazy For You”, destaca Claudia, a coreografia também é carregada de dramaturgia. 
 
“Nenhum movimento (de dança) é apenas pelo movimento. A coreografia conta a história, é como se fosse um texto. Há um momento em que ele a convida para dançar, ela rejeita porque não sabe, mas, como está apaixonada, acaba se entregando. E não há nenhuma fala nesta passagem, estou descrevendo apenas a coreografia. É um pas de deux que tem uma dramaturgia impressionante”, observa.
 
“Ou vai ou Raia”
 
]Completando exatos 30 anos desde que atuou em seu primeiro musical no Brasil, “A Chorus Line”, outra produção da Broadway que, no Brasil, teve tradução de Millôr Fernandes, Claudia festeja o crescimento que a produção de musicais no Brasil experimentou desde então, principalmente em tempos recentes. “São sete ou oito musicais em cartaz ao mesmo tempo com equipes fantásticas”, contabiliza a estrela de “Não Fuja da Raia” (1991), “Nas Raias da Loucura” (1993) e “Caia Na Raia” (1996). “Quem sabe ainda não faço ‘Ou Vai ou Raia’ quando estiver velhinha?”, diz, gargalhando.
 
No entanto, ela não deixa também de reconhecer como ainda é difícil garimpar bons artistas, que cantem, dancem e encenem no mesmo nível, e como as produções são caras. 
Tem reservas também contra quem não entende o processo de desenvolvimento do gênero no país. O jornalista e escritor Ruy Castro, em duas de suas colunas para o jornal “Folha de S.Paulo” no último mês, reclamou que os musicais produzidos no Brasil carecem de músicas originais, feitas por compositores brasileiros. “Fala pra ele ter um pouco de calma. A gente está aprendendo a fazer isso ainda. É uma tradição norte-americana e a gente sabe fazer teatro de revista. A gente ainda está criando essas pessoas (os profissionais) e, como não tem condições ainda de fazer conteúdo nosso, a gente faz os de fora. Acho uma visão nada interessante”, critica, com delicadeza. 
 
“Búu”
 
No fim do ano, Claudia voltará à TV em “Búu”, novela substituta de “Geração Brasil”, que estreia no dia 5 de maio na faixa das sete. A novela é de autoria de Daniel Ortiz, supervisão de Sílvio de Abreu e direção de núcleo de Jorge Fernando. A atriz viverá uma vilã, Samanta, que na infância teve o dom de falar com espíritos, mas na fase adulta apenas dá uma de charlatã enganando as pessoas com sua habilidade perdida. É uma personagem, em tese, “do mal”, mas diferente de Lívia Marina, sua vilã de “Salve Jorge”. “Só aceitei fazer uma vilã em seguida porque é uma vilã cômica. Dá tudo errado pra ela”, conta.
 
“Crazy For You”
Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1.046, centro, 3270-8100) Dias 10 (quinta) e 11 (sexta), às 21h. Dia 12 (sábado), às 21h30. Dia 13 (domingo), às 17h. R$ 220 (plateia 1, inteira), R$ 190 (plateia 2, inteira), R$ 120 (plateia 3, inteira)

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