Artes Cênicas

Por dentro de Minas Gerais 

Redação O Tempo

Por Bárbara França
Publicado em 28 de fevereiro de 2015 | 03:00
 
 
 
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Na Minas do escritor Guimarães Rosa, há tanta serra, tanta serra que “esconde a lua”. Tem a serra do Estrondo, a serra do Roncador, a serra do Cafundó, onde ouvir o trovão e o “retrovão” faz tapar os ouvidos e quase chorar, lembrando os medos de quando se era menino. Mas, como se sabe, o Estado não é só altitude, afinal, na lisura do relevo do Triângulo, onde a lua ilumina o horizonte que se perde de vista, também há muitas Minas... Inclusive, a Minas de Rosa, como mostra o espetáculo “Por de Dentro”, em cartaz em BH na próxima semana. 

 
Realizado pelo Grupontapé, de Uberlândia, em parceria com o ator e dramaturgo Eduardo Moreira, do Grupo Galpão, a peça comemora os 20 anos da companhia e tem como ponto de partida contos do escritor de Cordisburgo a fim de explorar a ancestralidade do homem mineiro e questões que envolvem seu estar no mundo de uma maneira universal. “Sempre foram interesses nossos temas como travessia, vida e morte, amor, relações familiares, e dessa vez, também queríamos trabalhar com o tema do proibido, da religiosidade... Durante nossa pesquisa, estávamos lendo Guimarães Rosa e encontramos em seus contos as provocações que vínhamos trabalhando”, conta a diretora Kátia Lourenço.
 
Segundo ela, a ideia de trabalhar com o amigo do Grupo Galpão era vontade antiga da trupe do Triângulo Mineiro, com quem ele sempre mantinha contato e interlocução. O interesse do dramaturgo na obra de Guimarães Rosa veio bem a calhar para as discussões sobre mineiridades e cultura popular em que eles estavam imersos. A interação foi tanta que, além de Moreira escrever o texto da peça, também assumiu a batuta da direção com Kátia. “O Eduardo participou ativamente do processo de criação, posso dizer que a terra que a gente removeu está debaixo da unha dele também”, comenta. 
 
Ruralidade
 
“Por de Dentro” é formado por duas partes livremente inspiradas nos contos “Corpo Fechado” do livro “Sagarana” e “Buriti” da obra “Noites do Sertão”. O primeiro momento da peça aborda a vida em comunidade, com as beatas, os bêbados, as fofoqueiras e demais personalidades quase folclóricas das cidadezinhas do interior. Já o segundo se fecha no ambiente de uma fazenda, onde três mulheres experienciam diferentes relações familiares. “Partimos do desejo dos atores do grupo de falarem um pouco sobre essa questão de Minas, de Uberlândia, da realidade pessoal deles”, lembra o dramaturgo. 
 
Segundo ele, era interessante perceber como no diálogo entre moradores de duas das maiores cidades mineiras a ruralidade sempre surgia como ponto de referência. “Seja em Uberlândia ou BH, nossos familiares e antepassados vieram de uma realidade rural. O espetáculo tem uma dimensão humana, trata muito dessa questão do homem, da mulher, da cidade, do campo, do viajante, e da pessoa fixa, essa coisa do sertão como um mundo”. 
 
Reflexões enriquecidas pelas canções compostas pelo músico Makely Ka, que já realizou viagens pela região de “Grande Sertão: Veredas”, e pelas preparações vocais da veterana cantora Babaya. Alexandre Galvão ficou por conta da iluminação.
 
Por de Dentro
Galpão Cine Horto (r. Pitangui, 3.613, Horto, 3481-5580). De 6 a 8, e 13 a 15 de março (sexta e sábado, às 21h; e domingo, às 19h). R$ 20 (Inteira). 
 

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