Música

Amigos para sempre 

Sá & Guarabyra, Flávio Venturini e 14 Bis celebram 40 anos de amizade

Por Giselle Ferreira
Publicado em 28 de fevereiro de 2015 | 03:00
 
 
 
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O elo entre “Ponteio”, canção de Edu Lobo e Capinam que venceu o Festival da Record de 1967, Som Imaginário, Secos & Molhados, O Terço e 14 Bis pode escapar aos olhares menos atentos. Mas quem acompanhou de perto a música brasileira dos anos 1970 sabe a resposta: Zé Rodrix (1947- 2009), mais conhecido por ter integrado o emblemático grupo de rock rural Sá, Rodrix & Guarabyra, esteve na premiada banda de Edu, tocou com Milton Nascimento e Ney Matogrosso e pode ser considerado um dos padrinhos das bandas O Terço e 14 Bis.

Não por acaso, Zé é o homenageado do show “Encontro Marcado”, que Sá & Guarabyra, Flávio Venturini e 14 Bis fazem no Palácio das Artes, nos próximos sábado (7) e domingo (8), para registrar as quatro décadas de amizade entre os sete músicos. “O Zé era multi, era tudo. Escritor, poeta, músico, arranjador, produtor. E tudo isso com muita competência. E, sem dúvida, a ‘culpa’ por eu ter engrenado profissionalmente como músico, nesse nível, é dele”, confessa Sérgio Magrão, baixista do 14 Bis, que se sente “cria” do trio Sá, Rodrix & Guarabyra.

“No meu caso, o Zé foi um elo porque foi numa apresentação no Festival de Música de Juiz de Fora, em 1971, que passei de técnico de som d’O Terço a baixista do trio”, conta Magrão, lembrando que a vencedora daquele festival foi “Casa no Campo”, canção de Zé Rodrix e Tavito que posteriormente ganharia uma versão insuperável da cantora Elis Regina.

Dali em diante, o carioca Magrão passou pelo estúdio que Sá, Rodrix & Guarabyra montaram com o maestro Rogério Duprat em São Paulo, integrou a formação de maior sucesso da banda O Terço e ajudou a fundar o 14 Bis.

Tal história se repete com Flávio Venturini, que foi convidado por Sá & Guarabyra para participar da gravação de “Nunca” (1974), primeiro disco da dupla após a saída de Zé Rodrix. A participação naquele álbum alavancou a carreira do belo-horizontino e promoveu seu encontro com O Terço (banda de apoio da dupla em estúdio), que mais tarde daria origem ao 14 Bis – com Sérgio Magrão, seu irmão Cláudio Venturini, Vermelho e Hely Rodrigues, quarteto que segue junto depois do voo solo de Flávio.

Ponte aérea

Entre idas e vindas, pontes aéreas entre Belo Horizonte, Rio e São Paulo, a amizade entre todos estes que marcaram seus nomes na história do rock setentista já dura 40 anos. Magrão credita o duradouro relacionamento à música de altíssima qualidade que os amigos faziam e a ligação por ela formada.

“A minha principal memória dessa época é do quanto éramos criativos. Por toda parte, a música que era feita era bem mais bonita e completa em termos de harmonia, ritmo e melodia. Hoje são pouquíssimos os casos de compositores que alcançam esse patamar”, afirma. “Tenho certeza de que esse projeto tem tudo a ver, por causa disso. Não são artistas tocando juntos: são amigos que têm histórias longas de parcerias. O fato de não vivermos sem música e de nutrirmos esse carinho e respeito uns pelos outros é que sustenta isso”, confessa, como se houvesse combinado o discurso com Sá.

Sá, o carioca radicado em Belo Horizonte, conta que no palco os “amigos que se dividiram em várias bandas” vão se juntar em uma só. “No Palácio tocaremos tudo juntos. É mais simples e melhor porque a gente vai descobrindo novas linguagens, novas versões, vai se renovando. Esses 40 anos de amizade e proximidade musical são como o óleo sobre a água: não submergem nunca e são fáceis de colher de volta. E é a prova, então, de que óleo e água podem, sim, misturar-se com perfeição”, diz, ressaltando o orgulho de ter proporcionado a origem ao 14 Bis, a O Terço, e à carreira solo de Flávio Venturini.

As inúmeras composições de sucesso divididas pelos amigos foram condensadas em 28 clássicos que integrarão o repertório das duas noites de apresentação. Além da turnê, prevista para circular pelo país, o encontro vai render um CD, já em fase de finalização, e um DVD ao vivo. Dos hits, três deles ganharão novos tons, já que “Espanhola”, de Flávio Venturini e Guarabyra, “Caçador de Mim”, de Sá e Sérgio Magrão, “Criaturas da Noite”, de Sá e Flávio Venturini, nunca foram executadas ou gravadas pelos seus compositores juntos.

Apesar do paradoxo que vivem alguns artistas “reféns de seu próprio sucesso”, de acordo com Sá, os amigos – desta vez separados – seguem preparando novidades. “As pessoas querem mais os sucessos do que tudo. Sinto que às vezes somos prisioneiros do nosso próprio sucesso. As pessoas ficam focadas na história e as músicas novas ficam mais de lado. É a eterna luta. Sigo querendo que a gente emplaque novos sucessos”, declara o músico, que tem o projeto “Absolutamente Solo” já engatilhado. Magrão, que compartilha do sentimento, revela que o 14 Bis também já tem um disco “praticamente pronto”, que espera lançar ainda este ano.

Encontro Marcado
Com Sá e Guarabyra, 14 Bis e Flávio Venturini
Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7400). Sábado (7), às 21h, e domingo (8), 19h. R$ 160 (inteira, plateia 1), R$ 140 (inteira, plateia 2) e R$ 120 (inteira, plateia superior).

 

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