Em vez de fazer o caminho usual, de lançar um disco, sair com ele em turnê e depois registrar o show em DVD, Vanessa da Mata, 41, quis fazer o inverso. Com “Caixinha de Música”, seu segundo registro audiovisual, o espetáculo primeiro foi registrado – em maio deste ano, na Casa Natura Musical, em São Paulo – e agora percorre o Brasil, chegando a Belo Horizonte no próximo sábado (25).
“Ensaiar também é uma forma de treinar. É possível ter uma sensação de mais segurança no trabalho com o ensaio. E o lado bom é que o desgaste natural que acaba acontecendo com a turnê, para mim não aconteceu. Ensaiei e fui direto pro DVD. E daí para a para a turnê a música ainda continua fresca”, comenta a cantora e compositora.
Entre as 25 canções escolhidas para entrar no registro, três são inéditas – “Caixinha de Música”, “Orgulho e Nada Mais” e “Gente Feliz (Sinceridade)”. Algumas vêm do repertório de “Delicadeza”, show intimista em que Vanessa se apresentava acompanhada somente por piano, violão e guitarra, como “Love Will Tear us Apart”, do grupo inglês Joy Division, “Mágoas de Caboclo”, gravada por Orlando Silva, e “Vá pro Inferno com Seu Amor”, dos sertanejos Milionário e José Rico. Grandes hits seus como “Ai, Ai, Ai”, “Boa Sorte/Good Luck” e “Não Me Deixe Só” também tiveram seu espaço na gravação.
“Eu fico ainda muito ressabiada com essa mistura de imagem e som, fui treinada para a música, a imagem que implica o DVD eu ainda estranho. Mas dessa vez eu gostei muito do resultado. Gravei num espaço um pouco menor, para apenas 1.200 pessoas, com mais intimidade e personalidade, do qual inclusive eu sou uma das sócias e onde me senti realmente em casa”, afirma.
Ainda que passeie por diversos gêneros como o sertanejo e o pós-punk e que o registro seja permeado de uma pegada eletrônica, a mato-grossense explica que não há heterogeneidade porque tudo isso faz parte de sua personalidade musical. “Isso sou eu, desde o primeiro disco. Sou do Mato Grosso, do meio do Brasil, que recebe influência de ritmos que vêm do Sul, do Norte, do exterior e foi isso que me originou. Meu trabalho nunca foi com apenas um tipo de música ou letra. Tenho uma intranquilidade, no sentido de não me acomodar em algo que está dando certo. Tenho necessidade de renovação. Meu estilo está lá, sou eu, mas nunca é um ritmo só, são polirritmos”, afirma.
Uma das canções inéditas – “Gente Feliz (Sinceridade)” – inaugura também uma parceria com o grupo soteropolitano BaianaSystem, que inclusive ela conheceu em Belo Horizonte. “Foi num festival. Eu estava me preparando antes do show e eles estavam no palco. Já tinha ouvido falar deles, mas nunca tinha ouvido. Fiquei impactada com a fartura, a musicalidade e a força musical deles. Tem muita gente que é forte musicalmente, mas na hora que toca ao vivo não empolga. Eles são muito mais fortes do que no disco, isso pra mim é sinal de grandiosidade, grandeza artística”.
A composição em questão dialoga com o período de desesperança vivido no Brasil. “Eu queria que as músicas novas falassem de assuntos atuais e ‘Gente Feliz’ fala da desilusão que temos nesse momento político difícil, mas que ao mesmo tempo é claro, mostra as condutas dos governantes. Mas também fala de ser feliz, do brasileiro que também sabe se levantar e lutar, protestar quando precisa. Não só reclamar, mas sermos felizes como sempre fomos, e perseverantes”, diz.
No sítio de Tom
Um fato curioso sobre “Caixinha de Música” é que ele foi ensaiado num sítio que pertenceu a Tom Jobim (1927-1994). Cedida por Daniel Jobim, neto do pianista, a construção fica em Poço Fundo, Região Serrana do Rio, e tem um estúdio. A canção “Caixinha de Música”, inclusive, foi composta lá, a poucos dias da gravação do show.
“Não consigo dizer que minha estada lá influenciou diretamente as músicas, mas definitivamente fui inspirada pela grandiosidade da situação, de estar num lugar onde viveu um homem que eu sempre admirei, que já encantou tanta gente”, afirma ela, que gravou em 2013 em disco apenas com obras do maestro soberano. “A música é uma divindade por si só, mas estar ali, vendo o chapeuzinho dele, seu Chevette, a mata que ele plantou, é estar sob a influência de alguém que tinha sensibilidade extrema, uma alma elevada em todos os sentidos”.
Com os filhos mais crescidos – hoje eles já são adolescentes –, Vanessa diz estar passando por uma fase nova na vida. “Eu adotei três crianças, que são frutos dos meus pés, minhas mãos, coração, tudo que é meu. Mas o começo foi muito conturbado, como é com todo filho. Acho que todos os pais deveriam ter um curso antes, a gente não tem ideia das dificuldades. Mas agora eles estão completamente adaptados e inclusive parecidos com a gente. Acho que aí eu começo a me ver de novo, curtir com meus amigos e olhar para minha vida junto com eles”, observa.
Para o ano que vem, Vanessa diz que segue com a turnê. A existência das plataformas de streaming faz com que, embora ela não planeje lançar um novo álbum, tenha vontade de lançar novas músicas individuais. “Essa possibilidade me empolga muito”.
Vanessa da Mata
Lançamento do DVD “Caixinha de Música”
KM de Vantagens Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro). Dia 25 (sábado), às 22h. R$ 90 (pista/arquibancada, inteira), R$ 440 (mesa, setor 2), R$ 520 (mesa, setor 1)
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