Sem estresse

Calma, pet, calma – pode ficar tranquilo

Comportamentos atípicos nos animais podem sugerir traumas ou situações com as quais eles não estejam sabendo lidar

Por Patrícia Cassese
Publicado em 27 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Medo de sair às ruas, pavor mediante a aproximação de humanos (ou de outros animais) estranhos a seu círculo de convivência, tremedeira e fobias. Não é difícil achar exemplos de tutores que assistem, um tanto quanto impotentes, à manifestação desses ou de outros sintomas em seus pets. Diante de quadros assim, pipocam dúvidas: que atitude tomar? A boa notícia é que, hoje, existem vários tratamentos que podem atenuar o estresse que acomete certos animais, tornando a vida deles menos turbulenta.

A terapeuta Martha Follain sugere que, diante da suspeita de estresse ou de um quadro de ansiedade, a primeira atitude a ser adotada seja procurar um veterinário. “É necessário que o animal seja examinado para afastar outros diagnósticos”, alerta.

Constatado que há uma questão psicológica envolvida, é hora de procurar a terapia adequada. E são várias as possibilidades, da tradicional acupuntura à cromoterapia, aromaterapia ou cristaloterapia direcionada a animais. Inclusive, existe a possibilidade, se preciso, da aplicação de mais de uma, simultaneamente.

“Eu, geralmente, uso mais de uma – como florais (de Bach) junto à aromaterapia, por exemplo. Priorizo o que for melhor e mais rápido no tratamento do animal”, diz Martha, lembrando o caso de um touro, que chegou a seu consultório. O animal passou a apresentar um comportamento agressivo após ser remanejado de lugar. “Na fazenda, ele ficava num recinto junto a algumas vacas. Com a mudança de lugar, passou a ter um comportamento agressivo mesmo com aqueles que já o tratavam habitualmente”, narra.

O animal foi submetido a uma terapia com florais de Bach e acabou voltando ao seu comportamento típico. Mas Martha Follain chama atenção para um ponto importante: para um diagnóstico mais preciso, o terapeuta deve prestar atenção na forma como o tutor descreve do quadro – para ela, essa fala costuma embutir palavras-chave para o profissional, como “mudança de comportamento repentina”.

Intimidade

A médica veterinária homeopata Teresa Cristina Brini endossa que a prescrição de tratamento é mais segura quando o dono conhece bem o seu animal. E cita como exemplo um paciente recente, um gato que apresentava hemobartonelose felina. No caso, o tratamento convencional não estava surtindo efeito. “Conversando com a proprietária, soube que, até determinado período da vida, o paciente era uma espécie de ‘dono do pedaço’, o ‘gostosão’, o metido. Certo dia, outro gato apareceu na vizinhança, os dois se encontraram e ele resolveu partir para a briga – mas acabou apanhando, e, a partir daí, desenvolveu a doença”, conta.

Na homeopatia, prossegue a médica, existem medicamentos para casos afins: “Ou seja, quando você tem toda uma postura e outro chega e te joga pra baixo, te humilha – na verdade, não precisava nem bater. E era isso! A partir do momento em que ele passou ao tratamento homeopático, simplesmente se transformou”, relata. Mas ela alerta: milagres não existem. “Não funciona assim. A homeopatia é uma ciência que trata a pessoa (ou animal) como um todo, e a maioria das doenças tem um fundo emocional grande. A homeopatia associa os sintomas físicos aos emocionais, comportamentais”, diz ela, que, no seu exercício, diz geralmente usar a medicação em dose única. “Ou seja, é um estímulo medicamentoso tentando equilibrar o que saiu desse estado, seja em função de uma adaptação a novos donos, à chegada de outros animais na casa...”, enumera Teresa.

 

Nichos, toca e uma ‘rota de fuga’ para tranquilizar Lelê

Pet-sitter e dog-walker, Letícia Orlandi já conviveu com animais de variados perfis – incluindo os estressados. Não bastasse, tem em casa uma “filhota” que precisa de atenção especial. Aos 9 anos, Lelê, uma gatinha, fica visivelmente desconfortável quando pessoas estranhas adentram seu território. “Ela convive bem só comigo e com meu marido. Se toca a campainha, se esconde. Mesmo com os anos, não mudou – aliás, esse foi um dos motivos para eu fazer o curso de pet-sitter. Sofria muito quando ia viajar, pois sabia que ela não aceitaria nem a baby-sitter que eu contratava”, relembra.

Ao se debruçar sobre comportamentos afins, Letícia partiu para medidas práticas: “Uma das primeiras que tomei para minimizar o estresse dela foi oferecer muitos lugares para que se escondesse: deixo armários abertos e também fiz prateleiras próprias, nichos específicos para gatos. Com isso, criei uma espécie de ‘rota de fuga’. Tenho outro gato, e eles convivem bem, mas de vez em quando acontece algum atrito, e ela tem para onde fugir e se sentir protegida. No caso, para ela, poder se esconder é relaxante. Ela encontra alternativas para ficar tranquila”.

Letícia – que, vale dizer, mantém o perfil Pets da Lets no Facebook – narra que, quando era mais nova (portanto, antes de fazer os cursos), se alguém ia dormir em sua casa, chegava a forçar a convivência de Lelê com o hóspede em questão. “Depois entendi – inclusive aprendi até cientificamente – que, quanto mais forçar, a tendência é que o animal vá se retrair mais, pela associação do episódio a uma coisa ruim. Passei, então, a tentar associar as visitas a coisas boas. Se ela vai para debaixo da cama, vou lá, levar a melhor comida. Assim, fará em sua mente uma associação positiva”, argumenta. “Ainda está longe de ser uma convivência tranquila (entre Lelê e as visitas), mas, na última vez que viajei, ela até apareceu no corredor para a pet-sitter e, hoje, com a diarista, já circula pela casa. Imagine que, antes, com ela, chegava a ficar oito horas sem ir à caixa de areia. Entendi que é uma coisa de respeitar e oferecer o que ela precisa”, resume.

 

Leon e Raul, dois pets muito, muito estressados

Ao transportar o gato Raul no carro, Luciene Fernandez Gomes nem percebeu que havia deixado o gradil da caixa de transporte de seu maine coon direcionado para o banco em que estava, o do motorista. Acabou se dando conta quando levou “um tapa” do ocupante, assim, do nada.

Feliz proprietária de seis gatos e seis cães, Luciene – que é funcionária de uma clínica veterinária – tem em casa três animais “estressados”: além de Raul, Bia e Bianca, também felinas. “Para dar medicamento ao Raul é terrível”, diz ela, que, no entanto, encara com bom humor a ala menos propensa a afagos de sua casa – no caso, ela tem um alento: consultoria gratuita no local de trabalho. Castrar Raul está em seu rol de projetos para o ano.

Já na casa da publicitária Glória Gomide, em Nova Lima, o “garoto-problema” atende pelo nome de Leon – um cão. Aos 18 meses, o garboso afghan hound de pelo branco é medroso até não ter mais onde. “É um comportamento fora do padrão. E, como todo animal indefeso, o que ele tem para se proteger? A boca! Os gatos ainda têm as unhas, mas os cães usam a boca”, analisa ela, que, vale dizer, é a única da casa que é mais poupada pelo rapaz. E foi justamente por um pedido dos demais integrantes da família que Leon foi avaliado por uma veterinária, que acabou receitando um ansiolítico. O resultado? “Ele melhorou. Bem, não totalmente”, admite Glória.

Leon chegou até a casa da publicitária já com quatro meses de vida – portanto, ela não sabe se o animal passou por algum estresse ou trauma no período inicial de vida. Com os cachorros com os quais atualmente divide as atenções da família – outro afghan, um SRD e dois whippets, ele é interativo. “Mas se a gente dá um simples esbarrão nele, já acha que está sendo atacado”, completa o economista Deco, marido de Glória. “Em alguns momentos, ele fica tão estressado que, além do latido, até corre de ré”, adiciona a publicitária.

Terapia alternativa não impede a convencional

Alerta

A terapeuta Martha Foillan lembra que o tutor deve ficar atento a sinais como falta de apetite, diarreia, apatia ou mesmo observar se o animal está arfando. A avaliação de um veterinário é fundamental, “para afastar outros diagnósticos”.

Harmonia

Terapias alternativas e convencionais podem conviver em perfeita harmonia. “O que é preciso é ter o medicamento adequado para que haja um equilíbrio e a saúde retorne com força total”, diz Teresa Brini.

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