MÚSICA

Cantando  Tom Jobim 

Maestro tem obra revista pela portuguesa Carminho e pelo trio Toquinho, Joyce e João Bosco

Por Patícia Cassese
Publicado em 18 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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Independentemente de idade, o feito já seria daqueles para espocar champanhe. Mas em se tratando de uma artista tão jovem – apenas 32 anos –, merece ser ainda mais sublinhado: o CD “Carminho Canta Jobim” foi o mais vendido em Portugal no período do Natal, que por lá responde pelo pico de vendas do produto. Não bastasse, foi o álbum que mais vendeu numa só semana durante todo 2016. E é a bordo deste reconhecimento que a portuguesa volta à capital mineira para apresentar esse repertório que evidencia, mais uma vez, seu apreço pela música brasileira.
 
Chancelado pela gravadora Biscoito Fino, “Carminho Canta Jobim” traz 13 faixas, nas quais ela revisita pérolas como “Wave”, “Inútil Paisagem” e “Luiza”. “Wave”, aliás, foi a primeira música do maestro que ela ouviu na vida. “Não me lembro se numa telenovela (a música integrou a trilha sonora de ‘Água Viva’), ou num disco da minha mãe (a fadista Teresa Siqueira). O impacto foi inconsciente, claro, porque eu era criança. Mas essa influência foi entranhando o meu gosto artístico e pessoal, e se tornou importante na minha formação”, avalia.
 
Selecionar o repertório, aliás, não foi tarefa das mais fáceis. “São quase 300 canções catalogadas. Tive que estabelecer alguns critérios, para nos sentirmos confortáveis com as escolhas. E um deles, para mim muito importante, foi o do meu sotaque português de Portugal, que tem não só partes sonoras, mas palavras e formas verbais, e a forma gramatical de se falar, com algumas pequenas nuanças e mudanças para o brasileiro”, explica ela, lembrando que alguns dos parceiros de Jobim (como Vinicius de Moraes, Dolores Duran e Chico Buarque) escreveram com o português que seria mais parecido com o que ela interpreta. “E, portanto, no qual me sentiria mais natural em cantar”. 
 
Outro critério foi abarcar o maior número possível de parceiros de Tom Jobim, bem como as várias fases. “Tive, claro, a ajuda do Chico Buarque, do Paulinho Jobim (filho de Tom Jobim, e que assina direção musical e arranjos tanto do CD quanto do show), o Vinicius França (produtor); no sentido que teria que defender e interpretar as canções como se fossem minhas”.
 
Vale frisar que de uma canção ela não abriria mão: “Retrato em Branco e Preto”. “Gosto de toda a obra do Jobim, mas algumas canções tocam num lugar ainda mais especial, uma delas é essa, que me causou muita estranheza na primeira vez que ouvi. Depois, ao longo do tempo, ela foi crescendo em mim, através das interpretações que fui ouvindo, e, portanto, foi a primeira que escolhi. É uma letra incrível do Chico Buarque, e uma forma perfeita de música e letra se encontrarem harmoniosamente. E sempre com este cunho único do Jobim, que ele deixa cravado em cada canção e em cada lugar onde tocou”.
 
Participações
 
“Carminho Canta Jobim” (Biscoito Fino), o disco, traz um potente time de participações especiais, a começar de Maria Bethânia. “Dividir um tema (‘Modinha’) com Bethânia é de fato um momento alto na minha trajetória. Ela é, sem dúvida, uma grande referência, uma aspiração, na forma como interpreta os textos, como olha para a canção, como entende e depois a reproduz, e como conta histórias. Aprendo muito com ela”.
 
Com Chico Buarque, ela divide “Falando de Amor”, “em que vamos fazendo uma espécie de jogo de tênis, passando a bola um para o outro”, ri. E com Marisa Monte, “Estrada do Sol”. O CD conta, ainda, com Fernanda Montenegro recitando trechos de “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, na abertura de “Sabiá”, na qual Carminho faz dueto com seu conterrâneo Antonio Zambujo.
 
Na “cozinha” de disco e show, estão músicos que fizeram parte da Banda Nova, que tocou com Jobim por dez anos. Aqui, ela está composta por Paulo Jobim (violão), Daniel Jobim (piano), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Paulo Braga (bateria). E, sim, Carminho assegura: “Todas as faixas vão entrar no show, que terá surpresas, temas que dizem em mim sobre ele (Jobim) e que são do meu repertório”, conclui.
 
Nomes da MPB em tributo
(Alex Bessas)
 
Nunca é demais homenagear o maestro Tom Jobim. Em 2017, ano que completaria 90 anos, nada mais justo que levar suas músicas para o palco. E uma das celebrações vai acontecer na próxima sexta (24), reunindo Toquinho, João Bosco e Joyce Moreno no Grande Teatro do Palácio das Artes.
 
Dos anos de amizade com o músico, Joyce guarda muitas memórias. “Uma lembrança muito boa que tenho foi vê-lo mexendo na letra ainda inacabada de ‘Águas de Março’, e brincando comigo com a frase ‘é a promessa de vida no teu coração’. Eu estava grávida da minha filha Ana na ocasião”.
 
A carioca – que diz se sentir em casa em BH – está feliz pela oportunidade de dividir o palco com Toquinho e João Bosco. “Trabalhei bastante com Toquinho e Vinicius (de Moraes) na segunda metade dos anos 1970, temos muitas lembranças em comum”, pontua. Com João Bosco, por outro lado, está sendo praticamente uma estreia. “Nunca tínhamos feito nenhum show juntos, apesar de nos conhecermos há anos”.
 
Para a homenagem, cada artista escolheu as músicas que iriam compor seu repertório, imprimindo pessoalidade em sua versão. “Como a obra do Tom está muito entranhada dentro de mim desde sempre, eu tinha muitas cartas na manga”, diz a cantora, que já gravou três discos dedicados ao maestro, contabilizando cerca de 40 músicas. 
 
 
 
 
Carminho Canta Tom Jobim
Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537). Domingo (26). Às 20h. A partir de R$ 120 (inteira, balcão)
 
Homenagem a Tom Jobim
Toquinho, João Bosco & Joyce. Palácio das Artes (Av. AfonsoPena, 1.537). Sexta (24), 
às 21h. A partir de R$ 160 (plateia superior, inteira).
 
 
 

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