MÚSICA

Homenagem ao velho amigo 

Agnaldo Timóteo aporta na capital mineira para apresentar show do disco Obrigado Cauby em tributo ao cantor e amigo falecido no ano passado

Por Jessica Almeida
Publicado em 14 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Apresentar, na próxima quinta (19), o disco “Obrigado Cauby”, gravado em homenagem ao amigo de tantas décadas, Cauby Peixoto (1931-2016), vai ter um gosto especial para Agnaldo Timóteo. Não só porque viveu aqui por mais de dez anos antes de iniciar sua carreira como cantor, mas porque aqui ficou conhecido como Cauby Mineiro. “Eu comecei aí, nos programas de calouro, no ‘Só Para Mulheres’, do Aldair Pinto, fui gongado pelo Waldomiro Lobo na rádio Guarani. E virei o Cauby Mineiro porque o imitava, foi assim que cheguei ao Rio de Janeiro, ao programa do César Alencar na Rádio Nacional, indicado pelo Aldair”, lembra.
 
O show traz as músicas do álbum lançado no início do ano, inclusive um dueto de Timóteo com o amigo, da icônica “Conceição”, de Jair Amorim e Dunga, gravado, segundo ele, quando Cauby já estava bastante debilitado. “Eu mandei um carro apanhá-lo em seu apartamento em São Paulo. Ele chegou ao estúdio, ouviu a canção num arranjo igual ao da gravação dos anos 1950 e gravou comigo na mesma tonalidade da primeira gravação. Por isso, essa música gravada por mim e pelo Cauby não é uma música, é um documento histórico. Foi certamente um momento memorável da minha vida”, afirma.
 
Ao falar do amigo, que antes de falecer também pôde presenciar o show em comemoração dos seus 50 anos de carreira, em 2014, o cantor é enfático. “Cauby representa para mim, e verdadeiramente acredito que para milhões de brasileiros, uma lição de diplomacia, um talento inquestionável, e uma cultura privilegiada cantada em seis idiomas. Além de tudo, representa a imprescindível necessidade da elegância. Um artista tem que se apresentar sempre bem vestido pra mostrar seu respeito ao público e isso aprendi com ele”, diz.
 
Produzido por Thiago Marques Luiz, “Obrigado Cauby” tem ainda canções como “A Pérola e o Rubi”, de Haroldo Barbosa, “Tarde Fria”, de Ângelo Apolônio e Henrique Lobo e “Bastidores”, de Chico Buarque. Ao show, Timóteo apresenta também músicas que foram sucesso em sua interpretação, como “Meu Grito” e “Os Brutos Também Amam”, de Roberto Carlos e “Os Verdes Campos da Minha Terra”, versão de Geraldo Figueiredo da canção de Claude Putman Jr.
 
O projeto é o sucessor de “A Força da Mulher” (2015), disco composto por canções com nomes femininos, que o mineiro de Caratinga diz ter gravado em homenagem à ex-presidente Dilma Rousseff. “Quando fui falar com Lula, que me recebeu duas vezes em audiência, ele nos apresentou e ela foi extremamente simpática. Lamentavelmente, não tive como levar pessoalmente esse presente a ela, mas o fiz com a ex-presidente em mente”, comenta.
 
E o sucessor também já está sendo preparado. Em novembro, Timóteo entra em estúdio para gravar “As Emoções da Rainha”, em homenagem à amiga e ex-patroa Angela Maria. “Eu sou um guerreiro. Estou sempre criando alguma coisa pra que as pessoas saibam que estou vivo, senão eu morro, como vários colegas que foram mortos em vida, como Carlos Alberto, o rei dos boleros, ou Orlando Dias que morreu anônimo. Faço tudo pra que isso não aconteça com Agnaldo Timóteo”, afirma.
 
Conhecido por ser polêmico, Timóteo é o tema principal do documentário “Eu, Pecador”, do diretor Nelson Hoineff, que estreou no último domingo (8) no Festival do Rio. Próximo de completar 81 anos, na próxima segunda (16), disse que algumas falas suas ficaram fora do tom no filme e que ele poderia ter menos cenas de suas campanhas políticas. 
 
Questionado sobre uma possível crueldade na forma como foi retratado pelo filme, como apontou o crítico Mauro Ferreira, ele explica que é um reflexo da sua própria relação consigo mesmo. “Eu sou cruel comigo, com as minhas verdades, as minhas lembranças, as minhas paixões que se foram”, diz. Mas confessa que só viu o filme na estreia e ainda precisa refletir sobre ele. “Depois vou ter que ver de maneira mais tranquila. Eu cheguei a passar mal na sessão de domingo. Mas vamos ver daqui pra frente, o que depreender do que eu fiz”, diz.
 
Política
 
Com carreira como parlamentar - já foi deputado federal e vereador do Rio e de São Paulo - Timóteo se candidatou novamente a um cargo na câmara do Rio de Janeiro ano passado, mas teve apenas 4.800 votos. Após terem sido divulgadas, em agosto, notícias de que estaria tentando se filiar ao PT, ele revela que não conseguiu, mas que seu interesse não é o partido e sim o ex-presidente Lula, de quem se considera um soldado.
 
“Eu e Lula somos colegas torneiros mecânicos (em referência à profissão que exercia antes de se profissionalizar na música). Um homem que chega a São Paulo vindo dos rincões nordestinos de pau de arara, falando ‘pobrema’, ‘subir pra cima’, se tornar o maior presidente da história do país, é admirável”, declara. “Ele deu condições aos pobres de comprar geladeira, televisão, fogão, automóveis. Lula é amado mundialmente, aqui que há certa má vontade com ele, principalmente do juiz Sergio Moro. Às vezes eu acho que o magistrado é militante do PSDB”.
 
Ele frisa, no entanto, que suas opiniões sobre política ficam sempre do lado de fora do palco. “Jamais digo uma vírgula que se refira a política. Falo de canções de amor e da minha história de vida com profundo e absoluto respeito às pessoas que me acompanham há 52 anos. E espero que elas lotem o teatro como o fizeram na minha última apresentação em Belo Horizonte (em 2015) que, a despeito de ter sido num 18 de dezembro ao meio-dia, o que podia me arrebentar, mas quem arrebentou foi o público”, conclui.
 
 
 
Agnaldo Timóteo – Obrigado Cauby
Teatro Bradesco (r. da Bahia, 2.244, Lourdes, 3516-1360). Dia 19 (quinta), às 16h. R$ 100 (inteira). 
 

 

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