SPFW

Mineiros sob o holofote  

Representantes de Minas Gerais na semana de moda paulista mesclam preciosismo e streetwear para desfilar na passarela

Por Lorena K. Martins
Publicado em 18 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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Numa temporada em que o desejo de consumo começa a se alinhar ao varejo, a 43ª edição do São Paulo Fashion Week mostrou uma moda mais pé no chão e com foco nos novos tempos. A semana de moda paulistana, que aconteceu na semana passada, em São Paulo, inaugurou o novo calendário nacional de desfiles, que agora acontecem em março e no final de agosto.

O que isso quer dizer é que, desta vez, as marcas adotaram, em diferentes medidas, a estratégia do “see now, buy now”, ou seja, “veja agora, compre agora”. Motivo que talvez também justifique baixas significativas no line-up, que teve a ausência dos estilistas Ronaldo Fraga, Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho e Valdemar Iódice – quatro dos mais importantes e antigos do evento.

Apesar das ausências, o time mineiro que desfilou nesta edição do evento fez bonito. Pensou além da moda festa, já conhecida por aqui, e propôs um mergulho em referências passadas e novas formas de reutilizá-las. Houve também quem topasse desfilar na contramão das coleções comerciais apresentadas nesta temporada. A sempre bem elogiada Apartamento 03, de Luiz Cláudio, pensou na roupa além do potencial vendável e não ficou presa à linha divisória entre o comercial e o conceitual. Além do luxo e do preciosismo consagrados de suas coleções, o estilista propôs mais possibilidades para quem for usar suas criações e mesclou tecido finos, bordados e pedrarias com a estética do sportwear – ideia proposta por muitas grifes nesta temporada.

Referências esportivas também foram destaque na PatBo, marca mais descolada e jovem da estilista Patrícia Bonaldi, que propôs um streetwear luxuoso. Os bordados e pedrarias, elementos fiéis de seu trabalho, estiveram por lá, em versões mais econômicas. Retirando a essência da cultura hip-hop de rua, a mineira transformou peças básicas e esportivas, como moletom, calça jogging e jaqueta bomber, em itens de luxo altamente desejáveis – e deu muitíssimo certo.

Repeteco de referência também esteve na GIG Couture, que trouxe novamente o seu tricô de luxo com ares esportivos. A estilista Gina Guerra reeditou shapes clássicos das décadas de 70, 80 e 90 em peças ajustadas ao corpo totalmente reluzentes com fios brilhantes tecidos, sem contar a “volta dos que não foram” com blusas e vestidos estilo “ciganinha”, jaqueta bomber, saias mídis plissadas e mangas extremamente bufantes para ombros em evidência.

O time mineiro foi reforçado com a estreante Fabiana Milazzo. Com pedrarias e bordados na medida, a estilista propôs uma mistura da moda festa com a casual e assim modernizou ainda mais seu olhar para essa coleção. Outro ponto importante é que a estilista mineira criou peças em jeans reaproveitados, que seriam descartados, além de mostrar looks feitos em parceria com comunidades de artesãos. Um desses grupos, o Casulo Feliz, composto por ex-presidiárias, é especialista em seda em estado bruto e forneceu matéria-prima para vestidos e blusas da coleção. Sinais de que o consumo pode até passar a valer ainda mais, desde que tenha consciência em suas produções. (Com agências)

Mais destaques para a temporada de inverno

Mais mineiros

Projeto Estufa E teve mais presença mineira na última edição do São Paulo Fashion Week. A jovem e estreante na passarela paulistana Ca.cete Company mostra apresentou na última quinta-feira (16) a coleção #ARQUIVO04, a quarta da marca. O streetwear provocante feito por Raphael Ribeiro e Tiago Carvalho é transformado em peças como jeans, cuecas, camisetas e parcas. O duo repetiu a colaboração com o artista plástico e quadrinista Warley Desali. No mesmo Projeto Estufa, realizado no Parque do Ibirapuera, a Llas, das irmãs Lorena e Laura Andrade apresentou uma coleção reutilizando faixas, tecidos e retalhos de outras passadas. 

Estreantes

Sebrae Top 5  A mineira Jardin, marca com DNA minimalista da estilista Bharbara Renault, integrou o line-up do SPFW pelo projeto Sebrae Top 5, que desfilou na última sexta-feira (17). Intitulada Pure Geometry, a coleção de inverno trouxe shapes e estampas inspirados na geometria. A passarela do projeto contou com outro representante mineiro, a Green Co. Apoiada na sustentabilidade, a marca atemporal de Cassius Pereira desfilou criações feitas com matérias primas orgânicas, naturais e recicláveis, optando por tudo que não tenha origem animal.

Moda da diversidade

Para todos Finalmente os estilistas estão apostando em biotipos mais diversos. O número de jovens modelos negros aumentou visivelmente no casting de quase todas as marcas. Modelos com mais de 40 anos fizeram sucesso nas passarelas da Bienal. O desfile da UMA, da estilista Raquel Davidowic, incluiu em seu casting a x-modelo Suzana Kertzer, de 67 anos. Já no desfile da Ellus, Jorge Gelati, de 52 anos, e Marcos Luko, 47, chamaram atenção.

Sustentabilidade

Foco no amanhã A estilista Fabiana Milazzo quis falar de responsabilidade e, para isso, se uniu a três organizações que promovem o trabalho artesanal – o Instituto Tecendo Itabira, a ONG Ação Moradia e o projeto Casulo Feliz, responsável pela produção e fornecimento de seda sustentável. Juntas, as partes criaram a coleção que estreou nesta edição. Já À La Garçonne reutilizou produtos descartados, ou vintage, na produção de novos – técnica chamada de upcycling.

 

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