ARTES CÊNICAS

Palco e tribo de feministas 

Espetáculo de dança traz lenda das guerreiras Icamiabas, as amazonas brasileiras, Espelho da Lua estreia no dia 23 no Teatro Bradesco

Por Lara Alves (*)
Publicado em 16 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Em meados de 1542, expedicionários europeus exploravam pontos desconhecidos da costa brasileira. Segundo a lenda, uma das embarcações aportou em certa região, que hoje pertence à Amazônia, e, lá, os desbravadores encontraram índias guerreiras que viviam em tribos isoladas e não aceitavam a presença de homens.

 
A fabulação em torno delas, conhecidas como “Icamiabas” (mulheres sem seios), solidificou-se na cultura amazônica. Inspirado pela lenda, o coreógrafo Mário Nascimento reuniu cinco bailarinas de sua companhia e homenageia a força das guerreiras em seu novo espetáculo, “Espelho da Lua” – nome que faz referência ao lago onde supostamente as índias banhavam-se.
 
 
Com estreia marcada para o dia 23, no Teatro Bradesco, o balé remonta aos rituais de guerra e aos primórdios de uma concepção feminista, já que, na visão do diretor, essas índias queriam expressar o poderio perante os combatentes de outros tribos. “Elas eram grandes mulheres, extremamente hostis aos homens. A questão do feminismo radical é antiga”, comenta.
 
Nascimento destaca, ainda, que o espetáculo nasce da urgência de trazer à baila a necessidade do empoderamento feminino. A obra traça, portanto, um paralelo entre as índias, as amazonas (guerreiras da mitologia grega) e a mulher contemporânea.
 
“As Icamiabas não permitiam a presença dos homens na tribo porque sabiam que isso poderia trazer riscos a elas. O homens representam, ainda hoje, ameaças às mulheres e acho que todas devem confrontá-los”, afirma.
 
Uma Líder
 
A preponderância feminina no processo criativo é um dos destaques de “Espelho da Lua”. Neste balé, a interferência masculina foi mínima, explica o diretor. “Em um trabalho sobre mulheres, quanto menos homens envolvidos no processo, melhor. Ele é encabeçado por Rosa Antuña e eu percebi que não podia opinar em muitas questões”, pontua. Coreógrafa que esta à frente do corpo de baile, Rosa é parceira de longa data do diretor e trabalha, há alguns anos, com questões do feminino.
 
Desta vez, ela não está sozinha no palco – como em seus espetáculos que integram a “Trilogia do Feminino”. Vai dividi-lo com outras mulheres (Débora Roots. Eliatrice Gichewski. Ludmilla Ferrara e Mari Chalfum), o que será uma experiência diferente para ela. “Há alguns anos, mergulho nessa temática, mas nunca tinha compartilhado isso com outras mulheres. Na companhia, encontrei bailarinas mais jovens e me fortaleci com elas”, diz Rosa. 
 
Juntas em cena, elas desenham movimentos de guerra, na tentativa de reproduzir os rituais das mulheres da lenda.
 
No ano que vem, quando completa 20 de existência, a Cia Mário Nascimento pretende continuar com um elenco majoritariamente feminino. Para celebrar o aniversário, já são planejadas apresentações de antigos espetáculos, a estreia de uma montagem infanto-juvenil (dirigida por Rosa) e o lançamento de um livro com a história do grupo.
 
(*) Sob supervisão de Marília Mendonça
 
Espelho da Lua
Estreia do novo espetáculo da Cia Mário Nascimento. 
Teatro Bradesco (r. da Bahia, 2.244, Lourdes, 3516-1360). Dia 23 (sábado), às 20h. R$ 24 (inteira).
 

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