Festa

Contagem regressiva 

Nos bastidores e arquibancadas, belo-horizontinos vão participar dos Jogos

Por Bárbara França
Publicado em 30 de julho de 2016 | 03:00
 
 
 
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A menos de uma semana da largada, as notícias sobre as Olimpíadas Rio 2016 não têm sido lá muito animadoras. Já na abertura da Vila Olímpica, no último domingo (24), a delegação da Austrália reprovou o alojamento destinado aos atletas do país devido ao problemas nas instalações elétrica e hidráulica. As equipes da Suécia e da Argentina fizeram reclamações semelhantes. Enquanto os reparos de emergência estão sendo feitos, uma pesquisa do Ibope divulgada na quarta (27) revelou que 60% dos brasileiros acreditam que os Jogos só trarão prejuízos à União. O pessimismo, conforme os dados, é maior do que na época da Copa do Mundo, em 2014, e até a inabalável tocha olímpica chegou a ser apagada durante um protesto em Angra dos Reis ( RJ), na quinta (28).

Mas, apesar do grande número de problemas e críticas envolvendo o evento, existe uma turma de belo-horizontinos que aguarda ansiosamente o início dos Jogos na próxima sexta (5), no estádio do Maracanã. São voluntários e torcedores que, nos bastidores e nas arquibancadas, estarão não só torcendo, mas agindo para que tudo ocorra dentro dos conformes.

Leonel Pequeno, 61, se considera um deles. Entre os milhares de voluntários que vão atuar durante os Jogos na capital, o engenheiro aposentado foi escalado para o apoio à imprensa e vai passar por seu primeiro treinamento técnico neste sábado (30). Já com o uniforme disponibilizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em mãos, ele se sente orgulhoso de mais uma vez contribuir com sua disposição de quem caminha 30 km toda manhã em um evento esportivo. Isso porque o aposentado já havia trabalhado como voluntário na Copa. “Ao longo da minha carreira, ocupei cargos de liderança. Na Copa, fui para servir. Trabalhei na garagem, organizando o destinos dos veículos. Esse que é o legal, você sai do seu lugar comum visando um objetivo maior”.

Adepto do “quanto mais ações voluntárias você faz, mais pega gosto”, Leonel compara a realização das Olimpíadas no Brasil à passagem do cometa Halley. Fazendo a ressalva da diferença (enorme) entre a periodicidade de um evento e de outro – as Olimpíadas acontecem de quatro em quatro anos, enquanto a órbita do astro é de 75 –, ele faz a analogia baseado na sensação de “oportunidade”. “Lembro a última vez que o cometa passou, todo mundo saiu de casa para ver. Para mim, os jogos são como o cometa porque a gente não sabe quando outro acontecimento tão grande quanto esse vai voltar a acontecer no país”, destaca o admirador do atleta jamaicano Usain Bolt.

Esporte e balada

Embora cogitasse a função de voluntária, Camena Machado, 36, preferiu curtir ao máximo os Jogos sem trabalhar. A profissional de educação física tirou todo o mês de agosto de férias só para poder viajar. Acompanhada de uma amiga, ela vai permanecer mais de 20 dias no Rio e assistir a oito competições, cada uma de uma modalidade. Handeball feminino, natação, basquete masculino, ginástica rítmica, artística, vôlei de praia e de quadra masculinos estão no roteiro. “Também queria ver o vôlei feminino, que está muito bem. Mas não consegui o ingresso, uma pena”, lamenta Camena, que revela ter gastado cerca de R$ 2.000 só em ingressos.

Mas, segundo a aficionada por esporte desde que se entende por gente, o dispêndio compensa. “Temo pela segurança, isso realmente tem me deixado ansiosa. Mas não quero deixar de aproveitar tudo que uma cidade em época de Olimpíadas tem a oferecer”. Escolhido pela localização, o apartamento alugado pelas mineiras através da plataforma Airbnb no Jardim Botânico está perto tanto da Casa da Jamaica, quanto da Casa da França. De acordo com o site oficial da Cidade Olímpica, cerca de 25 casas temáticas abertas ao público nas zonas Norte, Oeste e Sul do Rio vão oferecer programação cultural de várias nações durante todos os dias de jogos, além de receber comemorações das delegações. “Sei que o filho do Bob Marley vai se apresentar na casa jamaicana e um DJ famoso toca na francesa. Quero ver tudo!”.

Bruno Gregori, 36, também vai ao Rio com o mesmo clima de celebração. Isso porque, além de assistir a competições de atletismo, handeball e basquete, o representante comercial estará na Cidade Maravilhosa no Dia dos Pais. Junto do pai Ronald Gregori, 78, do irmão Fernando Gregori, 42, e do amigo Marcelo Castro, 43, ele desembarca no dia 12 de agosto e fica até o domingo (14). “Meu pai adora esportes e é louco por vôlei. Não conseguimos comprar ingressos para essa modalidade, mas levá-lo às Olimpíadas era uma forma de comemorar o dia dele juntos”, conta Bruno, acostumado a viajar para eventos esportivos.

Com os amigos já foi parar até no Marrocos para assistir in loco a disputa do Mundial de Clubes entre o Atlético e o Raja Casablanca. “Eu não sou muito otimista com relação ao legado das Olimpíadas. Acho que de legado esportivo sobra pouco, ficam mais são dívidas para serem pagas depois”, aponta o representante comercial, que, no entanto, não vai perder a oportunidade de incluir mais um grande evento na sua história. “Vou aproveitar e pegar uma praia, claro”.

Sorteio

Ainda estudante do sétimo ano, Christian Cavalcante, 12, também vai poder contar aos colegas que definitivamente fez parte de uma Olimpíada. O menino foi o único mineiro sorteado pela promoção “Pequenos Amigos, Grande Festa” realizada pela rede de fast food McDonald’s. Das 25 crianças agraciadas com seis dias pagos no Rio, só cinco vagas estavam reservadas para concorrentes de fora da capital fluminense. Christian e seu pai, Hildeglan Cavalcante de Farias, vão participar inclusive da tão disputada cerimônia de abertura. “Estava navegando pela internet quando vi que essa promoção ainda estava aberta, resolvi enviar a foto do meu filho. Nem me lembrava dela, quando chegou um telegrama lá em casa”, conta entusiasmada a mãe Marlene Farias, no que o filho completa. “É uma emoção muito grande para mim. Não sei nem se meus bisnetos vão ter uma chance como essa, de ter uma Olimpíada em casa”.

Eles querem fazer acontecer

 

Assim como a família Gregori – Ronald, 78, os filhos, Bruno e Fernando, e o “amigo-agregado” Marcelo – , mais de 4 milhões de pessoas assistirão presencialmente aos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, segundo o Portal Brasil. Mas, além deles, 50 mil voluntários terão o privilégio de acompanhar de perto as atividades olímpicas. Uma das sub-sedes oficiais, ao lado de São Paulo, Brasília, Salvador e Manaus, Belo Horizonte treina cerca de 1.500 desses protagonistas não remunerados. Distribuídos entre 502 cargos, os voluntários atuam do auxílio à chegada e à partida das delegações nos aeroportos até a instalação de equipamentos de tecnologia avançada.
É o caso de Layla Resende, 21. Voluntária desde a Copa da Confederações, em 2013, a estudante de economia se inscreveu ainda em 2014 para a participar das Olimpíadas. Fã de futebol, dessa vez ela vai atuar como assistente de protocolo. “Como a gente está em contato com gente do mundo inteiro, acabamos treinando o inglês e isso é bom para o currículo. Além disso, queria ter uma vivência diferente das que a faculdade me proporciona”, conta a jovem, que do mundial, lembra da sensação que foi assistir ao 7 a 1 contra a Alemanha diretamente da cabine de imprensa. “Tinha sido dispensada do trabalho no Mineirão naquele dia, mas meu supervisor tinha uns ingressos sobrando e convidou a mim e a alguns colegas para assistirmos ao jogo. Lembro de ter até voluntário chorando”, lembra, entre a piada e a lamentação. 
“Muita gente critica esses trabalhos não remunerados, mas ganhamos uniforme, tênis, alimentação, vale-transporte… Acima de tudo, ganhamos uma experiência de vida que só quem participa sabe o que eu estou falando”, destaca Layla. Pedro Guerra, 36, faz coro. Gerente de projetos, ele também se voluntariou no mundial e, graças a contatos feitos durante essa atuação, chega às Olimpíadas como paid staff (ou equipe paga). Mesmo assim, o mineiro praticante de boxe se inscreveu para a atividade voluntária nas Paralimpíadas no Rio. “Eu me encanto com a diversidade. Tudo que envolve pessoas e sua diversidade me motiva”. 
Não é à toa que, conforme Dario Menezes, gestor da Estácio, responsável pelo projeto Jogos Rio 2016, além das habilidades exigidas e ensinadas pelos treinamentos para voluntários, valores como “alegria, energia, comprometimento, união e respeito” são reforçados.
Minas, conforme Menezes, foi um dos Estados que mais aderiram ao voluntariado, atividade que existe desde o primórdio dos Jogos modernos. “Seria impossível uma Olimpíada sem voluntários, eles sempre entram na conta, afinal, o custo do evento é alto e a demanda de serviço é grande”. Segundo ele, a diminuição de 70 mil voluntários, inicialmente previstos, para 50 mil, aconteceu devido à necessidade de corte de gastos, mas não deve comprometer o auxílio às delegações dos 201 países participantes. 
 
Sonho e festa
Entre cerca de 10 mil voluntários estrangeiros que vão atuar no Brasil, a argentina Pamela Domínguez, 39, por outro lado, vê nos jogos a possibilidade de estar mais próxima do esporte. Professora de educação física e ginasta há 30 anos, ela vai trabalhar com fotografia durante as partidas em BH e diz não estar muito atenta às críticas que tem ouvido ainda no seu país. “São as notícias ruins as que mais circulam, mas eu estou interessada é nos jogos. Para mim, é a realização de um sonho participar de uma Olimpíada”, comenta. 
Igualmente estreante no voluntariado esportivo, a produtora Janaina da Mata, 39, corrobora com o entusiasmo. Moradora da capital mineira, ela convenceu uma amiga de Niterói a permanecer na cidade durante seu voluntariado no Rio e revela estar mais interessada na festa. “Acho que o país tem prioridades maiores para destinar os gastos do que uma Copa ou uma Olimpíada, mas já que vai acontecer, quero ajudar a fazer com que dê tudo certo”. 
Não como voluntária, mas torcendo da arquibancada, Gabriela Teixeira, 20, pensa o mesmo. Na plateia para seis modalidades diferentes, a estudante de comunicação sonha em viver uma Olimpíada desde a infância. “Nada me preocupa o suficiente para me desmotivar. Lembro de ficar colecionando revistas especiais sobre os Jogos de Sydney, na Austrália. Tenho uma relação de admiração muito grande pelo evento”.
 
Participe
 
O belo-horizontino poderá acompanhar de alguma forma os
Jogos Olímpicos aqui da capital. A cidade será uma das sedes do Torneio Olímpico de Futebol Rio 2016. Os jogos vão acontecer no Mineirão. Além disso, várias delegações escolheram BH para 
treino e aclimatação, entre elas a seleção de vôlei polonesa. Os campeões mundiais farão amistosos abertos ao público. Confira:
TORNEIO DE FUTEBOL
Local Mineirão
Ingressos A partir de R$ 40,
à venda no site 
rio2016.com/ingressos
 
FEMININO
Quarta-feira - 3/8 
19h  EUA X Nova Zelândia
22h França X Colômbia
Sábado - 6/8 
17h  Estados Unidos X França
20h  Colômbia X Nova Zelândia
Sexta-feira - 12/8
22h  Quartas de final
Terça-feira - 16/8
16 h - Semifinal
 
MASCULINO
Quarta-feira - 10/8
13h  Argélia X Portugal
16h Alemanha X Fiji
Sábado - 13/8
19h  Quartas de final
Sábado - 20/8
13h Disputa do Bronze
AMISTOSO DE VÔLEI
Terça-feira - 2/8
20h Sada Cruzeiro X Seleção da Polônia
Local  Poliesportivo do Riacho, em Contagem 
Ingressos  R$ 10. Vendas na Sede do Cruzeiro (r, Timbiras, 2903), dias 1º e 2 de agosto, de 9h às 17h, e Bilheterias do Riachão, em Contagem (Rua Rio Paraopeba, 1200), no dia 2 de agosto, de 9h até o início das partidas. 

 

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