A menos de uma semana da largada, as notícias sobre as Olimpíadas Rio 2016 não têm sido lá muito animadoras. Já na abertura da Vila Olímpica, no último domingo (24), a delegação da Austrália reprovou o alojamento destinado aos atletas do país devido ao problemas nas instalações elétrica e hidráulica. As equipes da Suécia e da Argentina fizeram reclamações semelhantes. Enquanto os reparos de emergência estão sendo feitos, uma pesquisa do Ibope divulgada na quarta (27) revelou que 60% dos brasileiros acreditam que os Jogos só trarão prejuízos à União. O pessimismo, conforme os dados, é maior do que na época da Copa do Mundo, em 2014, e até a inabalável tocha olímpica chegou a ser apagada durante um protesto em Angra dos Reis ( RJ), na quinta (28).
Mas, apesar do grande número de problemas e críticas envolvendo o evento, existe uma turma de belo-horizontinos que aguarda ansiosamente o início dos Jogos na próxima sexta (5), no estádio do Maracanã. São voluntários e torcedores que, nos bastidores e nas arquibancadas, estarão não só torcendo, mas agindo para que tudo ocorra dentro dos conformes.
Leonel Pequeno, 61, se considera um deles. Entre os milhares de voluntários que vão atuar durante os Jogos na capital, o engenheiro aposentado foi escalado para o apoio à imprensa e vai passar por seu primeiro treinamento técnico neste sábado (30). Já com o uniforme disponibilizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em mãos, ele se sente orgulhoso de mais uma vez contribuir com sua disposição de quem caminha 30 km toda manhã em um evento esportivo. Isso porque o aposentado já havia trabalhado como voluntário na Copa. “Ao longo da minha carreira, ocupei cargos de liderança. Na Copa, fui para servir. Trabalhei na garagem, organizando o destinos dos veículos. Esse que é o legal, você sai do seu lugar comum visando um objetivo maior”.
Adepto do “quanto mais ações voluntárias você faz, mais pega gosto”, Leonel compara a realização das Olimpíadas no Brasil à passagem do cometa Halley. Fazendo a ressalva da diferença (enorme) entre a periodicidade de um evento e de outro – as Olimpíadas acontecem de quatro em quatro anos, enquanto a órbita do astro é de 75 –, ele faz a analogia baseado na sensação de “oportunidade”. “Lembro a última vez que o cometa passou, todo mundo saiu de casa para ver. Para mim, os jogos são como o cometa porque a gente não sabe quando outro acontecimento tão grande quanto esse vai voltar a acontecer no país”, destaca o admirador do atleta jamaicano Usain Bolt.
Esporte e balada
Embora cogitasse a função de voluntária, Camena Machado, 36, preferiu curtir ao máximo os Jogos sem trabalhar. A profissional de educação física tirou todo o mês de agosto de férias só para poder viajar. Acompanhada de uma amiga, ela vai permanecer mais de 20 dias no Rio e assistir a oito competições, cada uma de uma modalidade. Handeball feminino, natação, basquete masculino, ginástica rítmica, artística, vôlei de praia e de quadra masculinos estão no roteiro. “Também queria ver o vôlei feminino, que está muito bem. Mas não consegui o ingresso, uma pena”, lamenta Camena, que revela ter gastado cerca de R$ 2.000 só em ingressos.
Mas, segundo a aficionada por esporte desde que se entende por gente, o dispêndio compensa. “Temo pela segurança, isso realmente tem me deixado ansiosa. Mas não quero deixar de aproveitar tudo que uma cidade em época de Olimpíadas tem a oferecer”. Escolhido pela localização, o apartamento alugado pelas mineiras através da plataforma Airbnb no Jardim Botânico está perto tanto da Casa da Jamaica, quanto da Casa da França. De acordo com o site oficial da Cidade Olímpica, cerca de 25 casas temáticas abertas ao público nas zonas Norte, Oeste e Sul do Rio vão oferecer programação cultural de várias nações durante todos os dias de jogos, além de receber comemorações das delegações. “Sei que o filho do Bob Marley vai se apresentar na casa jamaicana e um DJ famoso toca na francesa. Quero ver tudo!”.
Bruno Gregori, 36, também vai ao Rio com o mesmo clima de celebração. Isso porque, além de assistir a competições de atletismo, handeball e basquete, o representante comercial estará na Cidade Maravilhosa no Dia dos Pais. Junto do pai Ronald Gregori, 78, do irmão Fernando Gregori, 42, e do amigo Marcelo Castro, 43, ele desembarca no dia 12 de agosto e fica até o domingo (14). “Meu pai adora esportes e é louco por vôlei. Não conseguimos comprar ingressos para essa modalidade, mas levá-lo às Olimpíadas era uma forma de comemorar o dia dele juntos”, conta Bruno, acostumado a viajar para eventos esportivos.
Com os amigos já foi parar até no Marrocos para assistir in loco a disputa do Mundial de Clubes entre o Atlético e o Raja Casablanca. “Eu não sou muito otimista com relação ao legado das Olimpíadas. Acho que de legado esportivo sobra pouco, ficam mais são dívidas para serem pagas depois”, aponta o representante comercial, que, no entanto, não vai perder a oportunidade de incluir mais um grande evento na sua história. “Vou aproveitar e pegar uma praia, claro”.
Sorteio
Ainda estudante do sétimo ano, Christian Cavalcante, 12, também vai poder contar aos colegas que definitivamente fez parte de uma Olimpíada. O menino foi o único mineiro sorteado pela promoção “Pequenos Amigos, Grande Festa” realizada pela rede de fast food McDonald’s. Das 25 crianças agraciadas com seis dias pagos no Rio, só cinco vagas estavam reservadas para concorrentes de fora da capital fluminense. Christian e seu pai, Hildeglan Cavalcante de Farias, vão participar inclusive da tão disputada cerimônia de abertura. “Estava navegando pela internet quando vi que essa promoção ainda estava aberta, resolvi enviar a foto do meu filho. Nem me lembrava dela, quando chegou um telegrama lá em casa”, conta entusiasmada a mãe Marlene Farias, no que o filho completa. “É uma emoção muito grande para mim. Não sei nem se meus bisnetos vão ter uma chance como essa, de ter uma Olimpíada em casa”.