ARTES CÊNICAS

Todo o feminismo de Medeia 

Debora Lamm encarna Medeia em “Mata Teu Pai e dividirá o palco do Teatro Sesiminas nos dias 24 e 25 com um grupo de senhoras de 65 anos

Por Lara Alves (*)
Publicado em 17 de março de 2018 | 03:00
 
 
 
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A tragédia grega é clássica: uma mulher é expulsa da Grécia e mata os filhos para vingar-se do marido infiel. Escrita em 431 a.C., “Medeia” é uma das montagens mais encenadas ao longo dos séculos e, no último ano, ganhou uma livre adaptação pelas mãos da dramaturga Grace Passô. Dirigida por Inez Viana e encenada por Debora Lamm – seu primeiro solo em 20 anos de carreira –, a montagem “Mata Teu Pai”, da Cia OmondÉ, desembarca na capital mineira na próxima semana para duas apresentações (dias 24 e 25), no Teatro Sesiminas.

No calor das discussões feministas, a Medeia original ganhou novos contornos: de mulher traída e louca a dona de suas decisões em um mundo dominado pelos homens. Sob este viés, a Medeia de “Mata Teu Pai” tanto carrega a tragicidade do mito grego quanto levanta questões urgentes do mundo contemporâneo. 

“A nossa Medeia é a Medeia original. A Grace não mexeu em nenhum momento na história trágica: é uma estrangeira largada pelo marido e que comete alguns crimes. No entanto, a Grace traz de novo para ela o discurso feminino do agora, pega toda a luta do feminismo por direitos iguais e coloca na voz da Medeia o que aparece no discurso da mulher de hoje”, explica a atriz Debora Lamm.

Conhecida por seus trabalhos humorísticos no cinema e na TV Globo, entre eles esquetes no programa “Zorra”, Debora Lamm encarna o papel dramático para colocar em pauta discussões importantes. Em cena, Medeia está cansada de ser silenciada e ao lado de mulheres estrangeiras e expatriadas pode decidir pela condenação de seu marido traidor. 

Coro grego

Nas apresentações que aconteceram no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Curitiba, a atriz dividiu o palco com pequenos grupos de senhoras acima de 65 anos que entoavam falas e cantavam em determinados momentos da peça – como no coro grego presente na montagem original. “A ideia é integrar essas mulheres que já têm uma história, uma estrada”, explica Lamm. 

Todas as mulheres que se inscrevem são escolhidas para participar de uma oficina ministrada pela diretora Inez Viana para, posteriormente, se apresentarem. Em Belo Horizonte, o número recorde de inscrições surpreendeu a diretora. “Normalmente recebemos entre dez e quatorze inscrições e em BH foram 57 inscritas. Faremos uma montagem inédita porque nunca tivemos tantas mulheres e de alguma forma vou colocá-las no palco”, pontua Inez. 

As histórias das mulheres que participaram das oficinas emocionaram a diretora. “A maioria foi proibida pelo pai de entrar no teatro ou pelos maridos. É bonito ver como todas essas mulheres de alguma forma foram tolhidas em suas vidas, como a Medeia, e agora podem fazer o que desejam”, afirma Inez. 

A beleza desse encontro rendeu frutos: agora a produção da peça prepara um documentário sobre as senhoras de cada cidade que participaram das oficinas. 

Trilogia afiada

Se levar a história de Medeia com contornos tão urgentes quanto a situação da mulher contemporânea para os palcos já foi um sucesso neste quase um ano de estrada da montagem, Inez Viana e a Cia OmondÉ se preparam para uma nova empreitada. No próximo ano, a companhia deve estrear, ainda, um espetáculo de dança e uma ópera a partir de “Mata Teu Pai”.

“Mata Teu Pai” 

Teatro Sesiminas (r. Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Dias 24 (sábado), às 21h; e 25 (domingo), às 19h. R$ 30 (plateias 1 e 2, inteira). 

 

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