RENOVAÇÃO

Lideranças jovens têm poder de articulação e ascensão rápida

Nomes como o do senador mineiro Cleitinho cresceram e agregaram apoiadores no Estado

Por Marco Antonio Astoni
Publicado em 05 de maio de 2024 | 20:48
 
 
 
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A nova geração do cenário político mineiro, que vem ocupando espaços deixados pelo chamados “caciques” da política, aos poucos assume o protagonismo nos partidos e em cargos importantes de Belo Horizonte e Minas Gerais. Em geral, são personagens que há 10 ou 15 anos não ocupavam cargos eletivos, sendo que muitos nem sequer eram conhecidos do grande público.

O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), que venceu o atual secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro, nas eleições de 2022, consolida-se como uma jovem liderança mineira. Ele teve ascensão meteórica na política. Até 2015, trabalhava no comércio da família, no bairro Niterói, em Divinópolis (região Centro-Oeste de Minas), e era integrante de um grupo de pagode.

Em 2016, foi eleito vereador da cidade, após ganhar fama nas redes sociais com vídeos criticando o então prefeito Vladimir Azevedo (PSDB). Apenas seis anos depois, em 2022, tornou-se senador da República, com 4.268.193 votos. Antes, em 2018, havia conquistado uma cadeira na Assembleia Legislativa. O nome do senador Cleitinho está cotado para concorrer ao governo de Minas Gerais em 2026.

Outro típico exemplo desse novo perfil de político é o secretário de Estado Marcelo Aro. Com 25 anos, em 2012, ele foi eleito vereador de Belo Horizonte. Na ocasião, foi o quinto mais votado da cidade, com 9.412 votos. Dois anos mais tarde, ele se elegeu deputado federal, com 87.113 votos, e repetiu a dose, em 2018, com 107.219 votos.

Em 2022, Aro tentou um voo mais alto, mas não foi bem-sucedido. Tentou uma vaga no Senado Federal, mas terminou na terceira colocação. Ele ficou atrás do senador Cleitinho e Alexandre Silveira (PSD), hoje ministro de Minas e Energia.

Considerado bom articulador nos bastidores, Marcelo Aro também destacou que dois grandes grupos políticos, formados por integrantes do PT e do PSDB, perdeu espaço nos últimos anos. “Eu acredito que Minas Gerais passou por uma grande reciclagem dos seus quadros políticos. Nós tínhamos alguns anos atrás dois grupos políticos no Estados, e esses dois grupos perderam muita força nos últimos anos. Como a política não permite espaço vazio, outras pessoas ocuparam esses espaços e se tornaram essas novas lideranças”, analisa o secretário de Estado.

Popularidade ajuda, mas não garante transferência de votos

As novas lideranças mineiras podem ter papel importante nas eleições municipais em Minas Gerais. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e os senadores Cleitinho Azevedo (Republicanos) e Rodrigo Pacheco (PSD), por exemplo, que não serão candidatos neste ano, podem influenciar e puxar votos para seus aliados.

Cleitinho vai trabalhar para a reeleição do irmão Gleidson Azevedo (Novo) na Prefeitura de Divinópolis (Centro-Oeste de Minas). Já Nikolas Ferreira deverá atuar na campanha do deputado estadual Bruno Engler (PL) para a Prefeitura de Belo Horizonte.

O mais distante das pré-campanhas municipais, pelo menos até o momento, é o senador Rodrigo Pacheco, que tende a apoiar a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD) na capital mineira, por serem do mesmo partido. Pacheco, no entanto, ainda não se manifestou abertamente sobre o tema.

Essa transferência de votos baseada em liderança e popularidade, porém, nem sempre é garantida. Segundo o advogado especialista em direito eleitoral e analista político Luís Gustavo Riani, a questão é complicada no Brasil, com pouquíssimas exceções. “Eu acho que a chance disso (transferir votos) é muito pequena. Transferência de voto é uma coisa muito complicada no Brasil. Acho que só tem duas pessoas com capacidade de fazer isso, e se chamam Lula e Bolsonaro. Então, eu não acho que essas novas lideranças têm potencial para puxar voto para outros candidatos”, avalia.


Para Camilo Aggio, professor e pesquisador da UFMG e PhD em comunicação e cultura contemporâneas, um nome como o de Nikolas Ferreira pode fazer mais diferença em eleições proporcionais do que majoritárias.

“Um cara como Nikolas é muito bom em puxar votos, mas na perspectiva proporcional. Quando tem muito voto para uma legenda e acaba arrastando outros (candidatos). Eu não sei exatamente o quanto ele consegue transferir dos votos que ele recebeu como deputado para um candidato a prefeito”, pondera Aggio

Presidente da Câmara se impõe contra Fuad

O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (MDB), é mais um exemplo claro da nova geração de políticos mineiros. Eleito vereador da capital pela primeira vez em 2016, com 10.185 votos, e reeleito em 2020, com 13.088 votos, ganhou protagonismo ao vencer a eleição para a presidência da Casa numa disputa repleta de controvérsias. Com isso, fortaleceu seu nome para se tornar pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte.

Gabriel se tornou o principal antagonista do prefeito Fuad Noman e um dos maiores críticos da administração municipal. Tanto que, mesmo ao falar de seu papel como jovem líder da cidade, ele aproveita para cutucar o rival Fuad.

“As lideranças surgem na política ao proporem soluções mais inovadoras na vida cotidiana. Se há na sociedade o reconhecimento dessas iniciativas, cria-se um elo. Belo Horizonte, por exemplo, se tornou uma cidade que clama por inovação. Uma cidade com todo o potencial para ser um lugar muito melhor. Todavia, não é, pois não possui prefeito com perfil inovador. Ele é antiquado e governa olhando para o passado, e não para o futuro”, diz Gabriel.

Para ele, “fazer uma gestão para atender apenas aliados, e não o cidadão, não é ser líder”. “Tampouco é inovar”, reforça o presidente da Câmara.

 

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