Marco Antônio Felício

Quem cala consente e vira conivente

Oposição e ameaças à estabilidade do governo Bolsonaro


Publicado em 20 de outubro de 2019 | 02:00
 
 
 
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Nem mesmo o mais medíocre dos indivíduos poderá negar que o Brasil jamais enfrentou tão desastrosa situação de cunho moral, ético e cívico como a atual. Apesar das mudanças já iniciadas pelo governo recém-eleito e da tentativa de pôr em prática nova política, voltada para a satisfação dos interesses nacionais, as metástases do agressivo câncer – em parte extirpado – permanecem ativas.

Antes da posse de Jair Bolsonaro – para quem fiz campanha e em quem votei por achá-lo o melhor dentre os candidatos –, publiquei um artigo em que abordava as duras dificuldades que, eu tinha certeza, ele encontraria para governar. Defrontar-se-ia com forte e desleal oposição – a ele e ao Brasil –, apoiado pela fraca experiência da bancada do seu partido. Outra certeza era a oposição odiosa da imprensa e, principalmente, da Rede Globo. Também citava os aliados que o cercaram, raposas políticas antigas e não confiáveis, como Gustavo Bebianno e Luciano Bivar – cúpula do PSL de então. E a presença cerrada e opinativa de um chamado “guru político”, íntimo dos filhos do presidente – também recém-eleitos –, criando seguidamente conflitos desgastantes para o governo, como ataques a ministros e a militares de alta capacidade.

Ratifiquei o texto citado quando vi Bolsonaro entrar no Congresso, no qual estavam vários deputados e senadores denunciados por corrupção e numerosa oposição de esquerda, acenando um exemplar da Constituição – lei inadequada à governança de uma nação abalada e dividida. Assumiu um país destruído, necessitado de limpeza geral e de inúmeras reformas, quase todas impopulares (adjetivo que afasta das mudanças os que dependem de proteção do foro privilegiado e arrepia os que dependem de votos para futuros mandatos e benesses).

Enfrentando a prioritária reforma da Previdência, tornou-se o presidente refém dos líderes da Câmara e do Senado e foi acusado de inepto e desinteressado pelas dificuldades de aprovação. A eles foi atribuído protagonismo e prestígio político.

Como estadista e presidente de todos os brasileiros, Bolsonaro recebeu críticas pesadas perante a opinião pública por indicar filhos para cargos ou funções relevantes, como a indicação para a embaixada norte-americana. Acusações de ter se tornado refém do ministro Dias Toffoli para proteger o senador Bolsonaro denigrem sua imagem de presidente.

Está Bolsonaro enfrentando a oposição de um STF aparelhado que se opõe às duras conquistas da operação Lava Jato, solta bandidos comprovados em nome de firulas jurídicas inaceitáveis e se volta contra juízes e procuradores, baseado em textos ilegalmente obtidos e alterados. Tais textos – já de conhecimento da Polícia Federal – editados e adaptados para produzir ilegalidades de juízes e procuradores que foram acusados pelo ministro Gilmar Mendes de condutas ilegais, agora negadas pela “Folha de S. Paulo” – que, antes, os acusava das mesmas ilegalidades.

O Estado, dito democrático de direito, o governo, pretensamente republicano, e suas instituições estão em desarmonia, ainda aparelhados e permeados por corrupção, contrariando os princípios fundamentais que os norteiam.

A maioria dos cidadãos não se sente representada pelos políticos que elegeu e não confia no Poder Judiciário, politizado, no qual juízes batem cabeça e se ofendem publicamente. O Legislativo em protagonismo e oposição deliberada descaracteriza e/ou veta projetos de lei do Executivo ou, ainda, apresenta projetos similares priorizando oposição e desarmonia. Fatos como a implosão do PSL, eivada de trocas de acusações e palavras chulas envolvendo diretamente o presidente, comandante em chefe das Forças Armadas, que foi chamado de “vagabundo”, é coisa inaceitável.

Sem dúvida, não temos um regime democrático e republicano se a harmonia, a legitimidade, a isenção, a estabilidade e a legalidade estão sendo ousadamente atingidas e banalizadas. Cabe ao presidente, chefe do Poder Executivo, alertar a nação de que as Forças Armadas podem e devem, até mesmo pela força, impor o respeito à autoridade máxima da nação.

Há que soerguer o país sem uma oposição pela oposição, venha de onde vier. Interessante ressaltar que “a audácia dos maus se alimenta da leniência dos bons”.

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