Reginaldo Lopes

Atingido pela geada, setor cafeeiro precisa de apoio

Renegociação de prazos de financiamento e auxílio subsidiado


Publicado em 03 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
 
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Quando era criança na roça e ouvia a palavra “geada”, invariavelmente ela vinha seguida de um lamento. Depois viravam números do prejuízo que ela levava para as lavouras, principalmente de café. Desde lá, já sei que as quedas bruscas de temperatura são extremamente nocivas às plantações.

O frio que tem castigado nosso Estado nos últimos dias provocou geadas que deixaram grandes estragos na produção agrícola. Ainda é precipitado fazer um cálculo das perdas, pois ainda devem vir outras frentes frias, mas especialistas analisam que não acontecia um fenômeno tão rigoroso desde 1994, último grande evento climático congelante para os cafezais do Brasil.

Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão de MG (Emater), o Sul de Minas foi a região mais atingida, com 77,8% de todos os municípios afetados, seguido pelo Triângulo/Alto Paranaíba, que representou 21% das lavouras prejudicadas, totalizando em torno de 173,6 mil hectares atingidos. Pelo menos 4.700 cafeicultores foram impactados só no Sul mineiro.

A geada ocorre em frequência variada de acordo com a latitude, a altitude e acorografia do ambiente de cultivo. Acontece quando a temperatura é menor que 2°C no abrigo e de -2°C a -3°C na relva. Na semana passada, as temperaturas chegaram a -2,4°C, o que é letal para o setor cafeeiro.

Os prejuízos das geadas chegaram quando os produtores do café mineiro se preparavam para uma safra histórica em 2022, com crescimento no mínimo de 10% em relação ao período anterior. Os resultados estavam num crescente, e o Estado exportou 19% a mais em volume no acumulado até junho, diante do mesmo período do ano passado. As remessas do grão ao mercado externo somaram 895 mil toneladas, com 34,6 milhões de sacas, o que representa 39% da pauta de exportações do agronegócio do Estado, gerando US$ 2,24 bilhões em receita.

O Brasil é o maior exportador de café do mundo. Mais da metade do que produz sai de Minas Gerais, que sozinha garante 20% do consumo mundial. Com tamanha importância, a crise trazida pelas geadas atinge em cheio a nossa economia. Presente em cerca de 460 municípios, estima-se que a cadeia produtiva do café gere 3 milhões de empregos diretos e indiretos no Estado. Por isso, é urgente que o setor seja atendido de forma a mitigar as perdas.

Mesmo sem possibilidade de mensurar ainda a quantidade de café perdido para 2022, o que já é concreto é que a recuperação da capacidade produtiva brasileira nas regiões afetadas pela geada terá início somente a partir de 2024 e deve se estabilizar em 2025 ou 2026.

O momento é de união de todos. Uma força-tarefa tem que ser organizada com participação de governos, cooperativas de produtores, empresas públicas e parlamentares. Em primeiro lugar, é imprescindível a renegociação dos prazos para pagamento de financiamentos e apoio financeiro subsidiado, além do apoio técnico para recuperação das lavouras e replantio nas áreas atingidas. Uma política de auxílio ao setor cafeeiro que dure no mínimo três anos, período em que as consequências das geadas devem perdurar.

Para liderar a produção mundial, a cafeicultura brasileira aprendeu a enfrentar as crises biológicas, climáticas, financeiras e sociopolíticas, transformando-se nessa potência agrícola. Agora, precisamos juntar forças com resiliência, inteligência e efetivo apoio público para enfrentar o momento de grande dificuldade.

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