Desde o dia 7 de setembro, o país esteve envolvido no debate sobre os ataques de Bolsonaro às instituições, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF). A verborragia autoritária expressa pelo presidente nas manifestações antidemocráticas, seguida de sua assinatura na carta de recuo escrita por Michel Temer, repercutiu até no sobe e desce da Bolsa de Valores.
Defender a democracia é um compromisso de qualquer mandatário, que, ao assumir o governo, faz seu juramento em respeito à Constituição. Mas, desde o início da sua gestão, o presidente foi o principal fator de instabilidade. A grave crise econômica que o país atravessa é consequência do que o economista Delfim Netto classificou como “tempestade perfeita”, que juntou o atual governo, a pandemia e o aquecimento global.
O Brasil entra em um perigoso e inusitado cenário de estagflação. Mesmo passando por uma recessão, com crescente taxa de desemprego, de forma simultânea o país vive uma contínua elevação nos preços. Em agosto, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou a maior taxa (0,87%) em 21 anos. Com isso, encostou em dois dígitos no acumulado de 12 meses (9,68%).
Em grande medida, a situação inflacionária decorre da liberalização pelo governo dos chamados “macropreços”, com significativos aumentos nos combustíveis, no gás de cozinha e na energia. Ela incide principalmente no preço dos alimentos, que é 3,1 vezes superior à inflação. A combinação com a queda de 6,5% na massa dos rendimentos em 2020 fez com que a maioria dos brasileiros (55,2% dos domicílios) enfrentasse algum grau de insegurança alimentar e cerca de 19 milhões de brasileiros passassem fome, contingente equivalente a duas vezes mais que o registrado em 2009.
Por suas potencialidades, o Brasil pode se recuperar, mas depende de uma mudança no rumo político, só possível com o impedimento do presidente ou sua derrota em 2022. Tirar Bolsonaro não basta, é necessária uma mudança na concepção do papel do Estado. O país carece de um plano de reestruturação com forte investimento tecnológico, industrial e em infraestrutura.
É urgente o país adaptar-se às exigências do século XXI. Desenvolver sua economia digital, que é resultado do progresso tecnológico, da inteligência artificial, da robotização e da tecnologia de informação. Porém, essas áreas dependem diretamente de investimentos em ciência e tecnologia, um dos setores mais afetados pelo atual governo, que é nocivo também a outra oportunidade que o Brasil tem de se desenvolver: a economia verde. Mas ela depende essencialmente de uma transição ecológica, e vivenciamos o maior retrocesso na preservação ambiental, com os biomas nacionais sendo destruídos, especialmente a Amazônia.
Enquanto outros países avançam, o Brasil regressa aos tempos medievais. O resultado pode ser medido pela nossa posição no cenário mundial. Em tempos de governo Lula, chegamos a figurar como a sexta economia do globo. Recentemente, caímos para 13º lugar, o que mostra que os males causados por Bolsonaro vão muito além da democracia.